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Revolta da tarifa

Manifestações pelo país podem ter provocado prejuízos de R$ 700 mi

Serviço de Limpeza Urbana, com a ajuda de manifestantes, teve trabalho para limpar o rescaldo dos protestos de quinta-feira | Antonio Cruz/ Agência Brasil
Serviço de Limpeza Urbana, com a ajuda de manifestantes, teve trabalho para limpar o rescaldo dos protestos de quinta-feira (Foto: Antonio Cruz/ Agência Brasil)

As manifestações que ocorreram na quinta-feira em dezenas de cidades podem ter causado prejuízos de R$ 700 milhões ao setor do comércio no país, segundo estimativa do professor de varejo da Fundação Getulio Vargas, Daniel Plá. O economista disse que o cálculo considera o encerramento antecipado das lojas e do expediente dos trabalhadores, o que acaba refletindo sobre o consumo.

O economista avaliou que os números estimados são bem conservadores, porque não incluem as perdas causadas pelas depredações feitas em estabelecimentos comerciais.

Somente no Rio de Janeiro, as perdas são estimadas por Daniel Plá em mais de R$ 100 milhões. A região mais afetada no município foi o centro, que teve queda de 50% do faturamento previsto em um dia normal. "Os shopping centers ficaram vazios ontem à tarde", disse o professor. "As pessoas deixaram de ir às compras, em função até do inconsciente coletivo afetado".

Para o economista, o movimento anunciado levou muitas pessoas a evitar sair ou a regressar para casa mais cedo. "Isso afeta o comércio como um todo. É uma verdadeira catástrofe", avaliou. Ele salientou que, apesar dessas perdas, "ninguém fala da questão econômica" que essas manifestações provocam.

Na região da Sociedade de Amigos das Adjacências da Rua da Alfândega (Saara), no centro do Rio de Janeiro, considerada o maior shopping a céu aberto do estado, as lojas que vendem mercadorias com as cores da bandeira brasileira, como máscaras, cornetas, chapéus, por exemplo, conseguiram vender seus estoques.

Porto Alegre

As depredações feitas por participantes das duas manifestações pela redução das tarifas do transporte urbano, na segunda-feira, 17, e na quinta-feira, 20, deixaram prejuízos de pelo menos R$ 1,4 milhão para Porto Alegre, incluindo comerciantes. A prefeitura calcula que terá de gastar R$ 830 mil para repor ou restaurar 102 contêineres de lixo destruídos ou danificados, um ônibus incendiado e semáforos e placas de trânsito quebradas.

O Sindicato dos Lojistas estima que os pelo menos 25 estabelecimentos comerciais depredados, com alguns deles saqueados, tiveram perdas de R$ 600 mil, além daquelas decorrentes da suspensão temporária de vendas durante o período de reparos.

Manifestantes limpam a Esplanada

Folhapress

A convocação para a manhã de ontem no Facebook não teve a mesma força que o ato que reuniu, segundo cálculo atualizado da Polícia Militar, 40 mil pessoas protestando em frente do Congresso, na quinta-feira. Ainda assim, manifestantes compareceram para ajudar a limpar a Esplanada dos Ministérios, que assistiu a cenas de vandalismo.

Luan de Abreu, 21 anos, diz estar disposto a não deixar sujar o nome do movimento. "Devido a baderna, a gente achou que era nosso dever fazer isso. Já é um saco a menos de lixo na rua", disse. A operação limpeza começou a ser convocada à 1 hora, depois que o protesto descambou para uma batalha entre manifestantes e policiais. Ministérios, o Banco Central e a Catedral de Brasília viraram alvos dos mais radicais, que atiraram pedras, picharam e incendiaram cones e tendas.

O Serviço de Limpeza Urbana do DF retirou cerca de quatro toneladas de lixo da Esplanada. Um dos responsáveis pela limpeza do gramado era o gari Paulo César Lima, 32, que apoia o movimento. "Até a sujeira é válida. Tem que fazer barulho e até algumas coisinhas a mais para os políticos tomarem vergonha e pararem de roubar", afirma, apoiado na vassoura.

Atendendo à convocação das redes sociais, Carolina Gonçalves, 26 anos, também participou da operação limpeza. Além da destruição, ela está preocupada com os rumos do movimento que na quinta reuniu mais de 1 milhão de pessoas em 100 cidades. "Começou muito bonito, mas terminou com bagunça. Muita gente está aqui sem entender direito, sem saber o que quer defender. Falta unidade e organização. São várias lutas diferentes, cada um quer defender a sua", lamentou.

Ela e a amiga Ana Beatriz, 19, abandonaram a manifestação depois que um grupo tentou invadir o Itamaraty, quebrando vidraças, jogando bombas e cones contra o prédio. "O protesto começou muito bem, mas perdeu o foco com a galera incendiando as coisas", disse.

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