O médico Heverton Octacílio de Campos Menezes, acusado de cometer injúria difamatória no último domingo (29), quando teria agredido verbalmente uma funcionária negra de um cinema em Brasília, prestou depoimento na Polícia Civil nesta sexta-feira (4). Após cerca de uma hora, ele saiu da delegacia e leu um comunicado à imprensa, pedindo desculpas à bilheteira Marina Serafim dos Reis. Mas, quando questionado se com o pedido de desculpa ele reconhecia ter cometido um ato racista, o médico preferiu não falar a respeito, dizendo que já tinha dado todas as explicações. "O press release (comunicado à imprensa) diz tudo", afirmou.

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No comunicado, ele diz ser "um médico dedicado integralmente à assistência de todas as nacionalidades e classes sociais", que sempre teve respeito e consideração por todas as etnias e que é contrário a qualquer tipo de discriminação.

O delegado responsável pelo caso, Marco Antônio de Almeida, afirmou depois que o médico não respondeu às perguntas feitas pela polícia, o que está dentro dos direitos constitucionais dele. Segundo o delegago, Heverton se limitou a entregar o comunicado que foi divulgado à imprensa. Mas garantiu que as provas são muito fortes e que agora resta apenas produzir um relatório sobre o caso, que será encaminhado à Justiça.

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"Essa foi a maneira que ele encontrou para se defender. Ele não quis responder as perguntas por razões de foro íntimo dele ou por uma questão de melhor estratégia de defesa. Porém as provas são muito robustas, são muito coesas. Não há necessidade de nenhuma informação que ele tenha que nos prestar para chegar à conclusão de que ele praticou sim essas ofensas verbais referentes à raça e à cor da vítima", disse o delegado.

Nesta sexta, antes de ler o pedido de desculpas, Heverton listou um extenso rol de pessoas a quem se dirigia o comunicado. E ainda reclamou dos microfones da imprensa. "Os microfones não estão deixando eu ler o texto, o comunicado. Eu quero ler aqui um comunicado de desculpas públicas. Caras senhoras, senhores, representantes dos direitos humanos que estiverem aqui presentes, dos direitos dos afro-descendentes, homossexuais e minorias oprimidas. E também me dirijo à imprensa local, à imprensa nacional e à imprensa internacional. Quero dizer que este foi escrito com os sentimentos mais íntimos, com o meu ser, as mais profundas convicções, poderia dizer: escrito com meu próprio sangue", afirmou o médico. "Em relação aos afro-descendentes, manifesto o meu profundo carinho e respeito, seja no Brasil ou na África, onde trabalhei em missão médica durante um ano da minha carreira".

Na quarta-feira (2), o médico havia negado ter ofendido a bilheteira. Na ocasião, ele disse que chamou a vendedora de descortês e que a reação dela e dos demais clientes na fila do cinema era "coisa do imaginário".