O dia a dia de Adorno Reis é compartilhado com 72 cachorros e 20 gatos. Todos os animais foram acolhidos e vivem em dois estabelecimentos comerciais e na residência do dono, que é ex-vereador de Maringá. O amor pelos bichos começou quando Reis tinha 8 anos e morava em um sítio em Paranacity, no Noroeste do Paraná. Foi naquela época que ele adotou um pequeno cachorro vira-lata preto, para o qual deu o nome de Horizonte. "Achava a palavra bonita."
Saudoso, Reis lembra que o pequeno cão o acompanhava em todas as atividades no sítio, desde as mais singelas brincadeiras até o início dos trabalhos na colheita de café. No entanto, ele lamenta não se lembrar do destino final do cachorrinho. "Para falar a verdade, não sei se ele morreu ou desapareceu, mas acho que essa história de ter ficado sem o Horizonte aumentou ainda mais a minha vontade de proteger todos animais."
De lá pra cá, centenas de cachorros e gatos passaram pelas mãos de Reis. Ele conta que, como sempre morou em casa, adquiriu o hábito de cuidar dos animais abandonados ou feridos que encontrava pelas ruas. Não demorou muito, o costume se tornou praxe também entre a mulher e os três filhos. "Quando encontravam animais, as crianças, ainda pequenas, vinham me perguntar o que fazer e eu respondia: traz pra cá, ué." Com isso, ele diz não se recordar de cuidar de um número inferior a 40 animais nas últimas décadas.
O amor aos bichinhos tornou Adorno Reis conhecido em toda Maringá. Após o mandato de vereador, no início dos anos 1990, ele foi convidado a presidir uma Organização Não Governamental (ONG) de proteção aos animais na cidade. No entanto, afirma não ter boas lembranças da experiência, por conta de divergências entre ele e antigos membros do grupo. "Sempre fui acostumado a tratar meus animais com o que tem de melhor, com ração de boa qualidade. Cheguei lá e eles tratavam os animais com uma ração ruim. Não concordei e deu problema." Depois disso, afastou-se da função.
O incidente, porém, não diminuiu a vontade em defender os animais. Ele lembra que, nas últimas décadas, comprou outras brigas por defender a própria maneira de cuidar dos pets. Entre as histórias mais emblemáticas, Reis diz que eram constantes as discussões com os clientes de uma antiga lanchonete que tinha, localizada na Praça do Peladão. "Cansei de discutir com cliente que chutava meus cachorros. Sempre falei que cliente assim eu não queria, queria era que fosse para o inferno."
Além disso, Reis diz ter registrado Boletins de Ocorrência contra todos os prefeitos de Maringá das duas últimas décadas. Os boletins registraram a matança de animais que ocorre pelo controle sanitário da Prefeitura, segundo o ex-vereador. "Teve um aí que matou mais de oito mil cachorros. Está errado e vou continuar denunciando isso até alguém tomar alguma providência."
Segundo o empresário, apesar do alto número de animais, todos os cuidados, desde o veterinário até às rações, são custeados por ele próprio. Ele afirma que, em alguns meses, a situação fica mais apertada, mas mesmo assim não aceita ajuda externa. "Aparece muita gente querendo me ajudar com ração ruim, por exemplo. Não adianta, não vou dar pros meus cachorros. Tem gente que acha ruim, que vira meu inimigo por isso, mas não tem o que fazer."