Loja especializada no ramo estima que 4,2 mil armas de fogo sejam comercializadas por ano no Paraná| Foto: Albari Rosa/ Gazeta do Povo

Reflexo

Números não impactam na violência, avalia delegado da Homicídios

O delegado Cristiano Augusto Quintas dos Santos, adjunto da Delegacia de Homicídios de Curitiba, entende que o aumento da venda de armas de fogo na Região Sul não traz reflexos nos índices de violência. "Esse armamento mencionado em pesquisa é regularizado. O índice de crimes cometidos com armas legalizadas, cadastradas, é quase nulo. É muito maior o número de homicídios cometidos com armas brancas, por exemplo, do que com revólver registrado", disse.

Santos também "desconfia" da queda brusca da venda de armas em outras regiões. Para ele, o que pode estar ocorrendo é que as pessoas estejam recorrendo a armamentos clandestinos, comprados no mercado paralelo e não cadastrados pela Polícia Federal (PF). "Como as exigências [para comprar arma] são grandes, o cidadão acaba recorrendo à ilegalidade", afirma.

Ele é favorável às exigências da PF para aquisição de armas, mas é reticente quanto ao discurso desarmamentista. "Se o rigor aumentar, vai acabar empurrando esse cidadão que quer ter uma arma em casa para o mercado clandestino", estimou.

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Mulheres estão cada vez mais armadas, diz Ipea

Os dados da pesquisa do Ipea indicam que as armas de fogo se concentram nas mãos de homens, principalmente em duas faixas etárias: entre 20 e 29 anos, e de mais de 60 anos. De acordo com o Ipea, para cada mulher que comprou uma arma de fogo no período do estudo, oito homens também se armaram.

O estudo revela que a maior proporção de compra ocorreu entre chefes de família e que a comercialização se concentrou de forma considerável entre as classes A, B e C.

Em contrapartida, a pesquisa denota que o perfil dos compradores está mudando. O número de mulheres que compraram armas de fogo, por exemplo, aumentou 171%. Os idosos também continuam a se armar: o índice de pessoas com mais de 60 anos que adquiram armas cresceu 22%.

O que é preciso para comprar uma arma

Para comprar uma arma, não basta apenas ir a uma loja. Antes, o cidadão precisa concluir um longo processo de habilitação e cadastro na Polícia Federal (PF), que inclui entrega de documentos e exames. O procedimento tem de ser refeito a cada três anos, quando vence a licença para alguém ter arma em casa.

Além do valor do armamento (cerca de R$ 1,6 mil por um revólver ou R$ 2,5 mil por uma pistola), o cidadão precisará desembolsar cerca de R$ 400 para adquirir o produto. Nesse valor estão inclusos custos com cartórios para retirar três certidões, o exame psicológico e o curso de tiro, ambos cadastrados na PF.

Também é preciso apresentar cópias autenticadas de documentos pessoais (RG, CPF, título de eleitor e comprovante de residência e carteira de trabalho). Todo o processo demora 60 dias, em média. Só depois da conclusão desse procedimento é que o cidadão pode levar a arma para casa. (FA)

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O comércio de armas de fogo sofreu queda na maior parte do país desde a aprovação do Estatuto do Desarmamento (Lei 10.826/03), há dez anos. Na média nacional, a retração foi de 35,1%. Contudo, a Região Sul apresentou alta de 21,8% na comercialização nesse período. No Paraná, a realidade é ainda mais drástica: o estado é o segundo onde mais se compra armas no Brasil.

Os números fazem parte de um estudo inédito divul­­gado ontem pelo Instituto de Pes­­quisas Econômicas Apli­­ca­­das (Ipea). Com base em dados do Instituto Nacional de Geografia e Estatísticas (IBGE), o órgão comparou a evolução do comércio de armamentos entre 2003 e 2009. Nesse período, o número de pessoas que afirmaram ter comprado armas de fogo caiu de 56,9 mil para 37 mil: queda de 35,1%.

Para o presidente do Ipea e coordenador da pesquisa, Marcelo Neri, o estudo mostra não só que a Região Sul andou na contramão do restante do país, como revela que as campanhas pelo desarmamento "não pegaram" por aqui. "O efeito do desarmamento foi no sentido contrário na Região Sul", avaliou.

A pesquisa não apresenta dados absolutos, mas a partir dela é possível ter uma boa ideia desse tipo de comércio no país. O Ipea revela, por exemplo, que as chances relativas de aquisição de armas de fogo na Região Sul são 84,7% maior em relação ao Sudeste. Em outro ponto, o estudo lista 14 estados de acordo com a probabilidade de uma pessoa ter comprado armas no período. O Paraná aparece em segundo lugar, atrás apenas do Ceará.

Uma das lojas especializadas no ramo no Paraná, a Az de Espadas, estima que 350 armas de fogo sejam comercializadas por mês no estado, ou 4,2 mil por ano. O vendedor Amós Aquino avalia que as vendas estejam diretamente relacionadas à sensação de falta de segurança e à defesa pessoal do próprio patrimônio. "Quem compra [armas] é a pessoa que entende que o polícia não tem condição estrutural de cuidar dela e da família dela", diz.

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O sociólogo Lindomar Bo­­netti, da Pontifícia Uni­­ver­­­si­­­dade Católica do Paraná, vê com preocupação o aumento do número de armas de fogo em circulação. Para ele, a violência se voltou para o interior dos estados da Região Sul. Por causa disso, as pessoas das pequenas cidades tendem a se armar, como alternativa à "ausência do Estado" na segurança pública. "Para onde vai o capital, o crime vai atrás. O armamentismo é reflexo disso", resume.

Os dados do Ipea vão ao encontro da análise do especialista. A pesquisa mostra que a venda de armas caiu de forma expressiva nas regiões metropolitanas, enquanto a queda foi mais sensível nas menores cidades e na zona rural. As chances de um morador do campo comprar uma arma, por exemplo, é cinco vezes maior do que um morador de áreas metropolitanas.