A médica Virgínia Helena Soares de Souza, denunciada sob acusação de provocar a morte de pacientes numa UTI do Paraná, afirmou nesta quarta-feira (29) que só voltará à medicina se for em cargos burocráticos.
"[Se eu voltar], preciso ir para uma área burocrática, que eu acho melhor. Porque os olhos de uma família são muito importantes, e a confiança na relação médico-paciente é muito importante", disse ela à rádio BandNews de Curitiba.
Virgínia, que foi chefe da UTI do Hospital Evangélico de Curitiba por sete anos, fez as declarações na saída do Tribunal de Justiça do Paraná, onde esteve para sua apresentação mensal de rotina.
Desde que foi presa no decorrer das investigações, em fevereiro, a médica foi afastada de suas funções no hospital e, hoje, permanece reclusa em casa. Fala com poucos amigos, não sai "nem para ir à padaria", segundo seus advogados, e não costuma dar entrevistas.
Ela e outros sete ex-profissionais do hospital são réus por sete homicídios, num processo que corre sob sigilo. Outras 334 mortes estão sob investigação do Ministério Público.
A médica também afirmou que "a verdade vai aparecer". "É difícil você enfrentar uma situação dessas. Foram 31 anos de exercício médico sem nenhum processo ético, profissional. Mas [estou] aguardando a verdade e confiando na Justiça", declarou.
Denúncia
Segundo a Promotoria, a ex-chefe da UTI ordenava a aplicação de bloqueadores neuromusculares ou anestésicos nos pacientes, e então diminuía a quantidade de oxigênio nos respiradores ligados às vítimas, provocando a morte por asfixia, para fazer "girar" os leitos.
A denúncia afirma que todos esses passos estão registrados nos prontuários médicos e em desacordo com os protocolos a serem seguidos clinicamente.
Para a defesa, todos os procedimentos adotados se fundamentam na literatura médica. "Isso faz parte do procedimento médico de UTI", disse Virgínia hoje à BandNews.