Outro lado
Cooperativa com sede em Londrina nega acusações
O presidente Confepar, Renato Beleze, afirmou que as denúncias de Antenor Pedro Signor são uma estratégia da quadrilha responsável pela adulteração do leite. "Estão querendo jogar a culpa nas empresas, mas nem nós, nem as outras que apareceram nas investigações temos culpa."
Beleze negou qualquer participação da cooperativa no esquema. Segundo ele, a Confepar está há mais de 30 anos no mercado sempre trabalhando com lisura. "Hoje decidimos que vamos entrar com pedido para que o promotor gaúcho ouça a gente também. Ele só está dizendo que temos que nos explicar, mas quem vai provar isso é o Ministério da Agricultura, fazendo as análises. Foram presos quatro carreteiros [transportadores], um era nosso. Não pegaram nenhuma análise da Confepar mostrando leite fraudado."
De acordo com Beleze, o Ministério da Agricultura realiza análises diárias nos produtos envasados pela cooperativa. "Estamos totalmente abertos. Fazemos a rastreabilidade de todo nosso leite e estamos esperando que sejamos incluídos para o promotor nos ouvir."
Ontem, o promotor Paulo Tavares instaurou um processo administrativo para investigar a cooperativa. A primeira medida foi solicitar o recolhimento das marcas Polly e Cativa do varejo para testar a qualidade do produto.
Um dos presos na segunda fase da operação Leite Compen$ado revelou que a Agroindustrial Cooperativa Central (Confepar), com sede em Londrina, tem participação direta no processo de adulteração do leite. A afirmação foi feita pelo transportador Antenor Pedro Signor, detido na operação deflagrada pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul que investiga um esquema criminoso de adulteração de leite in natura através da adição de água e ureia, contendo formol. Signor aceitou a oferta de delação premiada e deu detalhes de como funcionava a fraude.
Em depoimento, o transportador afirmou que desde janeiro a Confepar recusou apenas uma carga de leite adulterado. Segundo Signor, de cada 30 cargas mensais do produto, ele fraudava 20. Ele era responsável pelo envio de 600 mil litros de leite a cada 30 dias.
O transportador revelou que o contato com a Confepar era feito por intermédio de Daniel Villanova, responsável pelo posto de resfriamento de Selbach e preso na primeira fase da operação, que se propôs a pagar mais pelas rotas do que a concorrência. "[A Confepar] não só sabia como incentivava. Sabia que minhas cargas tinham problema e, através do Daniel, eles me recrutaram", disse em entrevista ao jornal Zero Hora.
Em depoimento ao Ministério Público, Signor ressaltou que todo o leite no entreposto teria como destino a cooperativa londrinense. "A mistura de água e ureia era adicionada ao leite depois da coleta nas propriedades rurais e colocada em todos os tanques, sem separar leite de boa qualidade do adulterado. Quando havia fiscalização do Ministério da Agricultura era avisado para desviar a rota", contou aos promotores.
A fórmula para adulterar o leite foi apresentada pelo próprio Villanova ao transportador. A receita consistia em adicionar 70 litros de água e 300 gramas de ureia ao leite.
Segundo o promotor Mauro Rockenbach, a delação premiada foi proposta pela "qualidade da informação" repassada ao MP. "Nosso principal objetivo neste momento é estancar a atuação predatória e criminosa da Confepar no Rio Grande do Sul", afirmou em nota.