Relação do tráfico de drogas e violência

A coordenadora do Observatório das Metrópoles, Ana Lúcia Rodrigues, defende que não existem estudos comprobatórios entre a relação do tráfico de drogas e o aumento nas taxas de homicídios. No entanto, ela pontua que a droga e a violência são atrativos para os jovens desassistidos. "O indivíduo que não tem suas necessidades básicas supridas está à mercê da própria sorte. Sem o apoio do governo municipal, estadual, federal, ele se desinteressa e se associa ao que está mais próximo e mais fácil, como as drogas."

Na avaliação dela, governantes e policiais tendem a tratar esses fatos como enraizados à realidade brasileira. "Eles costumam naturalizar o que não é natural. Pobreza, miséria, falta de assistência pode e deve ser resolvida."

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O desamparo social e a falta de perspectiva para os jovens, especialmente entre 18 e 24 anos, são os principais fatores apontados por especialistas para o aumento da taxa de homicídios em Maringá que, em dez anos, cresceu 130%. O índice, um dos maiores registrados no Paraná, fica atrás apenas de São José dos Pinhas, onde esse tipo de crime cresceu 199% no mesmo período. Os resultados foram obtidos no cruzamento dos índices de mortes do Datasus (o banco de dados do Sistema Único de Saúde) com o número de habitantes computado pelo Censo do IBGE.

Entre 2009 e 2011, Maringá foi uma das poucas cidades a apresentar aumento no índice de mortes violentas - cerca de 5%. Curitiba e Londrina registraram queda de 20% e 13% respectivamente. De acordo com a pesquisadora do Observatório das Metrópoles Fernanda Valotta, homens jovens, na faixa etária entre 18 e 24 anos, de cor negra ou parda, são as principais vítimas do abandono social. Segundo Fernanda, a falta de opções de lazer, de espaços públicos de sociabilidade e falta de integração ao mercado de trabalho, por exemplo, transformam esses jovens nos principais personagens das estatísticas de violência.

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"Por causa de seu contexto social, os jovens usam a violência como uma questão de sobrevivência", aponta a coordenadora do Observatório, Ana Lúcia Rodrigues.

As maiores taxas de violência, segundo a pesquisadora Fernanda Valotta, estão nas periferias da cidade, onde a organização do território é precária. "Quem vive nestes espaços, vive em moradias precárias, com acesso limitado à educação, saúde e lazer." Fernanda avalia que o último índice maringaense, de 16,8% homicídios a cada 100 mil habitantes, é considerado relativamente baixo. Mas em cidades da região de Maringá, esse índice é muito maior. Segundo a pesquisadora, em Sarandi, por exemplo, foram registrados 60 homicídios para cada 100 mil habitantes em 2011. "Para ter uma ideia, a Organização Mundial de Saúde [OMS] recomenda que o índice seja entre 8,8 a 10 a cada 100 mil habitantes", exemplifica.

No entanto, Fernanda pontua que, além das condições de bem-estar social, desde 2000 ocorre um processo de interiorização da violência em todo o país. "Anteriormente, tínhamos índices elevados apenas nas capitais e grandes regiões metropolitanas. Agora, a violência está generalizada em municípios de todos os tamanhos."

Brigas de gangues

O delegado de homicídios de Maringá, Alexandre Bonzatto, afirma que 60% dos homicídios registrados na cidade este ano foram causados em brigas de gangues por pontos de drogas. Ele confirma que entre as vítimas estão, especialmente, homens jovens de 24 anos, negros ou pardos, como apontou a pesquisadora do Observatório das Metrópoles. Além disso, Bonzatto salienta que a maioria é morta por arma de fogo e tem passagem pela polícia.

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O delegado, que assumiu o cargo em dezembro de 2012, defende que em Maringá o confronto entre gangues é maior do que em grandes centros, como Curitiba, por conta da proximidade geográfica. "O que observamos é que essas gangues rivais frequentam as mesmas baladas, os mesmo bares e até moram muito próximas uma das outras. Então, o conflito é mais frequente."

Questionado sobre a possibilidade de combater as causas das mortes violentas em Maringá, Bonzatto disse que a polícia combate o tráfico de drogas e tem elucidado a maioria dos casos de homicídio. "Mas o combate é contínuo. Um traficante que morre hoje é rapidamente substituído. As quadrilhas têm aliciado jovens cada vez mais novos."

Além disso, o delegado defendeu que essa não é apenas uma questão de segurança pública. "É uma questão social muito maior. Difícil de ser resolvida a curto prazo."