O temporal que atingiu o Sudeste do país na última quinta-feira provocou atrasos em efeito dominó em diversos aeroportos e escancarou a dificuldade que as empresas aéreas brasileiras têm para driblar adversidades. Todas as companhias domésticas tiveram atrasos superiores a 20% e o caos nos voos da Gol, por exemplo, terminou apenas ontem.
Para especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo, entretanto, a demora em resolver os problemas se deve mais às dificuldades financeiras do mercado da aviação do país do que pela infraestrutura aeroportuária.
Os problemas tiveram início a partir da tarde de quinta-feira, quando o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) já registrava chuva em todas as regiões brasileiras. Os estados do Rio de Janeiro e de São Paulo foram os mais castigados, com ventos superiores a 100 km/h e queda de granizo em algumas cidades. Na noite daquele dia, o temporal fechou os quatro aeroportos das duas capitais e provocou restrições em cinco cidades, inclusive em São José dos Pinhais, onde fica o Aeroporto Afonso Pena.
A maior parte dos problemas foi registrada pela Gol. Até o final da noite de sábado, dia em que ocorreram os maiores transtornos, o índice de atrasos e cancelamentos no país chegou a 29,6% e a empresa foi responsável por 75% deles (433 voos).
Críticas
Diante do caos, o ministro da Aviação Civil se pronunciou e não poupou críticas à companhia aérea. "Nós vamos ter que conviver com problemas climáticos, isso não dá para mudar. Agora, dá para mudar o fato de passar três dias sem responder o impacto de um problema climático grave. Foi muito demorado, não dá para ter reação lenta", afirmou o ministro Moreira Franco.
Ontem, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) consumou as críticas do ministro ao anunciar uma multa milionária à Gol. A punição é calculada com base nos autos de infração recebidos pelo órgão e, até ontem, já superava a casa dos R$ 2,5 milhões. Para a agência reguladora, a empresa não conseguiu normalizar suas operações com a mesma agilidade de outras companhias por uma falha no gerenciamento da tripulação.
Para o comandante Francisco Lyra, entretanto, a demora no retorno da normalidade foi causada pelas condições econômicas impostas às empresas aéreas. "Nesses últimos meses, as companhias tiveram de diminuir ofertas de voos e os índices de ocupação subiram. Isso faz, por exemplo, com que você não tenha reserva estratégica para substituir aeronaves retidas por mau tempo", diz o consultor da CFly Aviation e ex-presidente da Associação Brasileira de Aviação Geral.
A Argumentação de Lyra é acompanhada pela do engenheiro civil Meron Kovalchuk. "Ninguém conseguiria evitar atrasos diante de temporais como aquele."
Gol pede desculpas por "desconforto"
Em nota, a Gol pediu desculpas aos passageiros por causa do "desconforto" e disse que "a segurança de seus clientes e colaboradores é item prioritário em sua política de gestão". A empresa afirmou ainda que a situação foi normalizada ontem, quando, até as 18 h, foi registrado índice de 5% de atrasos em seus voos. O porcentual acima de 20%, de acordo com a companhia, foi causado pela fortes chuvas que acometeram a Região Sudeste do país.