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Entrevista

Mineiro Davi Oliveira busca aproximar os maringaenses da música erudita

Oliveira: "uma criança que queira estudar música consegue aula de graça, pois existem projetos muito bons" | Divulgação/Cesumar
Oliveira: "uma criança que queira estudar música consegue aula de graça, pois existem projetos muito bons" (Foto: Divulgação/Cesumar)

Davi Oliveira é de Belo Horizonte (MG) e começou a se envolver com música desde muito cedo. Foi precoce também a sua responsabilidade em montar e comandar toda a Orquestra Cesumar. Nas festas de final de ano do Natal Ingá, em Maringá, ele está pelas ruas da cidade cumprindo sua missão de aproximar a música erudita do público.

Maringá foi importante na história desse mineiro, pois foi onde cursou a graduação. E ele, por sua vez, também foi importante na história do Município, já que contribuiu para formar um público para música erudita, além, é claro, de satisfazer aqueles que já gostavam do gênero.

Confira a entrevista, por telefone, do músico à Gazeta Maringá.

GAZETA MARINGÁ: Quando surgiu seu interesse pela música?

DAVI OLIVEIRA: Veio de família, desde novinho. Com 7 anos, comecei a tocar instrumentos. O primeiro foi o piano. Alguns anos depois, ingressei no violino. Depois de um amadurecimento musical, comecei a estudar orquestra. O incentivo veio da minha mãe, que é instrumentista. Desde criança, ouvia ela tocar violão. Assim, fui criando meu ouvido musical.

Como a regência começou a fazer parte da sua história?

Comecei na regência devido à necessidade que surgiu na Orquestra de Câmara da Igreja Batista da Lagoinha, um dos grupos musicais do qual participei. Em um momento, precisaram de um regente para conduzir o grupo e essa necessidade acabou se tornando meu carro principal.

Como foram seus estudos?

Primeiro curso de música que fiz foi numa escola chamada Pascoal em Belo Horizonte (MG). Depois fiz aulas particulares com diversos professores. Na adolescência, entrei numa escola muito conceituada em BH: o Palácio das Artes. Lá fiz um curso técnico voltado para regência. Minha formação acadêmica foi realizada na Universidade Estadual de Maringá [UEM]. Fiz parte da primeira turma de regência. Éramos no início 12 alunos, coordenados pela professora Andrea Anhezini. Quando nos formamos, éramos só quatro.

Quais são suas inspirações?

Várias. Desde criança, grande maestros, grandes músicos chamaram minha atenção. Como violinista, Isaac Perlman. Como regente, Leonard Bernstein.

Se não estudasse música, qual outra profissão gostaria de seguir?

Gostaria de trabalhar na saúde. Essa área chama minha atenção, devido à expressão e qualificação do profissional. É um estudo muito profundo, assim como a música é. Gostaria de trabalhar na medicina legal.

Como surgiu a oportunidade para vir para Maringá?

Em 2003, já havia me formado no curso técnico e estava encerrando o ensino médio, tinha 19 anos. Vim para Maringá participar de um concerto tocando violino. Fazia parte da Orquestra de Câmara da Igreja Batista da Lagoinha. Foi quando conheci o reitor [do Cesumar] Wilson Matos. Após o concerto, ele fez o convite para formar a orquestra do Cesumar, na qual trabalho de 2006 até hoje. Depois da proposta, voltei para casa, pensei, conversei com a família, que concordou com a minha mudança. No início, minha mãe veio comigo e ficou alguns meses. Logo depois, fiquei sozinho.

Como foi o processo de montar a Orquestra Cesumar?

Eu cheguei à Maringá e me deparei com uma realidade artística e cultural não tão interessante. Abrimos testes para a orquestra. Ouvi bastante gente. Vi que precisaria de alguns músicos com mais presença. Conversei com o reitor e expliquei que precisávamos de pessoas mais firmes e foi aí que ele foi me ajudando a trazer alguns músicos, colegas de Belo Horizonte. Foi então que trouxe o violinista spallaBruno Corrêa, lá do Palácio das Artes. Trouxe também Alisson Barros, que toca contrabaixo acústico, ele se formou na UEMG [Universidade do Estado de Minas Gerais]. E trouxe o Willfredo Rios, que toca violoncelo. Outros músicos da região de Maringá foram participando do grupo. A UEM abriu novas modalidades no curso de música nesta época.

Como é a interação com o coral do Cesumar?

Fazemos sempre apresentações conjuntas, principalmente de outubro até dezembro. Apresentamos trechos de óperas e músicas populares brasileiras. O coral já existe há cerca de 12 anos e foi formado pelo professor e doutor Hideraldo Grosso. Atualmente, Marcus Geandré é o regente [do Coral].

O Cesumar pretende ter uma graduação de música?

Ainda não temos o curso de música. Existe a intenção de ter. O curso demanda carga horária muito pesada, exige muitas aulas individuais. É um curso caro. No futuro, havendo uma demanda maior aqui na região, o curso deve ser criado.

Como você avalia a formação do público maringaense para a música erudita?

Com o incentivo da prefeitura, com projetos como o Convite à Música, conseguimos criar um público que acompanha e que gosta de música clássica em geral. Hoje não há barreira alguma para apresentar música de orquestra na rua. Por exemplo, na abertura do Natal Ingá, a Orquestra Cesumar participou. O público adora e vibra.

Você percebe alguma diferença entre o público de música de Belo Horizonte e de Maringá?

Como Belo Horizonte é muito grande, a diversidade de público também é muito grande. Lá é muito dividido. Há os que conhecem música clássica, há os que conhecem pouco, há quem não conhece nada. Aqui [Maringá], as pessoas têm muito mais acesso a isso. Hoje uma criança que queira estudar música em Maringá consegue aula de graça e instrumento de graça, pois existem projetos na cidade muito bons. Projeto Som da Banda, projeto da escola de música do Luzamor e outros diversos projetos que a prefeitura apoia. Programas que dão acesso à música através das leis de incentivo à cultura.

O que você mais gosta em Maringá?

Gosto muito das pessoas, o modo que as pessoas me tratam, de como o público nos recepciona. Gosto da beleza da cidade. É muito limpa e muito bonita.

Como é viver longe da família?

Isso é difícil. Belo Horizonte é muito longe: 1,1 mil quilômetros. Tem de conviver com essa saudade. Parentes sempre vêm por aqui, sempre estão por Maringá.

Quais realizações a música já proporcionou a você?

Muito conhecimento histórico e artístico. A música acompanha a história da arte. Música clássica traz conhecimentos profundos. Traz muito sentimento. Deixa você com pensamento mais receptivo. Traz também mais tolerância.

Em relação À música popular, o que você gosta?

Gosto muito de música sertaneja de raiz. São bem feitas. Letra muito interessante. Até arrisco tocar elas no acordeão, que é o último instrumento que aprendi. O acordeão é uma paixão antiga. Já tocava algumas coisas de ver os outros tocarem, percebendo como era a mecânica do instrumento. Este ano, estou estudando acordeão . Meu professor se chama Luiz Correa. Gosto também do grupo religioso e contemporâneo Diante do Trono. Tive muito contato com eles. Gosta do estilo do Sérgio Gomes e da Ana Paula Valadão e também gosto da linha de composição para música gospel deles.

Você tem alguma música preferida?

Há músicas maravilhosas. Minha preferida é a obra do Mahler chamada Sinfonia da Ressurreição. Essa obra me marcou por sua grandeza e pela quantidade de músicos. A letra fala do texto bíblico. É uma peça pesada. Tem um texto e profundidade muito interessantes. Marcou muito minha carreira. Pude ouvi-lá quando era adolescente. Divido minha visão de orquestra antes e depois de Mahler.

Tem algum instrumento que chama mais sua atenção em uma orquestra?

Acabo não definindo o que gosto mais. Orquestra é como se fosse um só instrumento. As cordas são como o coração da orquestra, pulsando o tempo todo. Sopro e percussão trabalham com detalhes dentro da música, com apoios, com desenhos musicais.

Quais são seus sonhos?

Na verdade, um sonho que tenho para Maringá é de que a Orquestra Cesumar tome mais proporção. Não seja só do Cesumar, mas seja de toda Maringá. Quero poder fortalecer a orquestra. Ter cada dia mais reconhecimento do público. Pessoalmente, quero crescer junto com a orquestra.

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