O acidente que matou nove funcionários da Vivo e um motorista em 2003, no trecho da BR-376 que passa por Ponta Grossa, ainda não recebeu um ponto final. As famílias das vítimas, nove de Maringá e uma de Londrina, aguardam a decisão da Justiça sobre a responsabilidade do acidente, para que a indenização seja liberada.
O acidente aconteceu em 18 de dezembro de 2003. As vítimas voltavam de Curitiba para Maringá, após uma festa de confraternização, quando a van na qual estavam derrapou em lama que havia na pista, invadiu a pista contrária e bateu de frente com um caminhão. Nenhum ocupante da van sobreviveu.
As famílias movem uma ação desde 2004 contra a RodoNorte, concessionária responsável pelo trecho da rodovia, e a Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar). Segundo a Polícia Rodoviária Estadual (PRE), o acidente foi provocado pela lama que havia na rodovia. A lama foi ocasionada pelo vazamento de água de uma tubulação da Sanepar que rompeu horas antes.
O advogado dos familiares das vítimas, César Eduardo Misael de Andrade, relata que, segundo testemunhas, a tubulação estourou cerca de 12 horas antes do acidente, mas a RodoNorte e a Sanepar não providenciaram a sinalização adequada. O acidente aconteceu por volta das 4 horas.
"Não tenho esperança de que isso se resolva. Estamos lutando contra grandes empresas e, diante delas, não somos ninguém", afirma Doralice Assis Correa, viúva de Gilson Ribeiro dos Santos, que morreu no acidente.
Famílias
Os familiares das vítimas alegam que a lentidão da Justiça leva o caso para o esquecimento. "Quanto mais o tempo passa, mais difícil é para alguém ser punido", diz Doralice. Ela defende que, assim como o acidente que vitimou o marido, outras tragédias no Brasil causam comoção temporariamente, mas, por conta da impunidade, são esquecidas. "Se alguém fosse responsabilizado, se houvesse Justiça, a gente evitaria que outras pessoas morressem da mesma forma em acidentes anunciados."
Gilson Ribeiro dos Santos morreu aos 36 anos, deixou um filho de 4 anos e uma filha de 13 anos. Doralice conta que a perda de Ribeiro causou, além de dor, grande dificuldade financeira à família. Sem o salário do marido, ela precisou tirar os filhos de escolas particulares e colocá-los em instituições públicas. Ela, que era dona-de-casa, foi trabalhar como empregada doméstica. "Isso aconteceu porque ninguém foi responsabilizado e não recebemos qualquer ajuda financeira ou indenização desde então."
A auxiliar administrativa Hilda Morales Graziano perdeu a filha, Flávia Morales Graziano, de 23 anos. Ela relata que Flávia estava especialmente feliz naquele final de 2003, porque havia acabado de concluir o curso de Administração na Universidade Estadual de Maringá (UEM). Com a morte da filha em dezembro, a mãe não viu a filha ser diplomada em fevereiro do ano seguinte.
A mãe defende que os responsáveis pelo acidente devem ser penalizados. "Receber uma indenização não vai trazer a minha filha de volta. Não vai mudar nada neste sentido. Mas os culpados precisam ser lembrados que, por causa da irresponsabilidade deles, a vida de dez famílias mudou completamente."
Processo
O advogado César Eduardo Misael de Andrade diz que a RodoNorte e a Sanepar dificultam o trâmite do processo. "A cada sentença, eles apresentam novos recursos e questionamentos. Isso atrasa cada vez mais o julgamento." Além disso, afirma que o posicionamento das empresas demonstra o completo descaso diante da situação das famílias.
Segundo o advogado, nos últimos nove anos a Justiça de Ponta Grossa condenou os funcionários da RodoNorte por homicídio culposo. No entanto, por conta da apresentação de recursos, a decisão prescreveu.
A Justiça de Maringá multou a RodoNorte por conta da falta de sinalização no local. A multa nunca foi paga, afirma Andrade. "Como advogado, nunca vi atitudes como as dessas empresas. Acredito que a intenção é realmente causar um sentimento de descrédito nas famílias."
Questionado sobre as datas de julgamento, Andrade relata que não existe qualquer definição neste sentido. "A cada ano a gente tem a esperança renovada de que o processo será julgado."
Doralice Assis Correa diz que, em conversas informais, o advogado pediu para as famílias não perderem a fé em Deus. "Só resta rezar mesmo, porque a crença na Justiça já se perdeu."