Os movimentos não são mais tão ágeis. Às vezes, a memória pode não ajudar. Mas isso não tira o bom humor e a disposição de dona Marina Nagashima. Aos 61 anos, ela foi contratada por um supermercado de Maringá. O caso dela não é único e reflete o bom momento da geração de empregos no Município.
Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), entre janeiro e outubro já foram criados 9.294 postos de trabalho - relação entre o número de contratados e demitidos - em Maringá, um crescimento de 9,7% em relação ao ano anterior. Diante da alta demanda das empresas por contratações, idosos e pessoas com deficiência têm sido mais requisitados, ganhando espaço no mercado de trabalho.
Dona Marina estava sem emprego formal há 30 anos para cuidar da família. "Os filhos cresceram, fiquei viúva e sozinha. Com o trabalho, voltei a viver. Estar em contato com os clientes e colegas me deixou mentalmente mais sadia" conta ela, que há oito meses atua como operadora de caixa no Assaí.
Esta ocupação tem figurado constantemente na lista de vagas mais ofertadas em Maringá. Segundo o chefe da Agência do Trabalhador, Maurílio Mangolin, o cenário foi influenciado pela abertura de vários supermercados e hipermercados na cidade desde o fim do ano passado. Além do Assaí, foram instaladas lojas das redes Angeloni, Muffato e Condor. Ele também citou a dificuldade em reter jovens, mais sujeitos a mudanças. "Existe uma grande rotatividade nessa área. Muitos não gostam de trabalhar até tarde da noite", ressaltou.
Assim como Marina, quem também aproveitou a oportunidade de voltar ao mercado de trabalho foi Laura Ito, de 59 anos. Carinhosamente apelidada de Laura "san", acha que os trabalhadores com faixa etária mais alta também têm suas qualidades e diferenciais, como a experiência de vida. "Quando se está lidando com o público, tem que saber se colocar no lugar da pessoa que você está atendendo. Dar um sorriso e desejar um bom dia também faz a diferença na hora de atender."
Um dos mais experientes da turma é o seu José Ari Andrade, de 67 anos. Há poucos meses, ele trabalhava com uma motocicleta fazendo entregas. A preocupação da família o fez deixar o antigo emprego. Mesmo assim, Andrade não quis saber de ficar parado e hoje faz de tudo um pouco no supermercado. "Agora tá do jeito que eles [a esposa e os filhos] querem, sem o perigo do trânsito", brincou.
Engajamento
No Paraná, segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), o número de trabalhadores - com carteira assinada - entre 50 e 64 anos passou de 386,3 mil em 2011 para 415 mil no ano passado, um aumento de 7,31%. Já na faixa etária dos 65 anos ou mais, o estoque de empregos formais teve um crescimento ainda maior, alcançando 22,7 mil trabalhadores, 7,5% a mais do que em 2011.
Além da escassez de mão de obra, muitas empresas têm considerado o maior engajamento dos mais velhos no trabalho como fator que influencia na busca destes profissionais. "Estamos focados na seleção de pessoas dispostas a aprender e trabalhar com o público, e isso inclui, além dos idosos, os profissionais com deficiência. Temos experiências ótimas com estes colaboradores em nossas lojas", destaca José Clóvis, gerente da regional Paraná do Assaí.