A farda azul de Adelício Gomes poderia facilmente servir de guarda-pó. A vocação para professor justifica a comparação: o maior prazer do guarda municipal era ensinar os mais novos. Bastava um novo membro aparecer e lá estava ele. Atencioso, fazia questão de acompanhar o novato e explicar "tim-tim por tim-tim" as particularidades da profissão.
A única dificuldade era acompanhá-lo nas rondas noturnas, já que Adelício tinha o costume de pilotar a motocicleta com pressa. "Quando eu o acompanhava, ficava para trás. Só via a blusa voando e ele sumindo por entre os carros", lembra o companheiro de trabalho Vanderlei Cruz.
O "avô menino", como era chamado por alguns na corporação, tinha alma de moleque. Pregava peças nos companheiros a torto e a direito. Sabotava marmitas com pimentas, sumia com as botas dos outros guardas, assobiava para estranhos na rua.
Nas folgas, a brincadeira era outra: Adelício era apaixonado por truco. Ganhou, inclusive, vários torneios do jogo. No entanto, a intenção real do carteado era garantir boas risadas e "jogar conversa fora" com os amigos. "Ele gostava de relaxar, tomar uma cervejinha e ficar com amigos na associação que frequentava", diz o filho Eduardo Gomes.
No dia em que morreu, uma sexta-feira, o guarda municipal, que estava de licença, havia avisado o amigo Tarcísio Hillesheim: "segunda-feira vou convencer o chefe a me deixar voltar a trabalhar antes. Não aguento mais ficar parado".
Deixa viúva, quatro filhos e um neto.