Paredes descascadas ou manchadas de fungo e mofo, grades e portões oxidados, terra onde antes havia um vasto gramado e todo o tipo de entulho ocupando o espaço que já foi provavelmente de possantes e luxuosos automóveis. É esse o cenário atual de alguns casarões do Jardim América, bairro de classe alta da zona oeste de São Paulo, à venda há anos. O antes pomposo e “nobre” hoje foi engolido pelo descuido e as ações da natureza e da física. Mas não é só a degradação o motivo do encalhe dos imóveis. O preço alto do IPTU, as partilhas familiares, o tombamento ambiental da região e o aumento de veículos trafegando por ruas do bairro também são entraves.
Os palacetes degradados, em sua maioria, são casos de herança, segundo alguns corretores imobiliários ouvidos pela reportagem (que não conseguiu contato com os proprietários). Como os donos pedem valores maiores do que a média de preço do metro quadrado praticada na região, os imóveis encalham. O custo de reforma é muito caro e a demolição precisa de autorização tanto da prefeitura quanto do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural do Estado (Condephaat), uma vez que o bairro do Jardim América é tombado pelo patrimônio histórico estadual desde 1986. O tombamento, ambiental (árvores e vegetação devem ser preservadas), também não permite remembramento e desdobramento de lotes sem autorização do Condephaat.
No Jardim América, quanto mais tranquila e menos movimentada a rua, mais valorizada. Os imóveis à venda em vias com maior fluxo de automóveis têm valor menor.
“Se não houver flexibilização (no preço), não vende hoje”, disse uma corretora.
O valor de mercado praticado hoje na região é de R$ 8 mil a R$ 9 mil, o metro quadrado. Mas há proprietários desses casarões pedindo de R$ 11 mil a R$ 13 mil, o metro. Em caso de reforma, reaproveitando as paredes e estrutura, por exemplo, o morador vai gastar no metro quadrado em torno de R$ 12 mil até R$ 15 mil.
“Se o comprador for querer só aproveitar o terreno, terá de demolir o casarão, mas precisa de autorização do Condephaar. E desembolsar mais, de R$ 12 mil a R$ 20 mil, o metro quadrado, que é o que cobram os grandes escritórios de arquitetura”. complementou a corretora.
Além disso, os interessados em desembolsar pequenas fortunas nos imóveis devem arcar com valores de IPTU anuais na ordem de R$ 60 mil, R$ 70 mil, R$ 80 mil. Em alguns dos palacetes, as dívidas do proprietário com a prefeitura também são decisivas nas negociações.
Primeiro bairro no conceito cidade-jardim de São Paulo, o Jardim América (e também outras regiões dos Jardins, como Jardim Europa, Jardim Paulista e Jardim Paulistano), foi idealizado pela Companhia City, responsável pela urbanização de bairros em algumas regiões da cidade (como Pacaembu, Alto da Lapa e Jardim Europa), na década de 1910. Com projeto do urbanista inglês Barry Parker, o intuito era trazer a natureza próxima dos moradores e privilegiar também o pedestre, com calçadas largas e ruas arborizadas. Anúncios publicados em jornais em meados da década de 1930 apresentavam o Jardim América como “o bairro cujo futuro já está aqui” e alertavam os moradores que a gaiola naquela região era desnecessária para os que gostam de ouvir o canto dos pássaros.
Os primeiros moradores eram grandes famílias abastadas. Com a morte dos patriarcas, os imóveis - dos mais variados estilos: clássicos, neocoloniais etc. - foram objeto de heranças e disputas familiares. Como a maioria dos herdeiros de imóveis abandonados hoje moram em outras regiões da cidade, os casarões atualmente degradados foram deixados em segundo plano. Contudo, de acordo com corretores, os moradores pedem um preço alto pela venda, similar ao negociado, por exemplo, no vizinho Jardim Europa.
- O mercado vai atrás do lançamento. Se você pode comprar um terreno em locais de alto padrão por um preço alto e construir vários andares, por que compraria um no Jardim América, onde a construção vertical é limitada? Você pode, inclusive, diluir esse preço pago aos compradores (das unidades) - indagou um corretor.
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