Uma pesquisa encomendada pela Gazeta do Povo revelou que a população das regiões Norte e Noroeste, que vai de Londrina até Paranavaí, são as que mais rejeitam os times de futebol da Curitiba. O índice de indiferença com os clubes da capital chega a 60,64% no Noroeste, e a 58,01% no Norte Central, que incluiu Maringá e Londrina.
Para o sociólogo Gilson Aguiar, professor do Centro Universitário de Maringá (Cesumar), a aversão e a simpatia pelos times da capital estão relacionadas com a formação do Paraná. Ele explica que o estado teve três frentes de ocupação: a tradicional (que inclui o litoral, a Região Metropolitana de Curitiba e os Campos Gerais); a gaúcha (que se estabeleceu nas regiões Oeste e Sudoeste do estado); e a paulista (no Norte e Noroeste paranaense).
"A presença paulista na região Noroeste foi um fator determinante para a popularização dos times de São Paulo. Nós recebemos empresas e lideranças paulistas. Nos identificamos com a cultura, com o jeito de falar. Dentro destes elementos culturais também estão os times de futebol", explicou.
O palmeirense
O palmeirense Felipe Botion concorda com a tese. "Sou [palmeirense] por conta da influência paulista. E não são só os times de Curitiba que não têm vez por aqui, mas o Grêmio e o Internacional [do Rio Grande do Sul] também não são lembrado, pois Maringá não tem tradição de colonização dessa região, como acontece em Cascavel", ponderou.
Botion conta que torce pelo Palmeiras desde criança, mas que a paixão pelo time paulista tomou conta lá por 1998, quando a equipe estava ganhando todas as competições. Desde então não perde nada e agora tem TV por assinatura, para poder ver todos os jogos. "Eu prefiro assistir jogo sozinho, em casa, sem ninguém cornetando, pois sou meio estourado e não quero ver ninguém falando do time. Senão vou querer tirar satisfação e isso não é legal no futebol", contou o estudante.
O são-paulino
Já a história do são-paulino Carlos Emori é de uma família dividida entre vários times. "Meu pai torce pelo São Paulo desde criança. Meu avô comprou jogos de futebol de botão para ele e meus tios. Um ganhou do Flamengo, outro do Corinthians e ele ganhou o do São Paulo", disse. Contudo, nenhum kit do brinquedo era vendido com o brasão dos times do Paraná. "Aprendi torcer com o meu pai. Hoje eu escapo do trabalho para ver os jogos no restaurante perto do trabalho [onde tem TV por assinatura]", disse.
Sobre a birra do pessoal do interior com os times de Curitiba, Botion e Emori compartilham da seguinte opinião: não é que os torcedores de Maringá e região desprezam os times da capital. O que existe é apenas indiferença. "Acho que eles [curitibanos] odeiam mais a gente de que nós odiamos eles", brincou Botion, falando da aparente mágoa que existe por parte dos torcedores da capital que não se entendem a rejeição. "Se eu morasse em Curitiba, eu até torceria por um time de lá", completou.
"Os torcedores do Paraná até criaram uma comunidade no Orkut Maringá Nunca Mais pois eles vieram jogar aqui e não tiveram apoio". Lembrou o são-paulino Emori, se referindo aos jogos que o Paraná Clube mandou em Maringá, no Campeonato Brasileiro de 2005, quando o Willie Davids ficou lotado pelas torcidas adversárias. "O São Paulo mesmo ganhou de 4 a 0", riu.
O Corintiano
Como qualquer reduto de torcedores de times paulistas, Maringá não poderia ficar sem os loucos pelo Corinthians. A cidade até conta uma torcida organizada do Timão: a Fiél Maringá, que tem página na internet e sempre organiza excursões para ver o clube jogando. Mateus de Oliveira, 16 anos, é corintiano roxos e pé vermelho . Aprendeu a torcer pelo Corinthians graças ao pai. "Se tiver um time paranaense para torcer tem que ser da cidade, tanto que fui da torcida organizada do Galo Adap. Com os times da capital eu não me identifico", disse.