O delegado-chefe da Polícia Civil de Apucarana, Valdir Abrahão, dois policiais civis e mais 21 pessoas foram presas, ontem, acusadas de manterem um grande esquema de falsificação de produtos, sonegação fiscal e pagamento de propina. O grupo de policiais receberia R$ 30 mil mensais de aproximadamente dez empresários, pagamentos que ocorriam em churrascos promovidos pelos agentes. As prisões foram efetuadas pelo Grupo Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) durante a operação Jolly Roger [nome da bandeira dos piratas]. A operação integrou ação nacional do Ministério Público que desarticulou, em 12 estados, quadrilhas que desviaram mais de R$ 1,1 bilhão dos cofres públicos. No Paraná, o desfalque pode chegar a vários milhões de reais.
Em Apucarana, o esquema funcionava com a participação de policiais. Segundo as investigações, Edson Sanches Antunes, superintendente da delegacia; e Sebastião Vanderlei, investigador; e o próprio delegado-chefe receberiam propina para fazer vistas grossas à fabricação dos produtos falsificados de grandes empresários, enquanto apertavam a fiscalização em pequenas fábricas.
O esquema teria começado em 2012, depois da realização de operações de combate à falsificação na cidade. Vendo a potencialidade dos empresários, os policiais passaram a oferecer "proteção" em troca de dinheiro. Segundo o promotor Cláudio Esteves, o pagamento de propina era realizado mensalmente e em dinheiro.Durante quatro meses de investigação, a relação próxima entre os policiais e empresários foi flagrada, inclusive com imagens, pelo Ministério Público. "Temos elementos consistentes dessa relação, inclusive com filmagens, declarações e apreensões de produtos", disse.
Depoimentos de empresários na tarde de ontem reforçaram a participação do delegado-chefe da Polícia Civil de Apucarana, Valdir Abrahão, no recebimento de propina. Essas revelações fizeram a Justiça reconsiderar o pedido de prisão, negado anteriormente.
Em 2011, Abrahão chegou a comandar uma operação contra a pirataria em Apucarana que resultou na prisão de oito pessoas. Na ocasião, o alvo era empresas de confecções e bonés que falsificavam produtos de marcas como Billabong, Mormaii, Adidas e Nike.
Segundo o promotor Cláudio Esteves, a maior parte dos produtos falsificados fabricados em Apucarana era encaminhada para São Paulo. Bonés e camisetas, contendo etiquetas de produtos 100% originais, eram comercializados em lojas, por exemplo, da Rua 25 de Março.
Em Apucarana e outras cidades da região não divulgadas, foram cumpridos 23 mandados de prisão e 46 de busca e apreensão. Mais de cem policiais, além de auditores da Receita Federal e do MP e de fiscais da Receita Estadual, colaboraram na operação.
Vinte e um presos foram transferidos, no começo da tarde de ontem, para a Penitenciária Estadual de Londrina (PEL 2). Já os dois policiais e o delegado foram encaminhados para a Curitiba. Um empresário continua foragido. Os suspeitos de participarem do esquema podem responder pelos crimes de sonegação fiscal, lavagem de dinheiro, falsidade ideológica, corrupção ativa e passiva.