Três filmes aclamados pela crítica estreiam nos cinemas maringaenses nesta sexta-feira (15): O Som ao Redor, primeiro longa-metragem do pernambucano Kléber Mendonça Filho; A Negociação, de Nicholas Jarecki; e Amor, de Michael Haneke este último, teve a pré-estreia no fim de semana passado.
Os horários e os locais de exibição dos filmes podem ser conferidos no Guia Gazeta Maringá.
O Som ao Redor
O Som ao Redor, primeiro longa do diretor pernambucano Kléber Mendonça Filho foi recebido com críticas entusiasmadas, senão consagradoras, como a de A. O. Scott, respeitado crítico do jornal The New York Times, que o listou como um dos dez melhores filmes do ano passado.
O longa foi rodado na rua onde Mendonça vive, situada no bairro Setúbal, de classe média abastada, na zona sul de Recife. No filme, a região é quase toda controlada por Francisco (Waldemar José Solha), um senhor de engenho que vive na cidade grande, cercado de filhos e netos, mas de certa forma ainda a defender uma ordem social patriarcal e autoritária apenas disfarçada por uma fachada de modernidade ele é o dono de quase todos os imóveis da região.
Embora reine uma aparente tranquilidade na vizinhança, a calmaria não convence: há uma tensão, de início apenas sugerida, que sobretudo se apresenta por meio de sons daí o título do filme. Latidos de cães, barulhos de aspiradores de pó, carros freando, vozes, apitos, sirenes.
Todos têm significados e servem de costura para a trama, que ganha novo rumo quando Francisco permite que Clodoaldo (Irandhir Santos) se instale na rua com um serviço particular de segurança. Discute, entre outros temas, o conflito entre classes, violência urbana, milícias e especulação imobiliária.
Segundo A. O. Scott, do The New York Times, "Mendonça faz uma crônica dos ritmos da vida em um complexo residencial afluente na cidade costeira de Recife". "O que emerge é um retrato sutil de uma sociedade que vive os espasmos de uma rápida transformação social, ao mesmo tempo em que é assombrada pelas crueldades de seu passado feudal."
A Negociação
A crise econômica internacional de 2008 transformou os bastidores do mundo das finanças em território fértil para o cinema. Uma das mais recentes produções sobre o tema é A Negociação, de Nicholas Jarecki, que estreia nesta sexta-feira (15) em Maringá.
No filme, Richard Gere vive um personagem complexo: Robert Miller, um executivo poderoso e de caráter duvidoso que, ao apostar demais na própria sorte, vê seus negócios e sua vida pessoal se aproximarem da beira do abismo.
As ótimas atuações do elenco, sobretudo de Gere e de Susan Sarandon, que vive a mulher de Miller, somadas a um roteiro bem amarrado, ainda que convencional, fazem de A Negociação um bom programa para quem está busca de cinema de qualidade para adultos.
A música é do baterista do Red Hot Chilli Peppers, Cliff Martinez.
Amor
Michael Haneke é um artista necessário. Sua obra confronta, incomoda, faz pensar sobre aspectos sombrios da condição humana e do mundo contemporâneo. Vai na contramão do cinema de entretenimento, que quase sempre busca recompensar o espectador com um final feliz ou uma lição de vida edificante, esperançosa.
Georges (Jean-Louis Trintignant, de Z e Um Homem e uma Mulher) e Anne (Emanuelle Riva, de Hiroshima, Mon Amour) são um casal de pianistas clássicos octogenários que vive em um amplo e confortável apartamento parisiense. A rotina dos dois, serena e até certo ponto previsível, muda traumaticamente quando Anne, durante uma cirurgia de desobstrução da veia carótida, sofre um acidente vascular cerebral e fica com metade do corpo paralisada.
Condenada a se locomover em uma cadeira de rodas, Anne, antes uma mulher ativa e independente, vê-se limitada e forçada a recorrer ao marido para quase tudo. Ele se desdobra para manter a vida dos dois dentro de uma relativa normalidade, mas tanto ele quanto ela são pessoas esclarecidas e sabem que nada será como antes. Ainda assim, preferem não ter de recorrer à filha, Eva (Isabelle Huppert), que vive na Inglaterra com o marido e os filhos.
À medida que a própria saúde entra em declínio, Anne começa a mergulhar em estado de profunda angústia. De depressão mesmo, o que só agrava o estado físico. O crescente clima de tensão entre Anne, inconformada com seu estado, e George, que insiste em mantê-la viva e lúcida, extrapolam os limites da tela e contagiam o espectador, que não têm outra opção a não ser pensar sobre a incontornável finitude de suas existências.