Comparação
Entre os Brics, Brasil é o que evolui mais lentamente
Em 2011, a economia brasileira ultrapassou a britânica e se estabeleceu como a sexta maior do mundo. O feito foi bastante lembrado e comemorado no país. Entretanto, em 2008, uma outra ultrapassagem não recebeu tanta atenção: o Brasil superou a Holanda e se tornou o 13º maior produtor de artigos científicos do mundo. Parece pouco, mas considerando que em 1996, o país estava apenas na 21ª posição, é possível perceber que o país está evoluindo.
Não se trata, entretanto, de um motivo para muita comemoração. A evolução do Brasil ainda é lenta, se comparada com outros Brics, especialmente China e Índia. Nos anos 80, os chineses estavam mais ou menos no mesmo patamar que os brasileiros na produção científica. Hoje, perdem apenas para os Estados Unidos. O crescimento é assustador: em 2000, a produção chinesa era metade do vizinho Japão. Em dez anos, os chineses produzem quase o triplo de ciência que os japoneses.
Patentes
Por outro lado, um outro indicador mostra um cenário bem menos animador. O número de patentes brasileiras registradas no Escritório de Patentes e Marcas dos EUA em 2010 é insignificante quando comparado com outros países, como Japão, Coreia do Sul e Alemanha. O país está na 29ª posição do ranking, com 219 patentes, atrás de todos os outros Brics e até de países como a República da Irlanda, que passa por uma crise econômica profunda e tem uma população um pouco menor do que a região metropolitana de Belo Horizonte.
Para o diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), Jérson Lima da Silva, esse indicador não pode ser analisado isoladamente, já que países com determinados tipo de indústria, como a automobilística, tendem a criar mais patentes do que o resto tanto que os quatro primeiros colocados da lista são potências do setor. Ainda assim, isso mostra que as empresas brasileiras têm investido pouco em pesquisa e que o país tem dificuldades de transformar sua produção científica em algo mais palpável para a população.
Sexta maior economia do mundo, o Brasil ainda precisa evoluir muito para chegar ao "top 10" da ciência mundial. Com um déficit grande de cientistas e uma concentração do financiamento pelo setor público, o país está longe de competir em condições de igualdade com asiáticos, europeus e norte-americanos muito embora tenha havido um crescimento considerável do investimento em pesquisa e desenvolvimento nos últimos dez anos. Segundo dados do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), em 2010 o Brasil investiu 1,2% do PIB em pesquisa, sendo 54% com recursos do próprio governo. Trata-se de um índice baixo: Japão e Coreia do Sul, por exemplo, investem quase três vezes mais, proporcionalmente. Entretanto, na América Latina, isso coloca o Brasil em uma posição de destaque: países vizinhos, como Argentina e México, não passam dos 0,5%. Considerando o PIB brasileiro, essa diferença fica ainda maior.
Para o diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Carlos Henrique de Brito Cruz, a evolução da ciência no Brasil é bastante significativa. Entre 1996 e 2010, o país saltou da 21.ª à 13.ª posição no ranking de produção de artigos científicos. Crescimento que acompanha o investimento em pesquisa e desenvolvimento, que pulou de R$ 12 milhões em 2000 para R$ 43,8 milhões em 2010. Mesmo assim, existem alguns gargalos.
Poucos cientistas
O número de cientistas brasileiros é pequeno. A cada mil pessoas economicamente ativas no Brasil, 1,4 é pesquisador. Esse índice é menos da metade do que o da Argentina, que conta com 2,9. Já países como Japão e Coreia do Sul tem mais do que 10 pesquisadores para cada grupo de mil trabalhadores. "O sistema educacional brasileiro não dá conta de dar a quantidade e a qualidade de cientistas que o país precisa", comenta Cruz.
Além disso, a pouca participação das empresas também preocupa. Enquanto no Brasil, apenas 46% das pesquisas são realizadas por empresas, em outros países, como Alemanha, China, Coreia do Sul e Estados Unidos, essa proporção é de mais de dois terços. Isso tem uma relação com a posição do país no mercado mundial. Com menos investimento, o Brasil vende produtos com menos tecnologia agregada. "Somos a sexta economia do mundo, mas dependemos muito das commodities. Trocamos alguns miligramas de produtos eletrônicos por toneladas de soja", opina o diretor científico Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), Jerson Lima da Silva.
Para Cruz, o governo brasileiro tem uma relação dúbia com a pesquisa empresarial. Ao mesmo tempo que a década passada testemunhou ações positivas de estímulo, como a Lei de Inovação, as políticas econômicas e fiscais, como a alta taxa de juros e carga tributária, desestimulam o estabelecimento de uma pesquisa empresarial mais perene.
Cortes
Dependente do investimento público, a ciência sofreu com as medidas de austeridade impostas pelo governo federal no último ano. Para o pró-reitor de Pesquisa e Pós Graduação da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Sérgio Scheer, medidas como a redução do número de passagens aéreas pagas pelo governo tem um impacto negativo no setor, já que os pesquisadores dependem disso para a participação em congressos e missões científicas. Estima-se que os cortes foram de cerca de 20% no total destinado a pesquisa e desenvolvimento. O gasto total nessa área em 2011 ainda não foi divulgado pelo MCTI.
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