As ambulâncias do Samu estão circulando em Maringá, desde o início do ano, com a recomendação de não ultrapassar o limite de velocidade das vias. A determinação partiu da direção local do Samu e está causando preocupação entre alguns funcionários do órgão, que temem que os atendimentos de emergência sejam prejudicados.
A decisão é uma medida interna e foi tomada porque as ambulâncias se envolveram em cinco acidentes em menos de dois meses, no ano passado. Dois veículos tiveram de ser tirados de circulação para o conserto, reduzindo a capacidade de atendimento. "Apuramos os motivos desses acidentes e vimos que era necessário enfatizar aos motoristas a importância de respeitar as normas de trânsito", diz o coordenador do Samu na cidade, Enio Teixeira Molina Filho.
O ofício circular no qual consta a determinação, que foi tomada durante uma reunião do órgão, não faz menção a situações de emergência. Alguns motoristas, no entanto, temem punições administrativas e estão reduzindo a velocidade mesmo nesses casos, segundo o Sindicato dos Servidores Municipais de Maringá (Sismmar), que representa os trabalhadores. "Isso é ruim, porque a velocidade pode salvar vidas. Em alguns casos, um minuto faz diferença", considera a vice-presidente do sindicato, Cibele Campos.
O Samu se defende alegando que o tempo médio entre o recebimento da chamada e a chegada da viatura ao local do acidente, que gira entre oito e dez minutos, não se alterou após a mudança. Diz ainda que os motoristas têm liberdade para decidir qual é a velocidade mais adequada em cada situação. "As ambulâncias têm uma estrutura de UTI móvel. Então desenvolver velocidades acima do permitido é algo que não se justifica", acrescenta Molina.
O Sismmar admite que, uma vez instalado na viatura, o paciente está devidamente atendido, mas não reconhece o cálculo de que o tempo do atendimento permaneça inalterado. "É uma matemática que não fecha. Como eles podem andar mais devagar e chegar no mesmo tempo de antes", questiona Cibele. O sindicato fala ainda que a medida busca apenas reduzir os danos das ambulâncias, sem se preocupar com a vida dos pacientes feridos.
Diante do impasse, os diretores do Samu e do Sismmar se reuniram no começo da semana, mas não chegaram a um consenso. Uma nova reunião, com a presença dos motoristas as ambulâncias, deve ser realizada após o Carnaval.
O secretário de Saúde de Maringá, Antônio Carlos Nardi, que participou do encontro, defende a recomendação: "A medida diminuiu as baixas das nossas viaturas e não interferiu no atendimento". Ele diz que a norma só será revista caso aconteçam problemas, o que ainda não foi registrado.
Como o Samu é um órgão administrado pelo município, a adoção de medidas como essa varia de cidade para cidade. Em Curitiba, por exemplo, menos de 3% dos 250 atendimentos diários resultam em multas, o que, para o diretor do órgão na Capital, Matheus Chomatas, não justifica uma recomendação como a feita em Maringá.
Como é o atendimento
De acordo com o departamento jurídico do Sismmar, que analisou o caso, o Código de Trânsito Brasileiro (CTB) não contém qualquer item que dispense as ambulâncias da obrigação de respeitar os limites de velocidade das vias. A única prerrogativa desses veículos é a preferência de circulação.
Na prática, as multas por excesso de velocidade praticamente não existem, pois, após a infração, o Samu se isenta da punição alegando, por meio de documentos, que o motorista infringiu a norma porque estava em um atendimento de emergência, cumprindo o próprio ofício.
Molina explica que, quando o Samu é comunicado de uma ocorrência, um médico toma conhecimento da gravidade do fato e aciona a ambulância mais próxima há quatro bases em Maringá determinando a prioridade de atendimento. Esta varia de um a três, conforme a urgência da situação. O motorista, então, baseado nessa orientação, parte para o atendimento. Todos os profissionais passam por cursos de treinamento que incluem aulas de direção defensiva, além de treinamentos de reciclagem.
O Samu de Maringá tem nove viaturas, duas batidas, duas em conserto e cinco em circulação. O órgão conta com quase 100 profissionais, sendo 20 médicos e 25 auxiliares de enfermagem. Em média, são atendidas 40 ocorrências por dia.