Vivemos numa soberania popular, mas em uma democracia representativa. Esse foi o exemplo dado pelo professor Rafael Cardoso Sampaio, professor do Departamento de Ciências Políticas da UFPR, para explicar que as manifestações sociais são capazes de influenciar, mas não de decidir o que será do rumo político do Brasil. No modelo representativo, em que elegemos as pessoas que decidem por nós, a presença marcante nas ruas influencia opiniões e serve de apoio simbólico. No caso do rito do impeachment, por exemplo, a pressão popular pode levar esse ou aquele político a votar de uma determinada maneira, mas não seria o povo na rua que faria escolhas. “Não é decisório nem deveria ser. Isso nem só não acontece como também não é desejável”, diz. Fosse assim, seria instituída a tirania da maioria.
O cientista político, contudo, destaca que não se trata de desmerecer ou desincentivar a participação popular. O capital simbólico da manifestação de rua é inegável. A professora Denise Cogo reforça que a pressão popular é um dos instrumentos, tem relevância, mas sozinha não são capazes de mudar os rumos. “Há outras instâncias, outros atores, como os políticos”, lembra. Uma vontade popular pode ser ignorada, por exemplo. Sampaio lamenta que a polarização política tenha causado a perda, ao menos parcial, do poder de mudar opiniões. Os dois lados estão tão exaltados que a mobilização social acaba não tendo o efeito prático de fazer pensar. Apenas reforça posições estabelecidas.
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