Serraria São Sebastião, de Vanor Henriques| Foto: Divulgação
Serraria Santos Balani S.A., de Vitório Balani e Durval Francisco dos Santos

O período de 1942 a 1960 pode ser compreendido como o mais proveitoso para os industriais do ramo das serrarias. O motivo é que, no início do desbravamento e respectivo desmatamento, a região da Vila Pinguim ou Macuco, que veio a se constituir na Maringá atualmente conhecida, era abundante em diversas espécies nativas. Para se ter uma ideia de quão promissor foi esse segmento, basta analisarmos que, em 1950, a cidade, então com 38.588 habitantes, chegou à marca de mais de 20 serrarias funcionando simultaneamente.

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Antes da constituição do distrito, em maio de 1947, duas serrarias já desenvolviam suas atividades. Ambas deram início a suas atividades quase que simultaneamente no conhecido Maringá Velho. Uma delas era a empresa da então Companhia de Terras Norte do Paraná; e, no lado oposto, a Serraria Villanova, de propriedade de Inocente Villanova Júnior.

Apesar do traçado urbanístico, elaborado por Jorge de Macedo Vieira, ter sido finalizado e entregue em 1945, a Companhia de Terras ainda levou aproximadamente dois anos para implantá-lo. Confrontando com o mapa constituído, Macedo não previu as regiões periféricas da cidade que estavam por se constituir, onde ficavam as serrarias. Em primeira instância, o Parque Industrial foi abrigado na Zona 10, com borda para a Avenida Colombo, rodovia de escoamento de produtos e a linha férrea.

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Após 1947, com o traçado sendo colocado em prática, as serrarias continuaram a ser instaladas fora da região destinada às indústrias. Em suma, elas foram constituídas nas proximidades dos perímetros urbanos. Esse foi o caso da Serraria SantosBalani S.A., de Vitório Balani e Durval Francisco dos Santos; Serraria Brenner, de Agostino Brenner; Serraria São Sebastião, de Vanor Henriques; Serraria Santa Helena; Serraria Camponesa; Serraria Nossa Senhora de Fátima; Serraria Slaviero; Serraria dos Irmãos Toda; e também da Madeireira Philips.

A única que se instalou na antiga Avenida das Indústrias, na Zona 10, nesse período foi a Serraria Werneck, de Waldomiro Werneck. O local é, atualmente, a Avenida Bento Munhoz da Rocha Neto.

Apesar disso, a consolidação das serrarias em zonas periféricas pode ser entendida como uma importante ferramenta para expansão dos bairros adjacentes de Maringá. Em outras palavras, esses territórios, anteriormente pouco habitados e nem considerados pelo traçado de Jorge de Macedo Vieira, passaram a receber habitantes, devido a instalação das serrarias. Um claro exemplo pode ser constatado no atual bairro Mandacaru, anteriormente Vila Progresso. Por volta de 1946 e 1947, a Madeireira Philips foi fundada na região e, com isso, o local teve uma considerável elevação no número de seus moradores.

Essa indústria também gerou possibilidades de expansão mercadológica para seus gestores. Inocente Villanova Júnior e Agostino Brenner também se tornaram proprietários de postos de combustíveis na cidade. Além de redução de custo para o transporte de seus produtos, lucraram com a revenda para os outros empresários.

Há ainda os trabalhadores que sobreviveram ao sistema árduo. Se as toras chegaram para o beneficiamento, significava que diversos homens haviam extraído a matéria prima anteriormente. Isso sem contabilizar as colônias de trabalhadores que se formaram dentro dos lotes das serrarias, criando uma forma sociocultural diferenciada do contexto daquele período.

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As serrarias, na década de 1970, tiveram um declínio acentuado. Os proprietários das primeiras empresas mudaram de segmento ou findaram as atividades. Os formatos de trabalho, resultantes do capitalismo, foram modificados e modernizados.

Vale ressaltar, porém, o empreendedorismo dos pioneiros das serrarias de Maringá. Muitos deles, como é o caso de Durval Francisco dos Santos, não só gerenciavam a empresa, como também viajavam constantemente para comercializar seus produtos. Típicos empresários do "eldorado" do Norte do Paraná.

Eram outros tempos. Tempos em que cada serraria possuía seu próprio gerador de energia e possuía sua colônia de trabalhadores, produziam sonhos e, ali mesmo, ceifavam-se a vida.

Miguel Fernando escreve aos sábados na Gazeta Maringá. Ele é bacharel em Turismo e Hotelaria e especialista em História e Sociedade do Brasil. É instituidor do Projeto Maringá Histórica, o qual se estende na coluna publicada na Gazeta Maringá e em outra, produzida para a Revista ACIM