Depois de cinco anos lutando para manter em pé uma área preservada de mata nativa no centro de Irati, no Centro-Sul do Paraná, moradores assistiram nos últimos dois dias tratores e motosserras derrubarem parte da vegetação do local. A empresa dona do terreno de 140 mil metros quadrados pretende fazer um loteamento na cidade de 59 mil habitantes. O empreendimento estava suspenso pela Justiça, que voltou atrás e autorizou a continuidade das obras.
Empresa informa que apenas a abertura de ruas foi realizada
O executivo da empresa Aurora Centennial S/A, Carlos Branco, responsável pelo loteamento, afirma que foi realizada a supressão vegetal para a preparação das ruas. Segundo ele, o trabalho inicial de corte de árvores já acabou. Branco declara que o empreendimento prevê que 35 mil metros quadrados serão preservados, obedecendo a legislação e garantindo, por exemplo, a integridade do arroio. Ele também afirma que nem todos os 140 mil metros quadrados do terreno são cobertos por vegetação nativa. O executivo avalia que, quando a empresa teve a oportunidade, na Justiça, de apresentar defesa, conseguiu provar que tinha direito a realizar a obra.
Conhecida como Mata dos Gomes ou Mata do Arroio dos Pereiras, a área é circundada por residências, tem trilhas abertas pela própria população, um campinho de futebol e uma queda d’água, além de muitas árvores nativas, como araucárias. Em setembro do ano passado, a Gazeta do Povo publicou reportagem sobre o impasse. Na época, o morador Jurandir Fernando Kaminski, 74 anos, destacou a relação afetiva que mantém com a mata. “Aqui era o terreiro da minha casa. Pegava pinhão do chão e sapecava. Tinha uma biquinha que eu e os meus amigos usávamos para tomar banho naquela água gelada.”
Parte dos moradores da cidade quer que a prefeitura ou alguma empresa local adquira a área e a transforme em parque. Para isso, seria preciso desembolsar cerca de R$ 10 milhões, preço estimado do terreno. Ambientalistas se reuniram na segunda-feira com o secretário estadual de Meio Ambiente, Ricardo Soavinski, que teria se comprometido a avaliar se há providências que possam ser tomadas.
Fabiana Orreda, uma das líderes do movimento que busca a preservação da área, conta que uma ação civil pública proposta no ano passado acatou, em primeira instância, o pedido para a que a obra não pudesse continuar. Contudo, o Tribunal de Justiça revogou a decisão. O caso agora aguarda parecer do Ministério Público. “O processo não está concluído. O problema é que se derrubarem tudo agora, não haverá nada em pé caso a Justiça considere que a área deva ser preservada”, comenta. Enquanto isso, a licença para corte de árvores, concedida pelo Instituto Ambiental do Paraná (IAP) expirou e foi revalidada.
Do lado de fora, moradores têm acompanhado a derrubada desde segunda-feira. “Já tem clareira”, diz Fabiana. Para Clóvis Borges, diretor da ONG SPVS, mesmo que a licença ambiental esteja revestida de legalidade, o interesse coletivo deve prevalecer. “É como a situação do ‘pacotaço’ do governo estadual. Algumas medidas até podiam ser legais, mas não eram morais e a pressão popular prevaleceu”, compara.
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