Confira alguns acidentes envolvendo ônibus na capital nos últimos dois anos| Foto:

Perícia

Ligeirinho: laudo sai na semana que vem

Aline Peres

O laudo da perícia do Instituto de Criminalística feita no ônibus que causou um grave acidente na Praça Tiradentes, no dia 10 de junho, deverá ser divulgado na próxima semana. Somente com os resultados, a Delegacia de Delitos de Trânsito (Dedetran) poderá concluir o inquérito. Segundo a assessoria de imprensa da Secretaria de Segurança Pública do Paraná, a demora de quase três meses se deu pela burocracia em analisar alguns componentes eletrônicos do ônibus, que precisaram de autorização da empresa fabricante.

O acidente com um ligeirinho da linha Colombo/CIC deixou 32 feridos e dois mortos. O problema ocorreu logo após o ônibus deixar a estação-tubo na praça. O motorista José Aparecido Alves, 49 anos, perdeu o controle do veículo, conforme testemunhos de passageiros. O ônibus atingiu um táxi que estava parado, furou o sinal vermelho, arrastou um carro Peugeot, invadiu a calçada, derrubou o ponto de ônibus e entrou na loja Pernambucanas.

Alves, que chegou a ser detido no dia do acidente, está afastado do trabalho pelo INSS. José Carlos, irmão dele, diz que o motorista precisou mudar para uma chácara a fim de tentar superar o trauma. "Não dava mais para ele ficar em casa. O pessoal do bairro ficou muito curioso e ninguém dava descanso. Meu irmão quer esquecer do que aconteceu", afirmou. De acordo com José Carlos, Alves decidiu não dar mais declarações à imprensa.

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Psicologia

Estresse compromete rendimento

Embora as causas do acidente ainda não estejam claras, uma psicóloga especialista em trânsito aponta que o estresse vivenciado pelos motoristas de ônibus diariamente compromete o rendimento deles no trabalho. Ela prefere não se identificar pelo fato de atender os profissionais em seu consultório. A especialista ressalta que, além do trânsito caótico e da pressão feita pelas empresas para o cumprimento de horário, o perfil comportamental do motorista agrava ainda mais a situação. "Geralmente eles são muito comprometidos com o trabalho, não querem trazer problemas para a empresa e não procuram ajuda médica", afirma.

Ela diz que a queixa mais comum entre os motoristas que atende é a insônia. "Noites maldormidas provocam ainda mais cansaço mental e físico. O trabalho que exige alta concentração fica comprometido", ressalta. Dados de 2007 mostram que pelo menos 880 trabalhadores filiados ao Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Curitiba (Sindimoc) estavam de licença médica por causa de distúrbios psicológicos ou psiquiátricos. Não há números atualizados sobre este tipo de afastamento.

Segundo testemunhas, o ônibus teria se perdido em uma curva e
Entenda o acidente
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Um acidente de ônibus feriu 12 pessoas e voltou a colocar em dúvida a segurança do transporte coletivo de Curitiba, quase três meses após a batida de um ligeirinho que matou duas pessoas na Praça Tiradentes, no centro da capital. Por volta do meio-dia de ontem, um biarticulado da linha Centenário-Campo Comprido com 180 passageiros, que ia no sentido bairro-centro, perdeu o controle em uma curva, quando se aproximava da estação-tubo São Grato, e atingiu cinco veículos estacionados na Rua Deputado Heitor Alencar Fur­­tado, no bairro Mossunguê. Segundo testemunhas, o ônibus estava em alta velocidade.O Batalhão de Polícia de Trânsito (Bptran) afirmou que o condutor se perdeu ao frear o veículo. A parte de trás do biarticulado, com a parada brusca, teria "chicoteado" os carros que estavam parados na rua. Doze pessoas que estavam dentro do veículo sofreram ferimentos, segundo o Corpo de Bombeiros, mas nenhuma com gravidade. Entre eles, o motorista Edson José Cruz, 29 anos, que trabalha para a Viação Cidade Sorriso. Ele foi encaminhado ao Hospital Cajuru. Cruz não quis conceder entrevista. O Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Curitiba (Sindimoc), informou que uma equipe foi encaminhada ao hospital para dar assistência psicológica à família e ao motorista.

Duas pessoas recusaram atendimento hospitalar e outras dez foram encaminhadas aos hospitais Evangélico, Cajuru e Trabalhador. As assessorias de imprensa informaram que os pacientes foram liberados durante a tarde, com exceção do motorista e da passageira Anadir Linhar Kafer, 55 anos, que ficaram sob observação.

"Zigue-zague"

O ônibus ficou bastante danificado e com janelas destruídas na parte traseira. Havia sangue dentro do veículo e na calçada. Os passageiros do ônibus informaram que, desde a saída do Terminal Campo Comprido, o biarticulado estava em alta velocidade e fazia "zigue-zague" pela canaleta. Ninguém soube dizer o que motivou a colisão.

Com o impacto da batida, o passageiro Lucas Coelho Zanetti, 17 anos, quebrou um vidro do ônibus com o braço. "Nós balançamos o trajeto inteiro. Perdi o equilíbrio em todas as curvas. Estava morrendo de medo. Pensei até em sair do ônibus." Zanetti levou 23 pontos no braço e um na orelha.

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Segundo a atendente de telemarketing Andressa Caroline Correia de Souza, que também estava no ônibus, mas não ficou ferida, muitas pessoas "cambaleavam" toda vez que o motorista parava em alguma estação-tubo. O cobrador Moacir Vieira confirma que o biarticulado passou "de raspão" pela estação São Grato. "Ouvi um barulho forte da batida nos carros e só deu tempo de ver ele passando e freando."

Segundo Andressa, o motorista estava passando mal no momento em que perdeu o controle e outras pessoas que estavam no ônibus, como a estudante Heloíse Andreassa, viram que, ao longo do trajeto, Cruz não parecia bem. O designer Raphael Nascimento Barbosa, dono de um carro danificado, escapou por pouco do acidente. "Só vimos o ônibus vindo bastante rápido e escutamos um barulho forte do freio. Se eu tivesse saído alguns minutos antes, estaria dentro do carro."