Logo depois da sentença dada a Leandro José da Silva, 24 anos, pelo atropelamento que causou a morte de um casal de velhinhos em outubro de 2008, o promotor Edson Cemensati se mostrou revoltado com a decisão e informou que vai recorrer ao Tribunal de Justiça para pedir anulação do júri popular ocorrido na segunda-feira (23), em Maringá. O promotor alega que duas juradas são alunas do advogado de defesa José Carlos Ragiotto, em uma faculdade de direito da cidade, o que teria influenciado no resultado do julgamento. Silva foi condenado a cinco anos, sete meses e 15 dias em regime aberto.
De acordo com Cemensati, as duas alunas não poderiam compor o grupo de jurados, pois teriam sido influenciadas em sala de aula pelo advogado Ragiotto. "Ele deveria ter se manifestado e pedido o impedimento das duas alunas que compuseram o júri, mas ao contrário disso, se aproveitou da situação", afirma o promotor.
O promotor afirma que as estudantes tiveram acesso a todo processo antes do julgamento. "Tive informações de que o advogado de defesa levou os processos para sala de aula, inclusive com fotografias. Ele usou o poder de professor e sua hierarquia frente as suas alunas. Antes mesmo do julgamento elas já estavam com a opinião formada sobre o caso", ressalta.
O Ministério Público (MP) queria que o réu fosse condenado com base no Código Penal e não com base no Código de Trânsito, em razão da gravidade do caso.
Segundo o Ragiotto, a argumentação do promotor é infundada. "O promotor já sabia que tinha alunas minhas no júri, mas só fez questão de mencionar quando o julgamento acabou. Foi aí que perguntei a ele: se a promotoria tivesse ganhado o caso, o que você faria? Ele respondeu: não falaria nada porque não haveria prejuízo. Ridículo a resposta.", diz Ragiotto.
O advogado disse não existir lei que proíba alunos de faculdade participem de júri onde o professor é o advogado ou promotor. "Foi uma colocação infeliz do promotor. Ele pode recorrer, mas quem vai decidir é o Tribunal de Justiça. Duas pessoas morreram naquele acidente trágico e ele queria praticamente ceifar outra vida. O júri decidiu que o meu cliente teve culpa, mas não o dolo (intenção) como o promotor gostaria", diz.Acidente
O atropelamento aconteceu por volta das 5 horas na Avenida Colombo, uma das vias mais movimentadas de Maringá. O casal tentava atravessar a avenida em uma bicicleta quando foi atingido pelo carro guiado por Silva. O motorista tentou fugir mesmo com o corpo da senhora preso ao pára-brisa do carro. Valdemar Pacífico, 68 anos, e mulher, Diva Rosado Pacífico, 67, morreram na hora.
Silva ainda tentou fugir virando em uma rua menos movimentada, mas foi perseguido por pessoas que presenciaram o acidente. A fuga terminou três quarteirões depois, quando ele perdeu o controle do veículo e bateu em uma árvore. Silva foi agredido e detido por populares.