Rio de Janeiro - Cerca de 300 pessoas participaram na manhã de ontem de uma passeata pela orla de Copacabana até o Leblon, no Rio de Janeiro, pedindo a permanência no Brasil do menino Sean, de 8 anos, que vem sendo alvo de uma disputa judicial entre o seu pai biológico e o padrasto. O garoto vive no Rio com o padrasto, o advogado João Paulo Lins e Silva, depois da morte da mãe, a brasileira Bruna Bianchi. O pai biológico do menino, o americano David Goldman, argumenta que o filho foi sequestrado. O ato começou em frente do Hotel Marriot, onde Goldman costuma se hospedar.
"Esperamos que a nossa Justiça proteja uma criança brasileira. Vamos provar que o Brasil é soberano. Minha irmã deve estar no céu torcendo por nós", disse Luca Bianchi, irmão de Bruna. Uma das faixas criticava a Advocacia-Geral da União com a frase "A.G.U. quer expulsar criança brasileira". A pedido da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, a AGU move uma ação na 16ª Vara Federal do Rio pedindo a restituição da criança ao pai.
Após constatarem que o norte-americano não estava mais no hotel (ele havia chegado ao Brasil na quinta-feira, para fazer exames pedidos pela Justiça brasileira), os manifestantes resolveram caminhar pela orla. O pai adotivo não foi ao ato. Ele foi representado pelo pai, Paulo Lins e Silva, que não deu declarações.
Goldman tenta recuperar a guarda o filho desde 2004, quando Bruna viajou para o Rio e não voltou aos Estados Unidos. Em agosto do ano passado, ela morreu durante o nascimento da primeira filha com o novo marido. O caso foi tema nos programas Larry King Live e NBC Today Show, onde a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, defendeu que a guarda do garoto seja do pai.
Justiça
Em visita aos Estados Unidos ontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que a luta pela guarda de Sean será decidida pelos tribunais do Brasil. Ele confirmou que o caso foi tratado durante o encontro com o presidente norte-americano, Barack Obama, na Casa Branca. "O problema da criança está no sistema judicial (brasileiro), disse Lula.
A OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) divulgou ontem uma nota em que critica os procedimentos adotados pelos Estados Unidos no caso. Para o presidente do Conselho Federal da Ordem, Cezar Britto, os métodos utilizados pelas autoridades americanas são "ofensivos e atentatórios à soberania do Estado brasileiro". "Não se estabelece a legitimidade de uma causa, seja qual for, depreciando-se o Poder Judiciário do país onde tramita sobretudo quando esse país observa os fundamentos do Estado democrático de Direito", afirmou. "Tanto a pressão do governo norte-americano quanto a da mídia daquele país em relação ao assunto partem do pressuposto de que o Judiciário brasileiro não cumpre adequadamente suas funções."