Pelo menos 47 municípios das regiões Noroeste e Centro-oeste do Paraná tiveram evasão escolar acima da média nacional no ano passado (confira lista no box abaixo). No caso do ensino fundamental, o índice nessas localidades ultrapassou 3,1% e no do ensino médio, 10,3%, o que é visto com preocupação pelas autoridades. Os números são do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
Prado Ferreira, no Noroeste, e Quinta do Sol, no Centro-oeste, são exemplos dessa estatística. A evasão escolar nesses municípios é maior do que a média nacional nas duas modalidades de ensino verificadas. Em Prado Ferreira, a situação é mais grave no ensino médio, no qual foi registrado o abandono de 21,5% dos alunos. Já em Quinta do Sol, o problema maior é no ensino fundamental, com índice de 10,6%.
A neta de Ana Alves de Souza e Silva, que mora em Prado Ferreira, está nas estatísticas do Inep. Ela parou de ir às aulas quando repetia a 6ª série do ensino fundamental . Perguntada sobre os motivos que a fizeram deixar a escola, respondeu que não gosta da supervisora. Por trás dessa insatisfação, porém, escondem-se sérios problemas familiares. O pai morreu e a mãe está presa. "Eu falo para ela voltar à escola, mas não adianta. Hoje o estudo é tudo na vida, até para varrer rua tem de estudar", disse a avó.
Segundo o Inep, as regiões Noroeste e Centro-oeste respondem por 35% do total de municípios paranaenses com índices de evasão acima da média nacional. No estado, a média de abandono no ano passado é menor que a nacional: 2% no ensino fundamental e 6,7% no médio. Quando se observam os números de 2006, nota-se uma evolução no estado. A taxa no ensino médio, por exemplo, era de 13,5% naquele ano, o dobro da atual.
Apesar de essa taxa estar em queda tanto no Paraná como no Brasil ao longo dos últimos cinco anos, o estado tem 134 cidades com índice de evasão escolar acima da média nacional.
Combate ao abandono une escola e comunidade
O casal José Roberto Roveri e Marineide Vitorino dos Santos tem duas filhas, Giovanna, de 9 anos, e Júlia, de 13. Orgulhosos, os pais contam que as duas são alunas exemplares, sempre exibindo notas altas e participando de atividades extraclasse. "Apesar de estar em uma cidade pequena, a escola tem uma estrutura muito boa. Ela oferece várias atividades e consegue prender a atenção do aluno", observa Roveri, cartorário que cresceu em Atalaia e estudou nas mesmas escolas que as filhas.
Mesmo aqueles mais distantes da escola conseguem manter a frequência nas aulas. Distante seis quilômetros do centro da cidade, a vila rural abriga várias crianças que se deslocam diariamente à Atalaia para estudar. Neli Gimenez Garcia e Vanilda Assis estão entre as mães que se esforçam para garantir o estudo dos filhos. "O estudo é tudo na vida, né? Alguns deles não gostam de ir para a aula, mas a gente fica em cima", conta Neli. De acordo com ela, o Conselho Tutelar também exerce uma forte fiscalização sobre os faltosos.
Na região Sudoeste, o município de Enéas Marques é outro exemplo, com uma das menores taxas de abandono do Paraná, de 0,1%. A secretária municipal de Educação, Cleri Mary Campos, diz que em 2006 foi iniciado um trabalho de acompanhamento dos estudantes faltosos. "Se o aluno falta dois dias sem justificativa, a diretora e uma coordenadora vão até a casa dos pais saber o que está acontecendo. Isso faz com que quase não tenhamos desistências".
Secretaria quer ampliar turno
Aumentar o tempo de permanência dos alunos no colégio e aproximar a família da escola. Essas têm sido algumas das iniciativas adotadas pela Secretaria de Estado da Educação para combater o abandono escolar no Paraná. A superintendente da pasta, Meroujy Cavet, diz que uma das ideias é ampliar o ensino em tempo integral. "Muitas vezes perdemos o aluno para a rua. Ele precisa entender que a escola é dele", ressalta. Nesse sentido, também estão sendo intensificadas as atividades de contraturno, com práticas esportivas, culturais e recreativas.
A secretaria incentiva ainda reuniões entre as direções das escolas e os pais. "Os pais também precisam participar do processo educativo, por isso nós pedimos que eles colaborem", diz Meroujy. A professora Andrea Gouvea, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), acredita que a responsabilidade pelo estudante deve ser compartilhada entre escola e família.