UNE defende bolsa para estudante
O presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Augusto Chagas, considerou "descabida" a decisão da Uniban de expulsar a aluna Geisy Arruda. De acordo com ele, a atitude criminaliza a vítima. "É como nos casos em que se responsabiliza a vítima de um assalto por estar segurando a carteira, ou se diz que uma mulher é culpada quando sofre um assédio ou abuso por causa da sua roupa. Isso nos parece lamentável."
A UNE, segundo Chagas, vai chamar a atenção de outras instituições para que recebam a aluna, se for o caso, inclusive oferecendo bolsa de estudo a ela. "Não podemos permitir que ela interrompa sua trajetória escolar por causa disso."
Ele demonstrou ainda preocupação com a possibilidade de o caso gerar reações negativas quanto à organização coletiva de estudantes. Segundo o presidente da UNE, a falta de espaço de mobilização dos alunos para assuntos importantes da vida acadêmica é um dos fatores que propiciam esse tipo de interação não saudável.
O advogado da estudante expulsa, Nehemias Melo, se disse "perplexo" e "atordoado" com a decisão da universidade e contou que estuda a possibilidade de entrar com um recurso contestando a decisão. Ele afirmou que ainda não foi notificado pela universidade a respeito da expulsão de sua cliente. "Fui informado pela imprensa. Lendo a nota, fiquei perplexo. Estou atordoado", afirmou.
Folhapress
O Ministério da Educação vai pedir explicações à Universidade Bandeirante (Uniban), de São Bernardo do Campo (SP), sobre a expulsão da estudante Geisy Arruda, ameaçada de agressão por colegas depois de ir à faculdade com um vestido curto. A secretária de Ensino Superior do MEC, Maria Paula Dallari, disse que a instituição será notificada oficialmente nesta semana.
"Uma universidade tem uma obrigação educacional que precisa estar presente em todos os momentos. É um local não apenas de convivência, mas de formação de valores. Esse caso me parece ter um forte caráter de gênero", afirmou Maria Paula.
Ela alerta que duas coisas chamam a atenção na decisão tomada pela instituição. A primeira é a qualificação da atitude da aluna, que revela preconceito de gênero. Na explicação para a expulsão, a instituição alega que a estudante usava roupas curtas e tinha atitudes provocativas, o que teria resultado em uma "reação coletiva de defesa do ambiente escolar".
O segundo ponto que causa estranheza no ministério é o fato de haver diferentes tipos de punição: a expulsão de Geisy, vítima das agressões, e apenas uma suspensão dos estudantes que provocaram o tumulto.
O caso
Geisy sofreu assédio coletivo e ameaças de agressão no dia 22 de outubro, ao ir para a faculdade de turismo da Uniban, onde estudava, usando um vestido rosa curto. A polícia teve de ser chamada e a estudante foi escoltada para fora da escola sob gritos e ameaças.
Sábado, depois de concluir uma sindicância interna, a direção da faculdade publicou uma nota informando a expulsão de Geisy e a suspensão dos alunos que iniciaram o tumulto. A alegação foi de que a estudante "teve uma postura incompatível com o ambiente da universidade, frequentando as dependências da unidade em trajes inadequados". Além disso, teria provocado os colegas ao fazer um percurso maior que o habitual, "desrespeitando princípios éticos, a dignidade acadêmica e a moralidade".
O advogado da reitoria da Uniban, Décio Lencioni Machado, disse ontem que o simples uso da minissaia não foi o motivo da expulsão, mas a postura dela. Segundo ele,após o depoimento de alunos, fiscais e até professores, a conclusão foi de que Geisy encurtou mais o vestido para que os alunos vissem "suas partes íntimas". Machado garantiu que a expulsão é irrevogável.
Repercussão
A ministra Nilcéa Freire, da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, também vai cobrar explicações da Uniban. Ela condenou a decisão de expulsar a universitária e disse que a atitude da escola demonstra "absoluta intolerância e discriminação". "Isso é um absurdo. A estudante passou de vítima a ré. Se a universidade acha que deve estabelecer padrões de vestimenta adequados, deve avisar a seus alunos claramente quais são esses padrões."
A socióloga e diretora do Instituto Patrícia Galvão, Fátima Pacheco, discordou da decisão e questionou o argumento da universidade de que a aluna "teria tido uma postura incompatível com o ambiente acadêmico". "Ela não infringiu nada. Ela estava vestida do jeito que gosta, da maneira que acha adequada para seu o corpo e a interpretação do abuso é uma interpretação que não tem sentido", disse Patrícia. "Não se faz isso com rapazes sem camisa ou com cueca para fora", completou a socióloga.
O Movimento Feminista de São Paulo prepara manifestação para hoje em frente à Uniban. Na convocação, o movimento pede que as manifestantes compareçam usando minissaias ou vestidos curtos.
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