Uma cidade não é composta somente por estruturas arquitetônicas ao longo de sua malha urbana. É, antes de tudo, uma teia de etnias e credos que formatam o meio social e se transformam em objeto de pesquisa.
Maringá surgiu dentro desse conceito. Antes da urbe, os habitantes que permearam a região compunham um misto de sitiantes e colonos que habitavam rústicas casas de pau-a-pique (paredes de palmito e telhados de folhagens), além é claro, dos caboclos e índios.
Apesar de a Vila ter sido inaugurada em novembro de 1942 com a instalação do Hotel Campestre (que viria a se tornar o Hotel Maringá), o pequeno conglomerado primário já abrigava outros comércios.
Antes da emancipação política, em 1951, Maringá havia sido patrimônio de Londrina, Apucarana e Mandaguari. Essas cidades deram suportes necessários para a sua expansão. Recentes pesquisas indicam que a primeira escola (a Casa Escolar, posterior Escola Isolada do "Maringá Velho"), por exemplo, foi resultado de um empenho da prefeitura de Apucarana. A colocação contraria a consolidada bibliografia existente.
O certo é que a cidade que nasceu de uma canção ainda era um típico cenário de "velho oeste" ao longo da década de 1950/1960. Basta lembrarmos que o então prefeito Américo Dias Ferraz (gestão 1956-1960) sofreu um atentado peculiar na véspera do natal de 1956. Aníbal Goulart Maia, por meio do seu jagunço, Santos Oliveira, o Santão, atacou Américo no interior da Barbearia Líder (Praça Napoleão Moreira da Silva), desferindo tiros e golpes de guaiaca. Em resposta, a população enfurecida incendiou a residência de Aníbal.
Fatos similares ainda imprimiriam jornais das décadas posteriores. Foram situações pitorescas que compõem um elo de conexão com o passado.
Paralelo aos incidentes, salientamos as estruturas físicas que "assistiram" a tudo.Podemos dizer que cada prédio abriga a história de vida de pessoas simples e importantes. E que a cidade, apesar de jovem, tem perdido muito de sua rica narrativa. Talvez, pela falta de interesse dos jovens. É nossa tarefa disseminar essa atividade, de suma importância, para a consolidação da nossa identidade cultura.
Há tempo. Maringá, além de seus antigos moradores, ainda possui um vasto legado arquitetônico. É necessária a preservação. Contudo, não basta salvaguardar, temos que disseminar. Pois, estamos e sempre estaremos sob os espectros do passado.
* Miguel Fernando escreve aos sábados na Gazeta Maringá. Ele é bacharel em Turismo e Hotelaria e especialista em História e Sociedade do Brasil. É instituidor do Projeto Maringá Histórica, o qual se estende na coluna publicada na Gazeta Maringá e em outra, produzida para a Revista ACIM.