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Entrevista

"Temos de somar esforços para chegar a um bom resultado"

Tenente-coronel Antonio Roberto dos Anjos Padilha (esquerda) na cerimônia de posse do comando no 4º BPM | Divulgação/Cabo Daniel Meneghetti
Tenente-coronel Antonio Roberto dos Anjos Padilha (esquerda) na cerimônia de posse do comando no 4º BPM (Foto: Divulgação/Cabo Daniel Meneghetti)

Na última segunda-feira (5), o comando do 4º Batalhão da Polícia Militar (4º BPM) passou por mudanças. O tenente-coronel Antonio Roberto dos Anjos Padilha assumiu a corporação no lugar do tenente-coronel Chehade Elias Geha, que agora está no comando do Batalhão de Polícia Ambiental - Força Verde em São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC).

Casado e pai de um adolescente de 15 anos, o novo comandante do 4º BPM trabalha há mais de 26 anos na Polícia Militar (PM). Filho de um cabo do Corpo de Bombeiros, é curitibano e passou grande parte de sua carreira na corporação no 11º Batalhão da Polícia Militar, em Campo Mourão, no Centro-Oeste do Paraná.

Também esteve a cargo da 3ª companhia de Policia Rodoviária Estadual (PRE), em Cascavel, no Oeste do estado, e do 2º Comando Regional da PM (2º CRPM), em Londrina, até ser convidado a assumir o 4º BPM. "Era meu desejo comandar uma unidade da PM mais para a região Noroeste do estado. O 4º batalhão é pioneiro em algumas ações na PM e fiquei surpreso ao receber o convite, porque é um comando muito importante", disse.

Em entrevista à Gazeta Maringá, o atual comandante do 4º BPM de Maringá falou sobre os desafios de gerenciamento da PM e da importância de integrar a comunidade e outras forças de segurança que atuam no Município.

GAZETA MARINGÁ - Você assumiu a tarefa de comandar o 4º Batalhão. Qual é o principal desafio em Maringá?

TENENTE-CORONEL PADILHA - É dar um bom atendimento às questões de segurança. Maringá é uma boa cidade para se viver e sempre tive o desejo de morar nela. Queremos que as pessoas se sintam seguras. Em um primeiro momento, tenho de me aproximar da comunidade. Temos um entendimento dentro da PM para fazer uma polícia comunitária e de respeito aos direitos humanos. Isso muitas vezes não é entendido pela população, que acha que a PM tem de fazer apenas o trabalho repressivo, com as prisões, mas é possível fazer a prevenção de ocorrências. Essa é a verdadeira polícia comunitária. Se em determinado bairro o cidadão tem problemas de segurança, você tem de ir lá e conversar com a população e encontrar uma solução. Você tem de ser um articulador junto com a comunidade e fazer com que se organize em termos de segurança no sentido de reivindicar uma série de fatores, como a iluminação pública, que propicia uma área segura. Não é sempre eu, tenente-coronel Padilha, que deve estar sempre presente, mas o policial também pode ouvir as reclamações e resgatar a credibilidade da sociedade na PM. Outro ponto é que você não pode fazer isso de forma isolada porque você tem outras forças de segurança que podem ajudar e contribuir. Temos de envolver a sociedade de forma que tenha o seu efetivo papel de cidadania, de comprometimento. Por que se você foi alvo de um marginal hoje, que seu vizinho não seja amanhã.

Um leitor mandou um e-mail para a Gazeta Maringá dizendo que alguns bairros de Maringá têm pouco policiamento, como é o caso da Zona 5. Ele disse também que, atualmente, a PM tem um efetivo muito pequeno para o porte do município. Isso procede?

Isso que ele [leitor] falou procede. As cidades cresceram muito em termos de população e, pela falta de políticas governamentais, o efetivo deixou de ser ampliado. Hoje temos um efetivo que não seria ideal para atender Maringá, mas temos um problema dentro do Paraná em relação a isso. Sobre a questão dos números de policiais, até pouco tempo atrás estávamos mostrando os números da PM, mas por uma questão de segurança e de respeito ao cidadão, não falo na questão do efetivo, porque isso não contribui em nada. Posso falar que tenho deficiência de pessoal e o que está sento feito para resolver isso. Maringá teve um grande ganho com a implantação da escola de formação e aperfeiçoamento de praças para estar formando policiais militares. Essa estrutura ainda está sendo construída, mas posso dizer que até então as formações de policiais militares no Paraná só ocorria dentro da academia policial militar do Guatubê, em São José dos Pinhais, e em alguns núcleos de ensino dentro dos batalhões da PM. Esses policiais, durante o período de formação, podem ser empregados em atividades operacionais pelo 4º Batalhão, então estão aptos a trabalhar na rua, o que contribui para um reforço do policiamento para além do efetivo existente. Estamos esperando que já no primeiro semestre estejam concluídas as obras [da escola de formação de PMs].

Sabemos que não se fala nessa questão dos números do efetivo, mas existe, na opinião do senhor, um número de policiais para uma determinada porção da população?

Tem alguma coisa nesse sentido, mas não gostaria de falar em números. Quando você fala em número de policiais, a conta que você tem de fazer não é única e exclusivamente da PM. Você tem de considerar uma cidade que tenha, por exemplo, a Polícia Federal, Polícia Civil, e somar no contexto. Isso varia conforme os índices criminológicos. A ONU diz que o número ideal é de um policial para 500 habitantes, mas você não pode usar tão simplesmente esse número, por exemplo, na região periférica de uma cidade, onde os problemas recorrentes de tráfico de entorpecentes, de homicídios, entre outros, força o efetivo a ser maior do que em uma área de condomínios fechados. De repente o mesmo índice que aplicaria para Maringá não seria o ideal para Sarandi, por isso que fica difícil ter números absolutos disso. Posso dizer que fazemos esse controle mensal em relação ao número de policiais, área geográfica do município onde estão as ocorrências, mas é algo interno para definir as ações. Hoje com certeza passa de mil habitantes por policial. As coisas estão defasadas em termos de efetivo e estamos além do ideal. É só você imaginar que em um determinado bairro você poderia ter uma viatura exclusiva para atender aquela região, mas o que acontece é que a mesma viatura pode ter de atender cinco ou seis bairros.

O governo do Paraná anunciou que algumas cidades do interior devem receber as Unidades Paraná Seguro (UPS). Maringá tem previsão de receber algo nesse sentido?

Tem previsão e isso se soma aos nossos trabalhos. É um projeto de governo, mas no primeiro momento essa implantação foi dada na capital do estado. Em uma segunda fase será implantada no interior. É bom que Maringá receba [a UPS].

Existe alguma área sendo sondada em Maringá para implantação?

Existe, mas gostaria de não falar nesse momento para não criar expectativa. Estamos trabalhando pelos índices criminológicos e na incidência de determinados indicadores criminais. Quero trabalhar em alguns indicadores, como homicídio, roubo e furto.

Um indicador que vemos crescer em Maringá é do tráfico de drogas. Como que a polícia vê essa situação?

Agora, a grande preocupação da PM está, se você verificar os nossos registros, na reincidência do tráfico, que é muito grande. Então existe todo um ciclo de defesa social que a gente tem de observar e precisa integrar. Esse é o meu objetivo. Integrar ações municipais, da sociedade civil organizada, do Ministério Público e do poder judiciário, além dos órgãos aliados a nível estadual. Porque uma coisa é você prender o traficante ou usuário em um dia e no outro ele voltar para o mesmo local. A prisão dentro do nosso sistema [criminal, de condenação] virou exceção, mas a população carcerária só cresce. Você tem de investir, aí foge um pouco da esfera da PM, bastante em prevenção. Na questão do usuário de drogas, ele também é um problema de saúde pública. O estado tem de investir bastante nessa área porque não é um trabalho exclusivamente de prisão. Temos de integrar ações. Não adianta a polícia ou o município fazer bem feito. Todos devem fazer isso. Temos de somar esforços para chegar a um bom resultado.

O senhor acha que falta um pouco de atenção da população para ajudar no trabalho preventivo da polícia? Muitos furtos e roubos poderiam ser evitados pela própria população que comete erros simples como deixar a casa desprotegida ou chamar a atenção dos bandidos?

Na verdade existem os cidadãos totalmente despreocupados e que criticam o trabalho da polícia. Tem pessoas que pedem para ser assaltadas porque não têm o mínimo cuidado com a segurança, facilitando a ação dos marginais. Não podemos esquecer que segurança pública é dever do estado e responsabilidade de todos. Não estamos pedindo para que cada cidadão seja policial, mas estamos pedindo para que cada cidadão se policie. É tomar cuidado com a sua chegada em casa e não expor dinheiro ou cartões dentro do comércio, por exemplo.

Maringá poderá ter câmeras de segurança em alguns pontos específicos da cidade e também pode ganhar câmeras nos ônibus do transporte coletivo. O senhor vê isso como algo positivo?

Países mais desenvolvidos já se utilizam desses recursos e é claro que esse projeto em relação a câmeras nos espaços públicos vem a contribuir para a polícia de forma geral. Em relação às câmeras nos ônibus, a proteção vai ser para o usuário e os motoristas, que também arriscam as suas vidas. Concordo que tudo pode ser integrado em centros de atendimento de socorros, de emergência da PM, da Polícia Civil, Guarda Municipal, entre outros, para uma soma de esforços. Com uma boa coordenação nisso vamos ter um melhor serviço para a comunidade. O futuro da segurança pública passa justamente por essa integração. Quando isso vai ocorrer não sei, mas em minha opinião é necessário para o poder público ser mais eficiente.

Há alguns meses, a operação Tolerância Zero ganhou bastante repercussão na imprensa local. Quando esse trabalho intensivo deve voltar?

Tenho um projeto em relação a isso para dar um melhor atendimento à população, com ações de fiscalizações urbanas integradas. Vamos fazer isso com o apoio da municipalidade. Primeiro estamos identificando os pontos e faremos atuação em cima deles. Tem de ter o respeito entre as pessoas. O espaço é publico, mas o poder público tem de regular essa convivência. Então não podemos tolerar, por exemplo, a perturbação do sossego com som alto de carro. Queremos montar operações em relação a isso e fazer frente para somar o efetivo da PM aos outros órgãos. Então temos essa preocupação, talvez não com essa roupagem de Tolerância Zero, mas com o mesmo objetivo. Precisamos de apoio de outros órgãos para fazer essa atividade e com certeza teremos, pelas conversas prévias que tivemos.

Tem alguma previsão de quando isso deve ocorrer?

Ainda neste mês [março] quero ter algumas ações nesse sentido. Primeiro quero ter contato com os demais chefes dos outros órgãos para lançar estratégias e ações. O principal agregador de tudo isso é o Conselho Comunitário de Segurança, vinculado à Associação Comercial de Maringá. É um fórum bastante produtivo e Maringá tem uma característica positiva com relação ao debate para encontrar as melhores soluções.

Nesta última semana tivemos o Dia Internacional da Mulher. O senhor tem observado que há o ingresso de mais mulheres na PM, uma carreira que é, ainda hoje, vista como essencialmente masculina?

O ingresso tem ocorrido de maneira significativa e há igualdade de oportunidades para a policial feminina. É claro que muitas vezes há o preconceito da própria população em relação a atividade desenvolvida pela mulher, mas a competência dela é inegável. Elas têm ações vigorosas que impõem respeito como profissional. Desejo meus parabéns a todas as mulheres, que ao longo dos anos foram conquistando o seu espaço.

Você gostaria de deixar uma mensagem para os maringaenses?

O que deixo como mensagem para Maringá é que temos valorosos policiais que se comprometem com a causa pública com dedicação. Enquanto você está descansando no seu lar, o policial passa a noite em claro prestando atendimento e correndo risco de vida para defender a sua. É preciso confiar no trabalho desses policiais militares que são pais de família e têm o compromisso de atender a população.

Ou seja, respeito pede respeito...

Respeito pede respeito.

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