Na primeira nota de alerta, a Comissão Nacional de Energia Nuclear explicou que a manipulação inadequada do material trazia riscos à saúde.| Foto: Olavo da Silva / CNEN
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Foram encontrados pela polícia vazios, neste sábado (6), os cinco invólucros de chumbo que blindavam o material radioativo furtado no dia 30 de junho com a caminhonete que o transportava, na zona leste de São Paulo.

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Segundo informações do governo federal, os invólucros vazios estavam em uma loja de ferro-velho e baterias na Avenida Itaquera, também na zona leste da cidade. Três envolvidos foram presos por porte de material nuclear e receptação (crime que consiste em adquirir mercadorias sabendo serem de origem ilegal).

O material, destinado a uso médico, era transportado pela Medical ALD, empresa especializada e sujeita à fiscalização da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN). Ligado ao governo federal, o órgão possui plantão de 24 horas para resposta a emergências radiológicas em território nacional. A transportadora comunicou o furto do veículo à CNEN ainda no dia 30. A empresa fornecedora do material reiterou o alerta no dia 1º de julho, data em que foi feito boletim de ocorrência.

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No entanto, somente na quinta-feira (4), a CNEN publicou uma nota em seu site para comunicar a população do ocorrido, mas a tirou do ar horas depois. Nesta primeira nota de alerta, a Comissão havia explicado que as blindagens de chumbo contidas nas latas impediam a irradiação para o ambiente, mas que a manipulação inadequada do material trazia riscos à saúde.

Em uma segunda nota, publicada na sexta 5 de julho e atualizada no domingo, 7 de julho, a CNEN atribuiu o ocorrido à “imprudência do motorista”, “que decidiu levar o automóvel para local diverso do pátio seguro onde o veículo deveria ficar abrigado durante à noite”.

Violação do material radioativo

Já na sexta-feira, a polícia havia encontrado vazia uma das cinco latas originais, sem a blindagem interna ou a coluna geradora de radioatividade, em terreno no Jardim Iguatemi, zona leste de São Paulo usado para desmanche de veículos. A CNEN informou ter interditado a área no sábado (6) durante 13 horas para monitoramento de radiação, após o qual liberou a área, afirmando que não haveria mais risco de contaminação.

Das cinco latas transportadas, quatro continham invólucros de blindagem de colunas geradoras de molibdênio 99/tecnécio 99m, já utilizadas e inativas, e uma continha coluna geradora de germânio 68/gálio 68, ainda ativa, que seria utilizada em exame diagnóstico por imagem.

No domingo, o governo federal confirmou que nenhuma das colunas geradoras de radioatividade tinha sido encontrada e anunciou que a CNEN publicaria um relatório sobre riscos potenciais para a saúde em caso de manipulação do gerador ativo desaparecido.

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A CNEN também informou que seguiu os protocolos estabelecidos em acordos internacionais e fez informes à Agência Internacional de Energia Atômica e ao Grupo de Trabalho de Combate ao Tráfico Ilícito de material nuclear radioativo do Mercosul.

Comparações com o acidente de Goiânia

O ocorrido em São Paulo levantou comparações, na imprensa e nas redes sociais, com o acidente radioativo com césio-137 ocorrido em Goiânia em 1987. Na ocasião, recipientes contendo materiais radioativos, também de origem médica (originados do Instituto Goiano de Radioterapia), foram desviados, manipulados e tiveram partes igualmente vendidas a uma loja de ferro-velho interessada em reaproveitar o chumbo. O episódio acabou resultando na exposição de um total de 112 mil pessoas aos efeitos da radiação, com 49 hospitalizados e quatro mortes.

No entanto, diferenças entre os materiais radioativos envolvidos impedem uma repetição do acidente de Goiânia. Na última versão da nota pública de sexta-feira, a CNEN tranquilizou a população explicando que o gerador ativo de germânio/gálio desaparecido em São Paulo tinha dose de 27,9 mCi, considerada “muito baixa”, segundo o órgão. O material era destinado a um único exame de cintilografia.

Além disso, como explica a página da CNEN, enquanto o césio-137 (envolvido no acidente de Goiânia) tem meia-vida de 30 anos (indicando um longo tempo até se extinguir a radioatividade do material), os radiofármacos (substâncias inseridas no corpo dos pacientes para a realização de exames, caso do material furtado em São Paulo), “são, em geral, produzidos com radionuclídeos de meia-vida bem curta”, contadas em em dias ou até em minutos.  

Qual é o risco?

A CNEN declarou que o material radioativo furtado em São Paulo representava baixo risco radiológico para a população, enquadrando-o na categoria 4 da Agência Internacional de Energia Atômica, que classifica fontes radioativas em graus de risco entre 1 e 5, onde 1 representa o risco mais elevado.

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Apesar disso, a CNEN justificou as medidas de precaução dizendo que “a manipulação inadequada e de forma constante ainda pode vir a causar danos à saúde do manipulante”. A orientação da CNEN aos cidadãos é de que, caso encontrem o gerador ativo desaparecido, informem o fato ao órgão pelos telefones (21) 98368-0734 ou (21) 98368-0763.

A Gazeta do Povo entrou em contato com a Medical ALD, mas não obteve resposta até o momento de publicação desta reportagem. O espaço segue em aberto.