Há pelo menos 20 anos longe da família, a argentina Mercedes Jara, 60 anos, reencontrou a filha Maria Antonia Rodrigues no sábado (31), em Umuarama, no Noroeste do Paraná. O reencontro se deu após diversas tentativas frustradas realizadas pela equipe do Lar Vicente de Paulo, onde Mercedes mora há 17 anos.
"Por causa do idioma, a gente tinha dificuldade em entender como se escrevia o sobrenome dela. Por isso, mesmo após ter acionado a embaixada argentina diversas vezes durante esses anos, nunca conseguimos qualquer pista sobre a família dela", conta a tesoureira e voluntária do Lar São Vicente de Paulo, Maria Aparecida Françolin.
Além da dificuldade de comunicação, Mercedes só possuía um documento: um atestado do Hospital Psiquiátrico Santa Cruz, em Umuarama, que comprova a internação dela nesse local entre 1993 e 1996. "Ela dizia que foi internada [no hospital psiquiátrico] por policiais que a encontraram caminhando nas estradas próximas de Umuarama, mas não sabia contar como tinha chegado até a região [por conta de uma perda de memória]", lembra Maria Aparecida.
Os médicos do hospital psiquiátrico encaminharam Mercedes ao Lar São Vicente de Paulo em 1996, após darem a ela alta de um tratamento para recuperar a memória. Mesmo "curada", ela ainda recebe acompanhamento médico e usa medicamentos controlados.
Após diversas conversas com Mercedes, a equipe do Lar São Vicente de Paulo chegou à conclusão de que a cidade de onde ela vinha era Leandro N. Alem, na província de Misiones, na Argentina. Em 28 de agosto, voluntárias que foram para uma celebração em Cruz Alta (RS) decidiram percorrer mais 350 quilômetros para procurar a família da argentina em Leandro N. Alem. E deu certo.
Após algumas dificuldades para entrar no país vizinho, o grupo chegou a Leandro N. Alem no final da tarde de quinta-feira (29). O primeiro passo foi procurar policiais e igreja locais para buscar registros que levasse à família de Mercedes, já que, naquele horário, os cartórios já estavam fechados.
"Quando mostramos o nome da Mercedes aos policiais, um deles disse que talvez conhecesse alguém que pudesse ajudar, mas não nos deu muitas esperanças. No final da manhã de sexta-feira, contudo, ele chegou com as duas filhas dela. Estavam todos muito emocionados", relembra Maria Aparecida.
Viagem a Umuarama
Maria Aparecida Françolin relata que, após ter certeza de que a família de Mercedes Jara havia sido localizada, ligou imediatamente para Umuarama para contar a novidade à moradora do Lar São Vicente de Paulo. "Ela ficou muito emocionada. Chorou tanto que precisou ser medicada para se acalmar." Em seguida, a argentina pintou o cabelo e as unhas para receber a filha Maria Antonia Rodrigues.
A viagem de mais de 1.000 quilômetros de Leandro N. Alem a Umuarama foi marcada pela ansiedade de todos. Ao chegar ao Noroeste do Paraná, no final da tarde de sábado (31), mãe e filha se abraçaram e choraram. Maria Aparecida diz que Mercedes fez um comentário quase inocente ao ver a filha. "Ela só conseguia dizer nossa, como você cresceu."
Família ajuda a contar história de Mercedes
As filhas conseguiram esclarecer algumas lacunas sobre a história da mãe ao Lar São Vicente de Paulo. Elas contaram que Mercedes perdeu a memória há 37 anos, após a morte do marido, Adrian Rodrigues, em um acidente de trabalho na construção civil.
Segundo Maria Aparecida, as filhas relataram que, durante 13 anos, a mãe alternava períodos de internação em hospitais psiquiátricos de Posadas, capital da província de Misiones, e a casa das filhas em Leandro N. Alem. "Mercedes ficou muito abalada com a morte do marido. As filhas dizem que, na época, os médicos diagnosticaram demência. Por isso, as internações."
Em um dos períodos de alta, Mercedes estava na casa da filha mais velha, Mirta Rodrigues, quando desapareceu. As filhas procuraram a mãe por toda Misiones, mas sem êxito. Em entrevista à RPC TV, Maria Antonia disse que a família nunca desistiu de encontrar a mãe viva, mas nunca haviam imaginado que ela estaria tão longe de casa.
Na terça-feira (3), os outros dois filhos de Mercedes devem chegar a Umuarama para levar a mãe de volta a Argentina, onde, além dos seus filhos, vivem sete netos e 11 bisnetos.
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