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Entrevista

Wilson Matos: educação não é prioridade para muitos no governo

Entre os assuntos comentados, Silva criticou o modelo de educação do Brasil no ensino básico | Divulgação/Assessoria de Imprensa
Entre os assuntos comentados, Silva criticou o modelo de educação do Brasil no ensino básico (Foto: Divulgação/Assessoria de Imprensa)

Defensor da educação como propulsora para levar o Brasil ao desenvolvimento, Wilson de Matos Silva, reitor do Centro Universitário de Maringá (Cesumar) e senador durante período do ano de 2007 (abril a julho), coloca a educação como a base dos principais países desenvolvidos do mundo.

A preocupação quando assumiu a vaga de Álvaro Dias no senado, em 2007, ficou clara nos projetos de lei que propôs: vão desde a inclusão da música no currículo do ensino fundamental até o aumento da frequência mínima exigida de 75% para 85% das aulas para aprovação dos alunos na educação básica.

Confira a entrevista de Silva à reportagem da Gazeta Maringá e conheça, entre outros assuntos, a opinião do professor a respeito dos supersalários dos vereadores em Maringá e sobre os próximos sonhos para a instituição em que é reitor.

Gazeta Maringá – O Ibope informou que de 1998 até 2011, as classes C e B em Maringá cresceram mais de 30%. O valor indica que a educação se aproximou mais das pessoas, mesmo que de forma vagarosa?

Wilson de Matos - São vários fatores. A educação tem contribuído muito com o desempenho, entretanto, outro fator importante é o próprio desenvolvimento econômico do Brasil, puxado pelo mundo globalizado e pelo desenvolvimento da China, que tem comprado muitas commodities [mercadorias] brasileiras. São esses dois fatores. Segundo o IBGE [Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística], publicado no ano passado, o curso superior acrescenta cerca de 140% do ganho de uma pessoa, contribuindo muito para o desenvolvimento pessoal e profissional. Hoje, o país tem 6,5 milhões de jovens no ensino superior, ensino que tem crescido em uma ordem de 10% ao ano. Dobrou nos últimos dez anos, entretanto, ainda é pequeno para ser a mola propulsora do desenvolvimento do país. Para se ter uma ideia, isso representa 17% da juventude brasileira. A meta mínima para que o país possa ter um crescimento mais acelerado, promovido realmente por fatores sustentáveis, que é a educação de qualidade, estima-se que seja na ordem de 30% de jovens no ensino superior. Esse índice já foi atingido pela Argentina, Colômbia, Chile, países vizinhos, cuja economia é menor do que a nossa.

O desafio é inserir o jovem brasileiro no ensino superior e, assim, ele se tornar um fator importante para o crescimento econômico brasileiro?

Está em discussão no Congresso Nacional a aprovação do PNE (Plano Nacional da Educação). O PNE será discutido e aprovado para os dez próximos anos, 2010, 2020 e assim por diante. Assim vamos chegar em 2020 com 10 milhões de jovens, ou seja, 30% de jovens no ensino superior. Para isso precisamos colocar mais 3,5 milhões de jovens no ensino superior. Esse é o grande desafio que temos pela frente. Primeiro que a educação brasileira é um grande cone. Nós temos 35 milhões de crianças nas séries iniciais, mas só 10% deles termina o ensino médio. Desses 10%, metade entra no ensino superior: 5%. Ainda mais, 40% dos que entram no ensino superior acabam desistindo no meio do curso. Há demanda qualificada no nosso país, mas a qualificação não tem sido à altura dessa demanda. Esses são alguns desafios que temos no nosso país para nossas autoridades públicas e trago para mim também, como gestor da educação.

A educação de qualidade não está inserida na cultura brasileira ainda?

Eu acredito que precisamos ter um projeto educacional forte, que converta a sociedade ao conhecimento, entretanto, para chegar aos 30% [dos jovens no ensino superior], o que tem faltado é vagas na escola pública e, ou, financiamento para que o jovem tenha acesso para pagar os estudos e, depois de formado, devolver aos cofres públicos. São raros os países do mundo cuja educação superior é gratuita para todos. Normalmente tem alguma universidade pública como referência do ensino e, no restante, o governo financia o aluno. Para se ter uma ideia, um financiamento efetivo que realmente valha a pena ser usado pelo jovem, começou em 2010, com aplicação plena em 2011, que é o aperfeiçoamento do Fies (Fundo de Financiamento dos Estudantes do Ensino Superior). A partir de 2011 ele começou a ter uma dilatação no prazo do pagamento, o recém-formado tem um ano e meio de carência para começar a pagar e depois tem um prazo três vezes maior que a duração do curso para quitar o financiamento.

A inserção de um maior número de jovens no ensino superior serviria para melhorar o país?

O grande desafio na educação brasileira é o aspecto qualitativo. A educação brasileira é uma das piores do mundo, basta ver os indicadores de comparativos, que é o Pisa [Programa para Avaliação Internacional dos Estudantes], o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica [Ideb]. Nos últimos índices do Ideb, feito com alunos das séries iniciais, onde a média mínima mundial para saber se a educação está boa é 6, nós começamos há sete anos com 3,6 e, neste período houve um incremento de 0,8, foi para 4,4. Aí vemos os grandes desafios que temos pela frente no aspecto qualitativo.

Qual é o principal problema na educação básica brasileira?

A nossa escola básica é plenamente de tempo parcial. Pior que isso. A escola começa 7h30 e termina antes do meio dia, são 4 horas. Aí o aluno tem meia hora de intervalo, de recreio, de comida. Então ele não fica 3h30 dentro da sala de aula. Ainda mais, a própria OCDE [Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico] fez uma pesquisa por amostragem há dois anos em cada sala de aula e chegou à conclusão de que no Brasil nós temos 30% de desperdício nesse tempo de 3h30 que o aluno fica em sala de aula. São 12% com atividades burocráticas e 18% com indisciplina. Das 3h30, tiramos 30%, sobra 2h30 de efetiva aprendizagem.

O Ensino a Distância em Maringá cresceu muito nos últimos anos. No Cesumar, por exemplo, subiu de 266 matriculados no primeiro ano de funcionamento, para 15 mil em 2011. O EAD é a o futuro da educação?

É o futuro, mas não vai substituir o presencial. Temos 5.563 municípios no país, menos de 1 mil deles tem faculdade presencial, e os demais? O EAD é mais um modelo a disposição da sociedade, mas temos que tomar muito cuidado. O Ensino a Distância pode ser um instrumento de desenvolvimento e profissionalização do jovem, como estamos fazendo, mas se não for inspecionado pelo governo e bem usado pelas instituições. Certificado é importante, mas muito mais importante é a certeza das competências e habilidades e, para isso, seja qual for o modelo, tem que servir para o aluno estudar muito.

A questão dos supersalários virou polêmica em Maringá. Os vereadores aprovaram um aumento de aproximadamente R$ 6 mil. O senhor acredita que eles exageraram no valor?

A máquina estatal tem que ter um custo baixo, essa tem que ser a meta dos líderes da nossa sociedade. Quanto à questão salarial, acho que as pessoas com bastante competência merecem ganhar bem. Entretanto, o salário dos vereadores poderia ficar abaixo dos R$ 12 mil.

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