O calendário do futebol brasileiro consegue algo pouco comum no mundo da bola: consenso. No fim de mais uma temporada, não faltam reclamações e pedidos para uma discussão sobre o tema por parte de dirigentes, técnicos e jogadores.
No início de setembro, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) divulgou a programação para 2011. Nela, excesso de partidas e escassez de datas. Se misturam no calendário Estaduais, Copa do Brasil (cuja tabela foi divulgada anteontem), Libertadores, Sul-Americana e Brasileiro, além da participação da seleção brasileira na Copa América da Argentina, em julho.
Pela configuração vigente, uma equipe que alcance em 2011 a decisão nas quatro competições da temporada (considerando a participação na Sul-Americana e não na Libertadores) entraria em campo mais de 80 vezes. Contando ainda que os Estaduais iniciam-se em 16 de janeiro e a Sul-Americana termina em 7 de dezembro, seriam 326 datas disponíveis. Calculando, e arredondando, uma partida a cada quatro dias.
Neste ano, os atletas sofreram por causa da Copa do Mundo. O Brasileiro parou durante o evento na África do Sul. Assim, as rodadas tiveram de ser condensadas. Durante 49 dias foi uma maratonas de dois jogos por semana.
"É um grande absurdo, com muitos jogos e má distribuição. Este ano jogamos apenas seis partidas mais do que o Barcelona, mas mesmo assim você não via o Barcelona jogando durante três meses toda quarta e domingo. O calendário lá é mais racional", esbraveja Ronaldo, atacante do Corinthians, já veterano.
E a solução, pelo menos para o momento, aponta para um caminho apenas: "A única alternativa que eu vejo é mexer nos Estaduais", afirmou Muricy Ramalho, técnico campeão brasileiro pelo Fluminense, no Footecon Fórum Internacional de Futebol, realizado no início do mês no Rio de Janeiro.
Basicamente, a ideia é reduzir o número de datas das disputas locais e aumentar o período de pré-temporada. "Teríamos de se postergar o início dos campeonatos. São necessários pelo menos dois meses de pré-temporada para deixar o atleta bem preparado", afirma Antônio Carlos Gomes, fisiologista e consultor científico do Corinthians.
José Luiz Runco, médico da seleção brasileira, concorda: "No mínimo, precisa-se de 45 dias de pré-temporada. Mas é preciso também a ajuda do atleta, que tem de cuidar do corpo, se alimentar de maneira correta. Acho até que a concentração tinha de ser após o jogo, para que acompanhássemos o descanso, orientássemos a alimentação".
O problema é que as federações estaduais não aceitam a proposta. "Não há como diminuir mais o nosso campeonato. Já reduzimos para 12 clubes, chegamos ao limite. Se for feito assim, vamos matar o futebol no interior do Paraná. Já tive de inventar uma data para 2011", diz Amilton Stival, vice-presidente da Federação Paranaense de Futebol (FPF).
Colaborou Adriana Brum