A Marinha abriu uma sindicância interna para apurar a participação de um fuzileiro na tentativa de invasão do Itamaraty, durante o protesto que reuniu mais de 30 mil pessoas em Brasília na última quinta-feira (20) e acabou com um rastro de destruição.
Usando um gorro na cabeça, bermuda e camisa de manga cumprida, ele tem um capacete da PM nas mãos e assiste sem nada fazer homens tentarem quebrar a pontapés as vidraças do Itamaraty, sede do Ministério das Relações Exteriores.
A Folha de S.Paulo registrou o momento em que o militar a paisana entra no Itamaraty e é cercado por policiais militares. No vídeo, ele avisa, pela janela, que é fuzileiro antes mesmo de pular as janelas quebradas pelos manifestantes e entrar no prédio.
O fuzileiro chega a deitar no chão e ser imobilizado pela PM, que pisa no braço dele. Um militar fardado tenta impedir que a polícia imobilize o colega que se levanta e mostra uma identificação.
A Marinha informou que a sindicância foi instaurada para esclarecer as circunstâncias da presença do militar na manifestação.Manifestante ou infiltrado
A assessoria de comunicação da Marinha, contudo, não informou se o fuzileiro estava em serviço ou de folga na hora do protesto.
Também não disse se o militar estava escalado para monitorar, pelo serviço de inteligência da Marinha, os manifestantes ou simplesmente protestava.
O regulamento disciplinar militar proíbe expressamente qualquer tipo de participação em manifestações e exige apartidarismo político. A única exceção, segundo o regulamento, para participar de comícios, manifestações ou reuniões públicas de caráter político é estar "devidamente autorizado".
Prisão
O vídeo da Folha de S.Paulo também mostra Samuel Ferreira Souza de Jesus, 19, desempregado, ouvido hoje pela Polícia Civil do Distrito Federal sobre a depredação do Itamaraty.
Segundo a polícia, Samuel Jesus afirmou aos delegados que "agiu sozinho e estava arrependido porque tinha a intenção de prestar concurso público".
Samuel foi localizado pela polícia a partir da análise de imagens feitas durante o ataque ao prédio. Nas imagens, ele aparece com uma boina marrom e uma máscara cirúrgica.
No momento da depredação, o suspeito vestia uma camiseta com a palavra "Cólera" e uma referência ao filme do Reino Unido "V de Vingança" (2006), uma ficção baseada numa história em quadrinhos que faz referência a Guy Fawkes, conspirador do século 17 que participou de um grupo que ambicionava explodir o Parlamento inglês.
No último sábado, a polícia já havia localizado Cláudio Roberto Borges de Souza, que cumpria prisão domiciliar por outra acusação, a de furto de um telefone celular. Ele também disse à polícia estar arrependido.
Além de Cláudio Roberto e Samuel Jesus, a polícia disse ter identificado mais cinco envolvidos na depredação do Itamaraty que, contudo, ainda não foram presos.