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Desaparecidos de Maringá: acima, imagens de José Carlos dos Santos (esquerda) aos 12 anos e de Ednilton Palma (direita) aos 10 anos; abaixo, as projeções digitais deles na idade adulta | Arquivo / Sicride
Desaparecidos de Maringá: acima, imagens de José Carlos dos Santos (esquerda) aos 12 anos e de Ednilton Palma (direita) aos 10 anos; abaixo, as projeções digitais deles na idade adulta| Foto: Arquivo / Sicride

Desaparecidos do Noroeste

Ana CalbaizerDesapareceu em 1º de janeiro de 1953, aos 4 anos, em Arapongas

Ednilton PalmaDesapareceu em 29 de março de 1992, aos 10 anos, em Maringá

José Carlos dos SantosDesapareceu em 3 de março de 1992, aos 12 anos, em Maringá

Leandro CorreiaDesapareceu em 22 de maio de 1990, aos 3 anos, em Roncador

Leonardo de Mello SilvaDesapareceu em 14 de outubro de 2001, aos 3 anos, em Umuarama

Letícia Morais de OliveiraDesapareceu em 9 de agosto de 1995, aos 3 anos, em Iporã

Vilma (sobrenome desconhecido)Desapareceu em 12 de março de 1966, com 1 ano, em Janiópolis

Drama que dura 19 anos

A vida de Elisete Maria dos Santos, 53 anos, mudou completamente desde 3 de março de 1992, véspera de Carnaval, quando o filho mais velho, José Carlos dos Santos, à época com 12 anos, saiu de casa para entregar limões para um amigo e nunca mais voltou. Ela se separou do marido, parou de trabalhar e sempre se pega chorando por conta do desaparecimento do filho.

Nesses 19 anos, ela recorreu a tudo e a todos, a fim de encontrá-lo, mas sem sucesso até hoje. Houve apenas alarmes falsos. Um deles aconteceu em 1996, quando Elisete enviou uma carta para escritora Glória Pires, para que incluísse a foto do filho na campanha em prol das crianças desaparecidas movida pela novela global Explode Coração. "Um homem ligou dizendo que meu filho estava na Bahia", lembrou. "Fui até lá, mas descobri que não era o meu Carlinhos, mas, sim, outra criança que também tinha desaparecido."

Se estiver vivo, José Carlos teria, hoje, 29 anos. Elisete contou que o filho sempre se diferenciou dos outros dois irmãos, de 26 e 25 anos, por ser mais sério. Ele estudava de manhã e trabalhava em uma lotérica no período da tarde. "Ele nunca gostou muito de brincar com os irmãos e com os primos", disse. "Ele se preocupava em ganhar dinheiro, dizia que queria ser rico, comprar casa e carro."

Na época, a família vivia no Jardim Alvorada 3 e hoje mora no Jardim Alvorada. A casa é repleta de fotografias do menino, fazendo com que todos não se esqueçam do seu desaparecimento. Ao longo dos anos, os meses de fevereiro e junho são os mais dolorosos para a mãe, pois são aqueles que nos quais se completam os aniversários de sumiço e de nascimento, respectivamente. "Apesar do tempo que já passou, ainda acredito que irei reencontrá-lo", afirmou.

Sete famílias sofrem há anos por conta de crianças que desapareceram na região Noroeste do Paraná. Entre essas crianças, todas com idades entre 1 e 12 anos, a primeira desapareceu em 1953 e a última, em 2001. Desde então, os rostos delas se tornaram conhecidos em todo o Brasil, por conta de fotos divulgadas pela polícia, pela imprensa e pela internet. Essas informações constam no banco de dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF) do Paraná.

Das sete crianças, duas moravam em Maringá e o restante em Arapongas, Iporã, Janiópolis, Roncador e Umuarama. Apesar de terem desaparecido há vários anos, os familiares ainda alimentam a esperança de encontrá-las vivas. No Paraná, além da PRF, o Serviço de Investigação de Crianças Desaparecidas (Sicride) trabalha para tentar descobrir o paradeiro de todas elas.

Na PRF, a lista conta com 46 nomes desaparecidos no Paraná, entre crianças e adolescentes. Já no Sicride, que trabalha somente com crianças, 1,5 mil ocorrências foram abertas no estado desde que o setor foi criado em 1996. Deste total, a delegada Ana Cláudia Machado disse que apenas 11 não foram localizadas. Há ainda outras 11 crianças que sumiram antes da criação do órgão e não foram encontradas até hoje.

O desaparecimento de crianças se dá por vários motivos. O principal é a fuga de casa, que pode acontecer porque a criança enfrenta algum problema com a família, porque quer viver uma "aventura" em outro lugar ou porque decidiu dormir na casa de um amigo e se esqueceu de avisar os pais. Há ainda casos de crianças que sofreram algum acidente enquanto estavam na rua ou foram levadas para outro lugar por pessoas conhecidas ou não.

Os casos de subtração de crianças por outras pessoas correspondem a um número considerado pequeno pelo Sicride, girando em torno de 5% do total. Mesmo assim, para conscientizar os pais e as crianças desse perigo, gibis temáticos foram distribuídos em todo o estado. De todos os desaparecidos localizados, cerca de 3% já estavam mortos, alguns assassinados.

A delegada afirmou que quando uma criança some, os familiares não precisam esperar 24 horas para comunicar a polícia. No início da década passada, uma lei foi incluída no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), para que as buscas comecem de forma imediata. "Quanto antes começarmos a procurar as crianças, mais chances temos de encontrá-las", disse Ana Cláudia.

A PRF também realiza trabalho para descobrir o paradeiro das 46 crianças e adolescentes desaparecidos no estado. Segundo o chefe da comunicação social da corporação, o inspetor Wilson Martines, os policiais são orientados a abordar pessoas que circulam pelas margens das rodovias estaduais e nas fronteiras do estado, a fim de verificar suas identidades. "A gente também divulga as fotos no site e também em parceria com empresas de pedágio", disse.

Qualquer pessoa que encontrar alguém cujas características remetam às de crianças desaparecidas pode entrar em contato anonimamente com a PRF pelo telefone 191 ou em qualquer posto da corporação nas rodovias federais. Já o Sicride pode ser contatado pelo número (41) 3224-6822, que funciona 24 horas. É também possível acionar as Polícias Civil e Militar e a Vara da Infância e Juventude.

A lista de desaparecidos pode ser vista nos sites da PRF e do Sicride. Neste último, é possível ver projeções digitais que mostram a aparência adulta de crianças que desapareceram há muito tempo.

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