Responsável pela identificação do zika vírus em dois embriões com microcefalia, a médica Adriana Melo defendeu na quinta-feira (25), a mudança na classificação da doença. Ela afirma haver casos de crianças que nascem com perímetro cefálico igual ou superior a 32 centímetros, mas com problemas importantes na estrutura do cérebro. “Esses bebês apresentam também edemas, algo que acaba impedindo a identificação da má-formação”, assegura.
Diante desse problema, afirma, há casos que passam despercebidos por autoridades de saúde. “Essas crianças, sem diagnóstico, acabam ficando sem tratamento”, completou. Para ela, o ideal seria associar outros critérios para se fazer o diagnóstico. Uma das ferramentas consideradas essenciais, completou, seria exames ainda durante a gestação. “Um ultrassom bem feito pode identificar problemas tão bem quanto outros exames de imagem, feitos depois do nascimento.”
Falha possível
O diretor do Departamento de Vigilância de Doenças Transmissíveis do Ministério da Saúde, Cláudio Maierovitch, admitiu que a falha pode acontecer. “Há casos em que o perímetro cefálico é normal e a criança tem microcefalia”, disse. Segundo ele, a pasta mantém diálogo com especialistas do setor e cogita a possibilidade de se alterar o nome da doença para síndrome da zika congênita.
“Isso é possível, mas não seria feito neste primeiro momento”, disse. Como se trata de um problema novo para a ciência, descobertas são feitas em velocidade rápida. “Mas é preciso avaliar os dados e evitar mudanças a todo instante, para evitar confusão.”
Maierovitch reconheceu que, com critérios atuais, há um risco de se perder diagnóstico de parte dos pacientes. Ele diz, no entanto, não haver um critério livre de erros. “No início da epidemia, optamos por fazer um critério mais amplo, a medida de 33 centímetros. Isso permitia identificar um número maior de crianças, mas trazia um problema: grande parte não apresentava a doença, algo que acabava superdimensionando os primeiros indicadores.”
Convidada a contar sobre sua experiência durante audiência no Senado, Adriana arrancou aplausos quando falou sobre as dificuldades que sente ao trabalhar às sextas-feiras, dia dedicado a fazer o diagnóstico de bebês com microcefalia em Campina Grande, onde mora e trabalha. “Quando chego, pacientes estão ansiosos. A cada resultado negativo para microcefalia, é uma alegria para equipe, para família. Por outro lado, há grande dificuldade ao comunicar resultados positivos”, completou.
Três anos
A médica, que teve o trabalho homenageado na quinta-feira, também em uma sessão da Assembleia Legislativa da Paraíba, avalia que essa rotina deverá acompanhá-la por, pelo menos, três anos, quando calcula que o número de casos deverá começar a retroceder. “Acho importante se pensar na vacina. Mas, mais do que isso, no combate ao mosquito.”
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