Durante o dia, as obras para o rebaixamento da malha ferroviária que passa no centro de Maringá movimentam a região com o barulho das máquinas, o andar dos trabalhadores e com a curiosidade das pessoas que por ali passam. Já no período noturno, o local se torna um refúgio para moradores de rua dormir e para usuários de drogas. Uma das pessoas que frequenta o local é Alcione (não informou o sobrenome), que disse ter saído de casa por causa do vício em crack. "Eu vivo ali embaixo do túnel há três anos, porque na rua sou humilhada e não posso consumir minha droga sossegada", comentou. A moradora de rua, que diz nunca ter recebido a visita dos órgãos de assistência social, afirma que prefere viver no túnel em vez de uma casa de amparo, pois no local não teria a liberdade que encontra vivendo embaixo do túnel.
Em meio à conversa, que aconteceu às sete horas da manhã nas proximidades da obra, uma moto com um homem bem vestido estacionou alguns metros à frente. Alcione tirou um pouco de dinheiro escondido em sua calça e se dirigiu até o indivíduo, trocando por um saquinho de plástico. Ao retornar até onde conversávamos, ela foi categórica: "agora vou usar minha droga, não posso conversar mais", se dirigindo novamente ao local inóspito onde vive no túnel.
Vander José da Silva, cabo do 5º Grupamento de Bombeiros de Maringá, localizado ao lado das obras ferroviárias, enfatizou que a movimentação dos moradores de rua entrando e saindo do túnel assusta um pouco as pessoas que por ali transitam para o trabalho. "Viver nas proximidades é complicado, pois muitas vezes saem gritando, ficam bêbados, alterados, queimam certos objetos e acumulam lixo", ressaltou da Silva. O funcionário da construtora responsável pelas obras da via ferroviária, que preferiu não se identificar, disse que já houve tentativas de órgãos assistenciais tirarem os moradores dali, mas com pouco sucesso. "Alguns até já aceitaram sair, mas logo voltaram. Parece que não querem ser ajudados", enfatizou.
O engenheiro da Urbanização de Maringá (Urbamar) responsável pelas obras, Edson Cantadori Filho, explicou que futuramente o túnel será fechado, impedindo acesso ao local. "Vai chegar o momento que eles não vão conseguir entrar mais ali embaixo. Quando as obras estiverem concluídas a proteção será reforçada com concreto, grades altas e arame farpado", informou. Atualmente a grade de proteção do local está rompida, fornecendo acesso para o túnel. De acordo com ele, por causa do volume de obras em toda a região, o local específico por onde os moradores e usuários de droga adentram no túnel ficará pronto no final do ano que vem.
Cantadori ainda observou que o local é cercado de parede umedecida pelos lados e acima, no solo é terra batida e cascalho. "Eu pessoalmente não consigo acreditar como alguém pode querer viver nessas condições", assinalou.
O Coordenador da abordagem e atendimento de moradores de rua, Adauto Cezário da Silva, explicou que foram feitas diversas abordagens no local na intenção de recolher as pessoas que ali frequentam, mas que o resultado foi nulo, pois sempre acabam voltando. "Na última vez que tentamos fazer a intervenção e o trabalho de orientação encontramos 11 pessoas embaixo do túnel, inclusive uma criança, mas infelizmente eles resistem e não aceitam o encaminhamento", comentou. Ele ainda disse que já foi encontrada uma pessoa habitando o túnel 1 km e meio pra dentro. "É difícil imaginar que alguém queira morar ali naquele local", concluiu.
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