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Produzir tem sido mais vantajoso do que comprar eletricidade desde 2009, afirma o supervisor de Produção de Energia da Cocamar, Fernando Borges | Fábio Dias/Gazeta do Povo
Produzir tem sido mais vantajoso do que comprar eletricidade desde 2009, afirma o supervisor de Produção de Energia da Cocamar, Fernando Borges| Foto: Fábio Dias/Gazeta do Povo

Como funciona

A produção de energia com o uso de biomassa permite o aproveitamento de resíduos como o bagaço da cana-de-açúcar.

• Aproveitamento

A usina da Cocamar recebe o bagaço de indústrias de etanol e açúcar instaladas na região Noroeste, que precisam dar destino a seus resíduos.

• Calor

O material segue para uma caldeira, onde produz alta temperatura, direcionada para um tanque com água, que evapora lentamente.

• Motor

O vapor é que move a turbina da termoelétrica, ou seja, coloca o gerador de energia em funcionamento.

• Luz própria

Toda a energia produzida pelo gerador é usada pela própria cooperativa, para atender as necessidades de suas indústrias.

Lucro complementa política ambiental

A geração de eletricidade por meio da queima do bagaço é comum nas usinas de cana do Paraná. No entanto, nas cooperativas, a produção de energia elétrica é novidade. Segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), apenas 2% da energia produzida no Paraná são provenientes de termoelétricas abastecidas com os restos da cana, o equivalente a 352,7 mil KW/hora. E a maioria dos casos, segundo a Associação dos Produtores de Bioenergia do Estado do Paraná (Alcopar), são de cogeração, em usinas de álcool e açúcar.

De acordo com dados da Ocepar, entidade que representa as cooperativas do estado, apenas a Cocamar aproveita a biomassa da cana para produzir energia elétrica. Outras cooperativas como a Lar Agroin­dustrial (Medianeira) e a C.Vale (Palotina), implantaram em 2011 projetos pilotos com resíduos industriais dos frigoríficos. A maioria das cooperativas aproveita a biomassa para gerar vapor, que é utilizado nos processos industriais.

"Percebemos que os cooperados estão cada vez mais preocupados em reduzir impactos ambientais e também em produzir energia elétrica. No Paraná, temos um pioneirismo nas cooperativas na questão de geração de energia [incluindo calor]. Para isso, a Ocepar possui um fórum ambiental que discute esses assuntos com os cooperados", disse o analista técnico e econômico da Ocepar Gilson Martins.

Outra medida adotada pela Ocepar para incentivar as cooperativas a investir no setor foi a criação de um curso MBA em Bioenergia, uma parceria com a Itaipu Binacional e a Fundação Getúlio Vargas (FGV). Segundo Martins, o importante é que cada cooperativa produza energia com os resíduos que produz. "Com isso, reduziremos os impactos ambientais", frisa. "Todo o processo tem de ser viável, mas nem sempre rentável. A rentabilidade pode vir com o tempo. Temos várias cooperativas do estado que estão com projetos pilotos e em andamento para a questão da produção de energia", acrescenta Martins.

A produção de energia elétrica com bagaço de cana trouxe economia de R$ 13 milhões em 2011 para a Cocamar Cooperativa Agroindustrial, de Maringá. Esse é o valor que a empresa teria de gastar na compra da eletricidade que produziu aproveitando resíduos da indústria de etanol e açúcar no ano passado. A usina, em funcionamento desde 2009, é pioneira e gera 13 MW por hora, o suficiente para abastecer um município de 70 mil habitantes.

A economia chega a R$ 1,5 mil por mês, considerando-se o histórico da conta da eletricidade comprada pela cooperativa. Em 2008, a fatura mensal era de quase R$ 2 milhões. Em 2011, caiu para R$ 500 mil.

A ideia dos cooperados era ter uma fonte própria de energia para evitar riscos de apagões, já que a cooperativa possui 11 plantas industriais (fábricas e indústrias) operando durante o dia e a noite.

"Tínhamos uma fonte de energia em grande quantidade na região, que é o bagaço da cana, e muita vontade de gerar eletricidade própria. O que fizemos foi investir. Buscamos ideias de usinas de cana e agora estamos colhendo os resultados", disse o superintendente da Cocamar, Arquimedes Alexandrino.

Para saber se compensa produzir ou comprar energia da Copel, engenheiros da Cocamar fazem cálculos permanentemente. Se o preço do bagaço somado aos custos da produção de energia for maior que o valor comercial da eletricidade, a cooperativa prefere comprar da estatal. Caso contrário, ativa sua usina.

"Até hoje não tivemos nenhum mês em que foi mais viável comprar energia do que produzir. Temos o bagaço da cana em abundância na região Noroeste e isso torna a operação rentável", afirmou o supervisor de Produção de Energia da Cocamar, Fernando Borges Santos.

Uma das metas da cooperativa para este ano é vender energia elétrica para a Copel, principalmente nos meses em que o complexo industrial não funcionar com a sua capacidade máxima. "Nossas indústrias não trabalham o ano todo e, em alguns meses, paramos para manutenção (...) Nossa usina não para", disse o presidente da Cocamar, Luiz Lourenço.

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O bagaço da cana-de-açúcar é abundante na região de Maringá pela concentração de canaviais e usinas de açúcar e etanol. As principais vantagens do resíduo são o baixo custo de operação, a facilidade de armazenamento e transporte e a eficiência energética. O bagaço é fonte de energia renovável e seu aproveitamento reduz a emissão de gases poluentes.

A Cocamar recebe mais de 700 toneladas de bagaço de cana por dia. Em alguns períodos do ano, a cooperativa utiliza o cavaco (restos de eucalipto) no lugar do bagaço de cana, já que a usina suporta a queima de outros tipos de biomassa, incluindo casca de arroz e resíduos da soja.

Segundo Alexandrino, os R$ 13 milhões economizados na conta de energia elétrica em 2011 cobriram os custos da usina com folga de R$ 5 milhões. "Esse valor é o resultado final. É como se fosse o lucro das operações. A operação é altamente rentável, desde que a empresa esteja preparada para isso e a fim de investir pesado", disse.

Conforme o executivo, para se implantar uma termoelétrica é preciso pesquisar primeiro o preço da biomassa. "O essencial para se ter resultado é ter bem definida a fonte de energia que será utilizada."

A Cocamar instalou a termoelétrica em seu próprio parque industrial. A usina custou cerca de R$ 35 milhões. Com lucro de R$ 5 milhões ao ano, o investimento se paga em sete anos.

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