Superar obstáculos e quebrar paradigmas são conceitos que sempre fizeram parte da vida de Cafu, ex-lateral-direito da Seleção Brasileira de futebol. Criado em um dos bairros mais pobres e perigosos de São Paulo, o Jardim Irene, o pentacampeão do mundo teve de superar muitos e se tornou um ídolo no esporte. Até para Maringá ele quase se mudou.
Marcos Evangelista de Moraes, o Cafu, é recordista em participação em finais de Copas do Mundo. Ele atuou em três decisões mundiais seguidas: Estados Unidos (1994), França (1998) e Coreia do Sul e Japão (2002). Não bastasse esse número, o ex-jogador conquistou duas taças e foi o capitão na conquista do penta, em 2002.
Marcante com a camisa 2 Amarelinha, Cafu tem o nome gravado na história do futebol mundial. O pentacampeão falou com exclusividade à Gazeta Maringá, relembrou fatos marcantes da carreira como e atleta e até relevou como quase veio jogar em Maringá.
GAZETA MARINGÁ - Você jogou nos melhores times do futebol, foi campeão mundial duas vezes pela Seleção Brasileira e, mesmo com esse currículo vitorioso, quase vestiu as cores do Grêmio Maringá. Como foi essa negociação?
CAFU - Existiu um convite de algumas pessoas que iriam trabalhar no Grêmio Maringá, mas as negociações não foram para a frente e este foco acabou desviado. Houve, sim, uma tentativa de negociação e no final acabou não dando certo.
Mas você tem alguma relação com a nossa cidade?
Meu irmão viveu na região de Maringá e, fora esse pedacinho da nossa família, não tenho mais nenhum contato. Também não tive a oportunidade ainda de jogar aí, mas uma hora vamos fazer uma visita a essa cidade maravilhosa.
Criar uma fundação com o seu nome já fazia parte dos seus sonhos desde o início da carreira?
Minha mãe ajudava várias instituições, meu pai também. Acho que minha família toda era engajada em trabalhos para ajudar as outras pessoas. Então, com o decorrer do tempo, quando tive mais condições financeiras, resolvi ajudar as pessoas do Jardim Irene que não tiveram as oportunidades como tive.
O local escolhido para erguer uma Fundação Cafu foi o Jardim Irene, onde você cresceu e, por isso, não poderia ser em outro bairro, não é mesmo?
Ah, isso é claro. Montar uma Fundação Cafu em um bairro que não fosse o Jardim Irene seria injusto comigo mesmo e estaria sendo injusto com as crianças do bairro. O objetivo meu e da fundação, o principal, era fazer com que essas crianças tivessem uma direção. Mostrando que, mesmo que a criança vivesse em uma periferia pobre, ela poderia ser alguém na vida. Poderia lutar pelos seus objetivos, pelos seus sonhos. E, no Jardim Irene, onde toda criança tem seus sonhos, tive os meus e graças a Deus realizei, tive a oportunidade de dar oportunidade para essas crianças de realizarem os sonhos delas também.
Você escreveu "100% Jardim Irene" na camisa, quando ergueu a taça da Copa de 2002. Foi tudo planejado antes do jogo ou foi na hora mesmo?
Foi tudo na hora, porque não sabíamos se iríamos ganhar ou não. Então por isso ficou muito natural e tão bonito do jeito que ficou. Achei que seria legal, que o povo do Jardim Irene ficaria feliz em ver uma homenagem daquelas. Acho que eles também foram um pouco campeões, da mesma maneira que fui, porque eles acompanharam minha carreira desde o início e acompanharam todas as dificuldades do início da minha carreira.
Ainda sobre a Copa do Mundo, porque a Copa da França, em 1998, ainda rende tantos mistérios?
Ah, teve alguns mistérios devido àquilo que aconteceu com o Ronaldo. Ele teve uma convulsão dormindo, logo após o almoço ele passou muito mal. Teve de ser internado, teve que fazer exames. Dizem que o Ronaldo não deveria jogar, outros dizem que ele deveria ter jogado assim mesmo. O mistério mesmo de 98 foi esse aí, o que teria realmente acontecido com o Ronaldo ou não. Se ele tinha de jogar, não sou a pessoa adequada a relatar. Tínhamos todo um staff, treinadores, departamento médico. Eles são as pessoas ideais para saber se ele tinha de jogar ou não.
Se você não fosse o Cafu, de três finais de Copa do Mundo seguidas, vários títulos, a fundação existiria?
Opa, sem sombra de dúvidas. A Fundação Cafu existiria independentemente de ter sido campeão mundial ou não. Tanto é que em 2002, quando abrimos as portas da fundação, o projeto já tinha sido avaliado bem antes. Então, a Fundação Cafu iria acontecer de uma maneira ou outra. Os títulos ajudaram e deram mais força para mim, para que pudesse constituir a Fundação Cafu.
Você já olhou alguma criança da fundação e pensou: "eu era como esse garoto"?
Sou como aqueles garotos. Vivi em uma outra vida aquilo que aqueles garotos estão vivendo hoje. Todo dia me pergunto e rezo para que eles tenham o mesmo sucesso que tive. Claro que sei que a maioria deles não vai conseguir, mas os poucos que conseguirem já vai me deixar bastante feliz.
Você tem sonhos para a fundação?
Eu tenho um sonho que a fundação seja autosuficiente, que seja gerida por si mesma, para que se sustente de uma maneira mais tranquila. Quero que a Fundação Cafu continue dando sequência aos nossos trabalhos, continue ajudando as crianças porque a Fundação Cafu, é importante a gente falar, não é uma escolhinha de futebol. O objetivo nosso é a inclusão social. Para que essas crianças tenham uma vida mais digna, é necessário fazer com que a fundação seja uma referência no Jardim Irene.
O ídolo é importante para a criança?
Opa, com certeza. O ídolo é o espelho da criança, é o que a criança vê no futuro. Então sabemos da importância que temos, somos conscientes disso, por isso que fazer coisas do bem só vai atrair as crianças a fazerem coisas do bem, fazer coisas do mal vai atrair as crianças a fazerem coisas do mal.
Antes de se tornar um jogador de futebol conhecido no mundo inteiro, você passou muitas dificuldades. Quais foram as principais delas?
Geral. Não ter condição de treinar, não ter condições de comer após o treinamento, tinha de acordar 4 horas da manhã para treinar as 9 horas. Eu não tinha dinheiro para pagar passagem, aí tinha que pular a catraca ou sair pela porta de trás do ônibus sem pagar.
Para finalizar: a próxima Copa será realizada no Brasil. Ficou aquele sentimento de que você gostaria de ainda estar jogando?
Em relação à Copa do Mundo, estou adorando. Pena que já parei de jogar futebol e não vou poder ter a oportunidade de disputar uma Copa do Mundo no nosso País. Claro que fica um legado também, já que em termos de infraestrutura o nosso país precisa melhorar. Estamos precários em relação a muitas coisas ainda. A Copa do Mundo vai ajudar não só para o momento da competição, mas também o pós-Copa para atender melhor o nosso povo.
Clique aqui para ler a entrevista de Marcelo Evangelista de Moraes, irmão de Cafu, à Gazeta Maringá.
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