Animais
Reserva do Iguaçu tem espécies desconhecidas, afirma pesquisador
O Parque Nacional do Iguaçu é um dos locais mais procurados por pesquisadores, segundo Ronaldo Morato, coordenador do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Predadores (Cenap). Ele destaca que foi elaborada uma lista de espécies ameaçadas ainda encontradas em unidades de conservação e que, através de um sistema chamado Sisbio, a comunidade acadêmica pode consultar a relação de espécies conhecidas nas unidades. Morato reconhece que é possível que espécies ainda desconhecidas ou não identificadas vivam no parque, especialmente invertebrados.
Rafael Xavier, analista ambiental e veterinário do parque, explica que mais de cem pesquisas já foram elaboradas, sobre os mais diferentes aspectos, na tentativa de identificar os moradores naturais do local e a que tipo de pressões e impactos eles estão sujeitos. Sobre a fauna, uma das referências é o levantamento feito para o plano de manejo, entregue em 2002. Como de lá para cá correu muita água pelo Iguaçu, a lista sofreu algumas atualizações.
Mesmo recebendo a visita de mais de 1 milhão de pessoas por ano, o Parque Nacional do Iguaçu ainda guarda mistérios. Apenas um pequeno pedaço da unidade de conservação (UC) é acessível aos turistas e o restante ainda está disponível para ser desbravado por pesquisadores. Tanto que hoje não é possível assegurar qual a quantidade e a diversidade de espécies animais que habitam os 1850 quilômetros quadrados do parque. As informações até agora confirmadas apontam a existência de 76 espécies de mamíferos, como onças-pintadas, pumas, antas, macacos e tatus. No lado argentino, com características bem semelhantes, já foram encontradas 118 espécies.
Dezenas de câmeras vigiam a movimentação na mata, mas o trabalho até agora feito pelos cientistas não foi capaz de abarcar as dimensões do parque. Identificar a quantidade e o tipo das espécies é essencial para definir a importância da conservação do maior trecho remanescente de Mata Atlântica no Paraná. Se algumas espécies não encontram espaço suficiente e condições adequadas naquele pedaço preservado, ela dificilmente conseguiriam sobreviver em outros locais mais ameaçados.
A bióloga francesa Anne-Sophie Bertrand integra a lista de cientistas que busca identificar a fauna do parque. Depois de pesquisar onças-pardas em parques do Canadá, ela voltou o foco para o Brasil. Quando visitou o parque em 2001, decidiu que precisava se dedicar a pesquisá-lo. "Foi realmente vocacional, uma vontade de ajudar. Senti que era o que deveria fazer", conta. O retorno aconteceu em 2006.
Por muito tempo, percorreu o parque observando pegadas e arranhões e recolhendo vestígios da passagem de animais. Amostras de fezes enviadas para o Museu de História Natural de Nova Iorque que gratuitamente fez testes de DNA desvendaram a presença de um morador até então sem registros na região: o gato palheiro. Desde setembro, o monitoramento feito pela bióloga ganhou reforço. Anne-Sophie instalou câmeras fotográficas com sensor de calor e movimento. A partir daí, 68 mil imagens dos moradores nativos do parque foram feitas.
Sem dados históricos científicos suficientes para fazer comparações que permitam mensurar se a fauna está diminuindo ou aumentando, Anne-Sophie se concentra nos registros que ela mesma vem recolhendo. "As imagens mostram a simplificação da composição animal. Há bandos enormes de catetos, por exemplo, o que significa a redução no número de predadores naturais que teoricamente compensam para equilibrar o sistema", conta. O doutorado, que avalia como os mamíferos estão reagindo às mudanças de hábitat, deve ser concluído em 2015.
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