Tesla Roadster 100 é vendido por US$ 98 mil nos EUA| Foto: Divulgação/ Tesla Motors

Serviço atende desde solidão até briga de casal

Os orientadores do Disque-Idoso, criado no governo Jaime Lerner e reformulado na gestão de Roberto Requião, atendem cerca de 4 mil telefonemas por ano. Na maioria, são pedidos de informações sobre direitos e locais onde obter serviços. Um terço das ligações é de denúncias e reclamações. Umas poucas são de elogios. E algumas saem do escopo previsto originalmente pelo projeto.

"Há idosos que ligam até para não ficarem sozinhos, para ter com quem conversar", afirma Schirley Terezinha Follador Scremin, responsável pelo serviço. Segundo ela, nesses casos o orientador ouve quem está do outro lado da linha com toda a paciência. Uma das orientadoras já chegou a ficar mais de uma hora e meia falando com uma única pessoa. Se a situação for de depressão, a orientação é de encaminhamento para o Centro de Valorização da Vida, especializado nesse tipo de questão.

Os orientadores contam que também há quem ligue para resolver problemas de casal. "Um deles pega o telefone e fica falando com a gente sobre a situação", conta Schirley. Depois, segundo ela, é a vez de o outro pegar o telefone e contar a sua versão dos fatos. Embora a idéia do serviço não seja resolver esse tipo de situação, os funcionários não se negam a ouvir os idosos. (RWG)

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Como se não bastassem os problemas que a idade traz, as próprias famílias se encarregam de causar mais transtornos para os idosos. É o que mostra um relatório elaborado pelo governo do estado, com base nos dados de um serviço especializado no atendimento de pessoas de terceira idade – o Disque-Idoso. Em 2006, o maior número de denúncias, disparado, foi relativo a maus-tratos – e boa parte com origem dentro de casa.

A relação de abusos denunciados ao Disque-Idoso inclui de tudo um pouco (leia quadro ao lado). As mais freqüentes dizem respeito a agressões verbais, psicológicas e negligência por parte das pessoas que supostamente deveriam cuidar deles. Mas também há denúncias de gente que tomou o cartão da aposentadoria e não devolveu mais, maus-tratos em casas de repouso, agressões físicas, cárcere privado e até mesmo casos de assédio sexual contra senhoras.

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No total, houve 1.169 denúncias por maus-tratos em 2006. Ou seja, perto de 80% do total de denúncias e reclamações apresentadas ao serviço. "Nossa primeira tentativa é encaminhar o caso para o município de onde a pessoa ligou", afirma Schirley Terezinha Follador Scremin, responsável pelo Disque-Idoso desde 2003. Ela conta, porém, que às vezes a situação é emergencial e exige atitudes mais drásticas, como chamar a polícia imediatamente.

"Já houve um caso em que eu podia ouvir a neta maltratando o idoso enquanto ele falava comigo. Chamei a polícia", conta ela. A moça, que tinha 17 anos, foi chamada à delegacia. "Disseram que iam dar uma nova chance a ela, até por ser menor de idade. Mas avisaram que se ela continuasse se comportando daquele jeito, podia até ir presa. Depois de um tempo, falamos de novo com o senhor que havia ligado e ele disse que a situação havia melhorado muito", conta Schirley.

A família está envolvida em grande parte dos casos de maus-tratos, especialmente os filhos. É o caso de W.R., uma senhora de 75 anos. Ela teve de ir à Justiça para pedir que sua interdição judicial, obtida pelo filho, fosse cancelada. "Eu estou bem, não preciso ser interditada", diz ela. A interdição judicial é usada quando a pessoa não tem mais como tomar decisões sozinha. Não tem como saber o valor do dinheiro, por exemplo. Nesses casos, o interditado não pode mais governar sua vida financeira, que fica a cargo de outra pessoa.

Mas não é só de maus-tratos que os velhinhos e velhinhas se queixam. Serviços públicos – especialmente na área da saúde – e falta de respeito aos direitos dos idosos também estão na lista de reclamações. Cerca de 7% das denúncias tiveram a ver com saúde. Eles afirmam que os governos – federal, estadual e prefeituras – não fazem tudo o que deviam pelos mais velhos.

Em 2006, também houve 104 denúncias contra órgãos públicos e privados que não teriam respeitado os direitos previstos no Estatuto do Idoso. Nos bancos e lotéricas, por exemplo, um dos motivos de queixa é a falta de atendimento preferencial. Ao invés de chamar primeiro os idosos, é comum que se crie uma fila paralela para "atendimento prioritário". E às vezes essa fila é mais lenta do que as outras. "O que o Estatuto do Idoso determina é o atendimento prioritário. Chegou, pode passar para primeiro da fila", explica Schirley. Deveria ser assim também no ponto de ônibus ou na estaçã-tubo no momento do embarque no coletivo, mas não é o que ocorre.

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Seu Urandy Ribeiro do Val, de 72 anos, é um dos que costuma usar o serviço para reclamar quando não tem seus direitos atendidos. É um dos clientes mais tradicionais do Disque-Idoso. "Estou aposentado e hoje trabalho para divulgar os direitos e esse tipo de serviço", afirma ele. Seu Urandy acredita que as autoridades não estão preparadas para atender os direitos dos idosos hoje. E acha que os próprios cidadãos não estão preparados para cobrar. "As pessoas não conhecem seus direitos", diz ele.

Seu Urandy é o oposto disso. Vai aos órgãos públicos, deixa sugestões na Câmara Municipal, na Assembléia Legislativa. Não participa de nenhuma associação, já que, segundo ele, quer ter idéias próprias. Mas reivindica tudo aquilo que considera justo. "Tem que haver bom senso", sentencia.

A boa notícia, de acordo com o Ministério Público, é que há cada vez mais gente como seu Urandy. "O número de idosos que nos procura para garantir seus direitos cresce diariamente", afirma a promotora de Justiça Terezinha Resende Carula, do Centro de Apoio Operacional às Promotorias de Defesa dos Direitos dos Idosos. Segundo ela, a violência, os conflitos de família e a negligência são os problemas mais comuns relatados ao Ministério Público.

Serviço: O Disque-Idoso atende pelo número 0800-410001.