Secretaria quer ampliar turno
Aumentar o tempo de permanência dos alunos no colégio e aproximar a família da escola. Essas têm sido algumas das iniciativas adotadas pela Secretaria de Estado da Educação para combater o abandono escolar no Paraná. A superintendente da pasta, Meroujy Cavet, diz que uma das ideias é ampliar o ensino em tempo integral. "Muitas vezes perdemos o aluno para a rua. Ele precisa entender que a escola é dele", ressalta. Nesse sentido, também estão sendo intensificadas as atividades de contraturno, com práticas esportivas, culturais e recreativas.
A secretaria incentiva ainda reuniões entre as direções das escolas e os pais. "Os pais também precisam participar do processo educativo, por isso nós pedimos que eles colaborem", diz Meroujy. A professora Andrea Gouvea, da UFPR, acredita que a responsabilidade pelo estudante deve ser compartilhada entre escola e família.
Reprovação e distorção têm queda
Como a taxa de abandono, outras duas estatísticas educacionais desfavoráveis têm apresentado queda nos últimos anos. As taxas de reprovação no Paraná, que em 2006 eram de 13,7% no ensino fundamental e 12,8% no ensino médio, no ano passado fecharam em 9,2% e 11,7%. Já a distorção idade-série, que indica os alunos com idade superior à recomendada, era de 16,9% no ensino fundamental e 30% no ensino médio. Em 2010, elas caíram para 14,8% e 23,9%, respectivamente.
Para a superintendente da Secretaria Estadual de Educação, Meroujy Cavet, as estatísticas de abandono, reprovação e distorção idade-série estão diretamente relacionadas. "Quando o aluno está com uma idade muito avançada em relação à sua turma, ele se sente desmotivado", aponta. Para atender a esses alunos, a secretaria desenvolve um trabalho de reclassificação, oferecendo aulas de apoio e submetendo o aluno a uma avaliação para acelerar a passagem às séries seguintes.
Um caso extremo dessa distorção pode ser observado em Prado Ferreira. Com 11 anos de idade, Izabela Antunes ainda está no segundo ano do ensino fundamental. Segundo os pais , Sidnei e Ivanir, a diferença se deve ao fato de ela ter passado cinco anos na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais. "Ela tem problema de convulsão, só agora é que começou a ir para a escola", conta a mãe.
Combate ao abandono une escola e comunidade
O caminho para reverter o abandono escolar pode ser longo, mas alguns municípios mostram que é possível ser trilhado. Mesmo em regiões onde existem carências, a quantidade de estudantes que deixou de ir à escola é reduzida. Caso de Atalaia, no Noroeste, onde a taxa de abandono chegou a zero em 2009 e manteve-se em 0,9% no ano passado. Resultado de um trabalho conjunto entre escola, comunidade e Conselho Tutelar.
Entre os 3,4 mil habitantes de Prado Ferreira, na Região Noroeste, vive Ana Alves de Souza e Silva, uma senhora semianalfabeta que tenta fazer a neta de 14 anos retornar à escola. No mesmo município, dezenas de famílias têm em seus quadros algum jovem que, desestimulado, decidiu abandonar os estudos. Eles engrossam uma estatística que atingiu mais de 200 mil estudantes do Paraná em 2010, resultando em números preocupantes em pelo menos um terço dos municípios do Paraná. Apesar de a taxa de abandono escolar estar em queda no Paraná e no Brasil ao longo dos últimos cinco anos, em 134 cidades esse índice fechou acima da média nacional no ano passado.
Dados divulgados recentemente pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) indicam que o Paraná encerrou 2010 com taxas de abandono de 2% no ensino fundamental e 6,7% no ensino médio. Em comparação com a média nacional, de 3,1% e 10,3% respectivamente, as porcentagens são baixas. Quando se observam os números de 2006, nota-se uma evolução na área. A taxa de abandono no ensino médio no Paraná, por exemplo, era de 13,5% naquele ano, o dobro da atual.
Problemas familiares
Se no conjunto o Paraná tem conseguido avanços na luta contra o abandono, em diversos municípios ainda há muito o que fazer. É o caso de Prado Ferreira, onde a taxa de abandono chega a 7,1% no ensino fundamental, a terceira mais alta do estado, e 21,5% no ensino médio, a segunda pior. A neta de Ana Alves repetia a 6.ª série do ensino fundamental quando parou de ir às aulas. Perguntada sobre os motivos que a fizeram deixar a sala de aula, responde murmurando que não gosta da supervisora da escola. Por trás dessa insatisfação, no entanto, se escondem sérios problemas familiares. O pai faleceu e a mãe está presa. "Eu falo para ela voltar à escola, mas não adianta. Hoje o estudo é tudo na vida, até para varrer rua tem de estudar", diz a avó, desconsolada.
No Conselho Tutelar de Prado Ferreira existiam até o início de outubro 27 registros de alunos que pararam de frequentar a escola. No Colégio Estadual Júlia Wanderley, o maior da cidade, a diretora, Maria Aparecida Zanon, aponta a falta de perspectivas como fator predominante para o abandono. "Tem muita família desestruturada, cujos filhos precisam trabalhar cedo. Eles não veem necessidade de estudar, por isso acabam abandonando a escola", avalia. Situação semelhante é verificada em Santa Cecília do Pavão. "Aqui não tem emprego, então os jovens vão buscar trabalho em outras cidades", relata o diretor do colégio estadual Jerônimo Martins, Élio Francioli. Apesar das dificuldades, a cidade conseguiu reduzir suas taxas de abandono de 2009 para 2010.
Escola mais atrativa
Para especialistas, o combate ao abandono passa por mecanismos que tornem a escola mais atrativa para os estudantes. "Essa parcela da população tem outras carências, que fazem com que a escola seja colocada em segundo plano. Se houvesse um redirecionamento no trabalho pedagógico, dedicando mais tempo a esses alunos, talvez eles se sentissem mais estimulados", diz Andrea Barbosa Gouvea, professora do Núcleo de Pesquisa em Políticas Educacionais da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
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