Aproximadamente 1,3 mil jovens maringaenses, com idade entre 18 e 24 anos, estão enquadrados na geração nem-nem: nem estudam, nem trabalham, o que representa 5,59% dos 23.872 habitantes da cidade desta faixa etária. No Brasil, 19,5% dos jovens 5,3 milhões de pessoas- não estão estudando nem trabalhando e tampouco procurando emprego, segundo dados do Censo 2010.
Entre os jovens maringaenses que são enquadrados como economicamente não ativos pela contagem, a maioria é formada por pessoas solteiras, com idade entre 20 e 24 anos e com ensino superior incompleto. Se considerarmos apenas os que não trabalham, o índice sobe para 53,74%, ou 12.831 dos jovens fora do mercado de trabalho.
De acordo com o antropólogo Mário Camargo, a ociosidade dessa parcela da população é um reflexo dos limites da educação adotada nas últimas décadas. "Essa é uma geração que não aprendeu a ouvir não ou a valorizar aquilo que tem." Camargo aponta que até meados da década de 1970 os filhos costumavam a ajudar os pais em seus afazeres. "Isso criava um senso de responsabilidade, que é fundamental em qualquer carreira", defende.
Para o antropólogo, profissionais do chamado "chão-de-fábrica" são desvalorizados e por isso os jovens são relutantes em aceitar este tipo de trabalho. "Não faltam vagas de emprego. Falta o jovem entender que a realidade é diferente do que ele vive em casa. Então, ele não vai começar a carreira por cima, mas que pode ascender com o tempo."
O pesquisador salienta que o fenômeno ainda é recente e, por isso, não é possível mensurar os efeitos positivos ou negativos desta parcela de jovens economicamente inativos. "Digo sempre que somos uma sociedade em crise. Mas acho que isso é importante para refletirmos e apontarmos novos caminhos sociais."
Brasil
Ao mesmo tempo em que atinge níveis historicamente baixos de desemprego e sofre com a escassez de mão de obra qualificada em alguns setores, o Brasil "desperdiça" um de cada cinco jovens adultos.
Era de se esperar que, com o crescimento do mercado de trabalho e alguns avanços na educação, o quadro tivesse melhorado desde o censo anterior, de 2000. Mas ocorreu o oposto. O contingente de jovens que não estudam nem trabalham até aumentou: em 2000 eles eram 4,8 milhões, ou 18,2% do total, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
"Estamos desperdiçando parte de uma geração, que vai demorar muito a encontrar um lugar 'virtuoso' no mercado de trabalho", diz Adalberto Cardoso, professor do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Iesp/Uerj). "Mais adiante alguns vão voltar a estudar e tentar tirar o atraso, mas então encontrarão novas gerações mais escolarizadas e qualificadas, dificultando sua competição."
A geração nem-nem tem crescido na Europa assolada pela crise. Mas por que existem tantas pessoas nessa situação no Brasil? Há as que estão à toa por que querem, acomodadas com alguma fonte segura e não muito exigente de sustento os pais, por exemplo. Mas trata-se de uma minoria. Na maior parte dos casos, diz Cardoso, os brasileiros "nem-nem" são pobres e têm baixa escolaridade. E, no caso das mulheres, filhos para cuidar.
"Dois terços desses jovens são mulheres, e metade delas tem filho vivo, nem sempre fruto de casamento. Dos homens, uma pequena parte, perto de 10%, tem deficiência física ou mental grave. Cerca de 70% dessas pessoas vivem em famílias que estão entre as 40% mais pobres, e 50% dos homens e 40% das mulheres não completaram nem o ensino fundamental", enumera o pesquisador.