A massagista Alma Frida Kosowski, 63 anos, entra no ônibus de excursão sozinha, munida de protetor solar e de óculos escuros. Ao final do passeio, já é amiga de todos e aguarda ansiosa por um novo momento com os companheiros de viagem. Alma costumava viajar muito, mas, com o falecimento do marido há três anos, sua rotina mudou. "Agora não tenho mais condições financeiras para estar na estrada o tanto que gostaria. Se pudesse, passaria dos 80 viajando. Esse seria meu desejo à lampadazinha mágica", brinca.
Alma faz parte dos 56% de idosos brasileiros que só não viajam mais pela falta de dinheiro. O número foi divulgado em pesquisa feita pelo Núcleo de Opinião Pública da Fundação Perseu Abramo, em 2006, que ouviu 3,7 mil pessoas. Entre os idosos, 21% têm o sonho de viajar e 51% afirmam ter encontrado mais possibilidades de lazer após os 60 anos.
A população idosa do país aumentou 48% nos últimos dez anos, segundo dados do IBGE. São 20 milhões de pessoas com mais de 60 anos 10,5% da população total. Assim como o número de velhinhos cresce, aumenta também a procura por opções de lazer e viagens. Segundo dados do programa Viaja Mais Melhor Idade, do Ministério do Turismo, a busca por pacotes de viagens pela terceira idade já excedeu o triplo da projeção para o ano de 2008. Foram 150 mil pacotes vendidos e a tendência é crescer ainda mais. Pelo programa, são 37 cidades de destino e 1,9 mil agências que oferecem cerca de 760 pacotes diferenciados. Além da comercialização dos pacotes, o programa disponibiliza linha de crédito consignado à terceira idade.
Leonir José Vicenzi, diretor do Sesc Turismo Social, está há 28 anos no setor e conta que a terceira idade sabe o que procura. "A programação que mais agrada é aquela que oferece atividades socio-recreativas. Bailinhos não podem faltar. Boa alimentação, hotéis confortáveis e com fácil acesso também são os preferidos", conta. Entretanto, de acordo com Vicenzi, mais do que conhecer novos lugares, eles desejam fazer amigos e se relacionar.
O advogado aposentado João Antônio Cezimbra, 72 anos que tem no currículo 27 viagens nacionais, cinco internacionais e 31 passeios mais curtos diz que, apesar de já ter viajado várias vezes sozinho, hoje prefere as excursões. "Eu sou um pouco comodista, mas quando se está em um grupo, não dá para ficar com preguiça no quarto e perder os passeios", justifica. A companhia de outras pessoas também é um atrativo das excursões: "Já arrumei muita namorada por aí".
Dificuldades
A fiscal da previdência aposentada Neusa Nogueira, 81 anos, é divorciada e há vários anos viaja com grupos de terceira idade. "Sempre faço novos amigos, porque agora o grupo não é mais o mesmo de anos atrás. Uma fica doente, outra acaba falecendo", lamenta.
Ucrânia, Estados Unidos, Portugal e Cracóvia são alguns dos países visitados por Neusa. Mas ela diz que a idade não a deixa aproveitar tudo o que gostaria. "Nunca tive 81 anos e as coisas ficam um pouco mais complicadas. Algumas atividades eu faço, outras não." Apesar dos cuidados e da maletinha de remédios estar sempre por perto, ela conta que nem tudo é fácil nas viagens. "Eu já fiz passeios que depois me deixaram com dor no corpo inteiro", relata.
Apesar do corpo não estar mais no auge de sua boa forma, os idosos não precisam deixar de sair de casa. O médico geriatra Paulo Luiz Honaiser, plantonista do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná, diz que, para aproveitar os passeios, basta tomar cuidado e respeitar os seus próprios limites. É importante também tentar manter os mesmo hábitos: dormir quando e o quanto se está acostumado e se alimentar bem. Mesmo com o físico mais comprometido, os benefícios psicológicos compensam. "Muitas vezes uma viagem pode trazer de volta à pessoa uma alegria que ela não mais conhecia, fazer com que se sinta viva e valorizada", afirma. Ele conta que atendeu uma paciente que sentia muita dor e era presença constante em seu consultório. Hoje ela está bem, e o que resolveu seu problema não foi nenhum tratamento médico. "O filho pagou a ela uma viagem à Bahia e na volta todas as dores tinham desaparecido."