A morte de um estudante em Londrina, no domingo passado, vítima do desabamento de uma marquise, chamou a atenção para a falta de manutenção e o uso inadequado dessas estruturas, que protegem vitrines de lojas e entradas de edifícios do sol forte e da chuva. Em Curitiba, basta caminhar pelas ruas da região central, onde as marquises estão mais presentes, para observar que muitas edificações apresentam problemas sérios e oferecem risco às pessoas que transitam por baixo das coberturas.
As irregularidades vão de rachaduras e descolamento do revestimento, oriundas da má conservação, até a presença de corpos estranhos apoiados em cima das marquises, como ar-condicionados e placas de publicidade. Na esquina da Rua José Loureiro com a Avenida Marechal Floriano podem ser vistas até vistosas samambaias, que germinaram e cresceram nas fissuras causadas pela ação do tempo nas coberturas. As raízes forçam a estrutura e aumentam o risco de acidentes.
"Como a marquise é feita de aço e concreto, as pessoas têm a idéia de que uma vez construída não precisa mais se preocupar. Ledo engano. Anualmente é preciso fazer uma impermeabilização", explica o engenheiro Hermes Peyerl, coordenador da Comissão de Segurança de Edificações e Imóveis (Cosedi), órgão da prefeitura de Curitiba. Um dos problemas é o acúmulo de água que, somado à ação do vento e do sol, provoca infiltrações e rachaduras. Se nada for feito, o risco de desabamento é grande.
Em junho de 2001, a queda de uma marquise na Rua Barão do Rio Branco matou uma mulher de 42 anos. O acidente ocorreu em pleno horário do almoço, por volta das 13 horas. "As marquises que apresentam problemas hoje em Curitiba estão em locais onde existe grande tráfego de pessoas, o que sem dúvida é muito perigoso", diz Peyerl.
A má conservação das estruturas não passa despercebida pelos pedestres. "Ando sempre por baixo de marquises, mas morro de medo porque sinceramente nunca vejo qualquer tipo de manutenção sendo feita. De vez em quando até dou uma olhadinha para cima para ver como é que está", diz Daniele Oliveira, vice-presidente da Associação dos Condomínios Garantidos do Brasil, ONG que atua contra a pichação em Curitiba e a degradação da região central.
Inspeção
A convite da Gazeta do Povo, o engenheiro civil Mauro Lacerda Santos Filho, professor titular e chefe do setor de Tecnologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), percorreu o calçadão da Rua XV de Novembro, cujo fluxo de pedestres é intenso todos os dias, para verificar as condições das marquises.
O resultado da visita de campo deixou evidente uma série de irregularidades e o descaso dos proprietários com a conservação. "Não encontramos nenhum caso alarmante, mas vários exemplos de imóveis com problemas que precisam ser resolvidos. A Rua XV já viveu dias piores", explica ele, que é doutor em engenharia estrutural.
Segundo Santos Filho, mais do que a ação do tempo, é a sobrecarga de peso que aumenta o risco de desabamento. Como exemplo, ele mostrou a marquise de um prédio no número 533 da Rua XV. Três equipamentos de ar-condicionado pressionam a estrutura, que já está comprometida por rachaduras.
"A marquise é feita para agüentar no máximo o peso de uma pessoa que porventura faça a limpeza. Claro, nada impede que o dono do imóvel instale placas ou equipamentos. Mas isso deve ser feito mediante laudo técnico que ateste que a estrutura pode agüentar a sobrecarga", diz. O proprietário que não segue essa orientação coloca em risco a vida das pessoas que passam sob as marquises. "Ele está jogando uma bomba para cima e esperando que ela caia", diz.
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