O dia 10 de maio, aniversário de Maringá, faz com que o japonês Kenji Ueta, 89 anos, reviva a história da cidade. No dia em que o município completa 63 anos, ele rememora tudo o que testemunhou desde que se mudou para cá, em 1951. Ueta não só assistiu às transformações que aconteceram no município, como registrou várias delas em fotografias. Foi assim com a chegada do primeiro trem, em 1954. "Já perdi as contas de quantas fotos fiz, mas a quantidade passa dos 100 mil, com certeza", revela.
Graças a Ueta, todos os moradores com menos de 38 anos podem redescobrir as etapas de construção da Catedral Nossa Senhora da Glória, o principal ponto turístico de Maringá. Essas fotos, que estão todas guardadas com ele, são mostradas com orgulho, para quem quiser ver. Com um acervo tão valioso, o japonês protagoniza até exposições em museus da cidade. Até o dia 30 de maio, 20 delas (todas da Catedral) estão expostas no Museu da Bacia do Paraná (MBP), na Universidade Estadual de Maringá (UEM).
O fotógrafo, que nasceu em Fukushima, no Japão, veio parar no Brasil por conta da curiosidade do pai, o economista e engenheiro Sawaiti Ueta, em 1933. "Meu pai, minha mãe [Tsune Ueta], meus dois irmãos [Yukio e Tetsoaki Ueta] e eu passamos 48 dias no navio até aportar no Estado de São Paulo", lembra. "Naquela época, meu pai não pôde trabalhar na área dele, porque o governo brasileiro exigia que todos os imigrantes trabalhassem pelo menos um ano em lavouras."
Por conta dessa exigência, a família trabalhou em Cafezal, Bauru, Pompéia e São Paulo. Após a morte do pai, em 1936, e da mãe, em 1946, os três irmãos vieram para Maringá, já que a região noroeste do Paraná atraía muitas pessoas, por conta da venda de lotes da Companhia Melhoramentos Norte do Paraná. Foi nessa cidade, cujas estradas eram todas de terra batida, que eles compraram uma loja de fotos. Ueta nunca mais abandonou o negócio. Hoje, ele tem duas lojas em Maringá e outra em Paranavaí.
Há 59 anos como fotógrafo, ele já percebeu que os próprios moradores não reconhecem o município nas fotos se a Catedral não aparecer, mesmo que escondida entre prédios e galhos de árvores. "Quando vi, pela primeira vez a maquete da Catedral, em 1959, achava que não viveria tempo o bastante para vê-la concluída", afirma. "Felizmente, não só vi a igreja sendo inaugurada em 1972, como já vi ela [a igreja] cheia de luzes, enfeitada de árvore de natal, nos últimos anos." Antes da Catedral Nossa Senhora da Glória, Maringá tinha a Catedral Santíssima Trindade, que foi demolida, em 1973.
Para ele, os planejamentos urbano e paisagístico são os pontos altos de Maringá. "As ruas e as avenidas são largas e há muitas árvores, que embelezam cada canto da cidade", afirma.
Por outro lado, ele diz achar que muitos moradores e até algumas gestões municipais não deram atenção o suficiente às reservas ambientais, como o Parque do Ingá e o Horto Florestal, que estão fechados. "Antigamente, quando recebia visitas, o passeio nesses parques era obrigatório, mas agora não dá mais", lamenta. De qualquer forma, ele busca registrar a beleza da cidade toda vez que sai de casa. "Sempre saio com minha máquina fotográfica."