Imagine a cena: você recebe um panfleto na rua e, em vez de ignorá-lo e jogá-lo no lixo, leva-o para casa e o "planta" em um vaso, de onde vai surgir uma flor ou uma erva para chá em 20 dias. Pode parecer loucura, mas a ideia, sustentável, existe. A façanha é de uma empresa criada em Maringá há cerca de um ano.
A empresa, Green Mark Brasil, é do estudante de administração Fernando Curt, 25 anos. Há cerca de três anos, ele resolveu transformar a mídia publicitária convencional em algo ecológico. Depois de pesquisas em países americanos e europeus, começou o negócio, adaptado à realidade brasileira, de mídias sustentáveis, no qual todos os serviços têm como base materiais recicláveis e matérias-primas naturais. Curt conta que levou cerca de dois anos só para desenvolver e estudar cada produto. Para o empresário que quer anunciar de forma ecologicamente correta, o preço final é mais alto, mas isso não tem sido um empecilho em Maringá, o que contraria o cenário nacional. "No Brasil, muitas empresas se dizem verdes, mas não querem ter a prática verde, por causa do custo que isso traz." Com o papel-semente, que rende uma planta de brinde, dá para fazer cartões, crachás, convites de casamento e por aí vai. Esse papel é reciclável e é no processo de reciclagem que Curt introduz sementes de flores e de ervas. Depois de seco, é feita a impressão com a mensagem ou logomarca do anunciante. Todo o processo é artesanal.
"Quando o cliente entende o propósito do pedaço de papel, vai olhar [o anúncio] com outros olhos. Vai receber a mensagem e, em vez de descartá-la, vai levar para casa, por conta da planta que vem de brinde. Isso agrega valor à empresa", explica o estudante, que garante ser o único a realizar esse tipo de trabalho no Paraná.
A empresa trabalha freneticamente, mas dentro de casas. Curt diz que, para baratear os custos, preferiu não fixar um estabelecimento. Ele conta com a ajuda de mais sete pessoas, que fazem tudo nas residências onde vivem. No caso do papel-semente, após a montagem, o malote é enviado a uma gráfica que faz a impressão.
Os planos de expansão, porém, já começaram a ser executados. No mês passado, uma regional foi montada em Curitiba. No ano que vem, a intenção é buscar parceiros em 67 cidades. "Nosso país tem uma diversidade cultural muito forte e se ficarmos só em Maringá não poderemos atender todo o potencial do Brasil", afirma Curt.
Mensagem verde, mensagem limpa e publicidade em coco A ideia de Curt não se restringe apenas ao papel-semente. A empresa também trabalha com mensagens verdes e mensagens limpas, tudo voltado para a publicidade. A primeira, normalmente gravada em paredes, é realizada com uma tinta natural que contém musgos. Depois que a pintura termina, os musgos captam umidade e brotam, ramificando-se. A "parede viva" dura o tempo em que for cuidada. Já a mensagem limpa usa somente água. Um jato é disparado dentro do molde que contém a mensagem ou logomarca da empresa. O processo é baseado em uma "limpeza" do chão ou da parede e dura até que a área fique suja novamente. A empresa começou recentemente a executar outra ideia, a de publicidade gravada em coco verde. De acordo com Curt, antes de ser distribuído, o coco passa por um processo de raspagem externa, para receber a gravação do anunciante. Depois, a fruta segue para as mãos do contratante.
Para ser ecológico, é necessário colocar a mão no bolso Para o empresariado seguir a ideia de mídia sustentável e implantá-la é preciso ter em mente que o valor a ser pago será mais alto que o convencional. Além da mão de obra artesanal, a matéria-prima também tem custo alto. O responsável pela Green Mark, Fernando Curt, exemplifica dizendo que o valor da mensagem limpa na calçada, por exemplo, custa um quarto do valor de um outdoor. No entanto, ele defende que a exposição no painel precisa ser paga mensalmente e que o trabalho sustentável tem duração de até quatro meses com custo único.
O valor da mensagem verde e da gravação em coco segue o mesmo padrão de valores, variando de acordo com o a quantidade de produtos encomendados. O papel-semente, por outro lado, é mais salgado. O milheiro custa em torno de R$ 3 mil, quase duas vezes mais que o papel normal. Cliente satisfeito
O publicitário Walter Thomé Júnior, responsável pela agência Sol Propaganda de Maringá, aderiu à publicidade verde no início deste ano. O retorno, segundo ele, foi imediato. "Os clientes ficaram curiosos. Quando lançamos a campanha sustentável nas redes sociais, o impacto foi multiplicado."
Júnior afirma que, mais do que nunca, as empresas precisam pensar e abordar a sustentabilidade. Para ele, isso rende um olhar diferenciado do mercado. "Sinaliza uma preocupação com a sustentabilidade e com o fato de estarmos antenados nas novidades que não agridem o meio ambiente."