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Pandemia

“Médico brasileiro não precisa de tutor”, diz presidente do CFM

O presidente do Conselho Federal de Medicina, Mauro Ribeiro
O presidente do Conselho Federal de Medicina, Mauro Ribeiro. (Foto: Roque de Sá/Agência Senado)

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Autoridades públicas e formadores de opinião têm feito ataques ao Conselho Federal de Medicina (CFM) por sua relutância em aderir ao consenso politicamente correto da pandemia da Covid-19, que envolve questões como o tratamento precoce e a obrigatoriedade da vacinação.

No centro do alvo está Mauro Ribeiro, presidente do CFM, que tem suportado os ataques sem fazer concessões. “O médico brasileiro não precisa de nenhum tutor, não. O médico brasileiro sabe tratar o paciente dele. Ele não precisa que jornalistas, políticos, defensores públicos, ninguém, nem entidades médicas, digam para ele o que fazer”, afirma, em entrevista à Gazeta do Povo.

Nas últimas semanas, o conselho e seu presidente viraram alvos de inquéritos da CPI da Covid e do Ministério Público Federal (MPF) de São Paulo, além de uma ação civil pública da Defensoria Pública da União (DPU). Ribeiro diz que o ataque é orquestrado, mas que está tranquilo.

“Disseram que iam entrar com uma ação para me remover da presidência do CFM. Isso está tudo dentro da democracia, é legítimo, não tem nenhum problema. Vamos nos defender”, afirma.

Mesmo que a tentativa de removê-lo da presidência avance, o CFM deverá manter sua posição em relação ao tratamento precoce – conferindo aos médicos a decisão de usar ou não medicamentos cuja eficácia contra a Covid-19 ainda está sendo estudada. Isso porque, segundo Ribeiro, qualquer um de seus potenciais substitutos continuaria defendendo a autonomia médica.

“Aqui no Conselho Federal de Medicina nós somos 56 conselheiros: 28 titulares e 28 suplentes. Em termos de viés político, formação, você tem de tudo aqui – gente de centro, de direita, de esquerda. Sabe quantos dos nossos 56 conselheiros são contra nós defendermos a autonomia do médico? Nenhum”, diz.

Leia a entrevista na íntegra:

Ataque contra CFM é orquestrado

"É um ataque orquestrado. Isso não é coincidência. As coisas estão acontecendo aparentemente de maneira aleatória, mas não é assim. Ninguém nasceu ontem para acreditar que tudo o que está acontecendo seja de maneira aleatória. Absolutamente não é.

E por que isso está acontecendo? Porque provavelmente eles querem calar o Conselho Federal de Medicina. Aqui não existe assunto proibido. Aqui nós falamos sobre tudo e temos muita tranquilidade, também, de nos posicionarmos.

O ataque concatenado ao CFM é um ataque à classe médica brasileira. Tanto que nós temos, aqui, dezenas de milhares de manifestações de apoio ao conselho. O que nós defendemos é a autonomia do médico para uma doença que não tem tratamento conhecido. O médico tem autonomia para fazer, junto com seu paciente, dentro das autonomias constitucionais tanto do paciente quanto do médico, de ambos, em comum acordo, estabelecerem qual o tratamento que vai ser feito para o paciente que pegar Covid.

É isso que nós defendemos, só. Agora, uma parte da mídia tem uma narrativa, que também, infelizmente, aconteceu agora na CPI, de arrastar o CFM para uma discussão política, girando em torno da disputa da Presidência da República no ano que vem. Criminalizaram um tratamento médico no momento em que nós, médicos, estamos fazendo o enfrentamento dessa doença terrível".

Autonomia do médico é pilar da medicina

"Como que alguém, em sã consciência, pode questionar a autonomia do médico? Existem dois pilares da Medicina hipocrática: o sigilo médico e autonomia do médico. Aquilo que você, como paciente, fala com o seu médico, vai para o túmulo com ele. E o médico tem que te tratar dentro daquilo que ele julgue que seja o melhor para você. Ele tem que ser autônomo para estabelecer o que é melhor no tratamento do paciente.

Mas não existe limite para a autonomia do médico? Existe limite. Qual é o limite? A lei e a ética. Obrigatoriamente, ele tem que visar a beneficência e jamais a maleficência para seu paciente.

Talvez estejam querendo calar o Conselho Federal de Medicina na criminalização de um tratamento médico que foi discutido na comissão parlamentar de inquérito sem que os médicos fossem ouvidos. Sem que fosse chamada a maior instituição médica do Brasil – a legítima instituição médica do Brasil, que é o Conselho Federal de Medicina, em que todos os médicos brasileiros têm registro.

Pedimos de forma reiterada para irmos na comissão parlamentar. Não nos chamaram. Ainda tenho esperança de ser chamado. E essa minha fala não é uma fala de desafio. É uma fala de muito respeito àquela comissão. Mas nós gostaríamos de nos contrapor a tudo aquilo que foi dito a respeito do Conselho Federal de Medicina, da criminalização de um tratamento".

Médico brasileiro não precisa de tutor

"Essas pessoas que falam isso – determinados jornalistas, políticos, dando aula dizendo que ‘está mais do que estabelecido que tal coisa não tem efeito’ e tudo mais, eles nunca viram um paciente de Covid na vida. Isso é um desrespeito ao médico que está tratando o paciente de Covid.

Eu posso falar de cadeira, porque eu nunca parei de trabalhar. No fim de semana eu estou lá em Campo Grande trabalhando. Essas pessoas nunca viram um paciente na vida. Elas não sabem o drama de receber uma pessoa abalada emocionalmente, desesperada, com medo da morte, porque adquiriu a doença.

Todos estão tentando fazer o melhor para seus pacientes. Os excessos têm sido punidos pelo conselho. São dezenas de sindicâncias abertas de pessoas que se excederam de alguma forma em relação ao tratamento. Agora, tem que se respeitar o médico brasileiro.

O médico brasileiro não precisa de nenhum tutor, não. O médico brasileiro sabe tratar o paciente dele. Ele não precisa que jornalistas, políticos, defensores públicos, ninguém, nem entidades médicas, digam para ele o que fazer".

CFM quer dar respaldo a médicos contrários e favoráveis ao tratamento precoce

"O Conselho Federal de Medicina nunca recomendou nenhum tipo de tratamento para Covid. Nem o tal do tratamento precoce. Nós temos um parecer, que é o nº 4 de 2020, que atribui ao médico e ao paciente a escolha de qual tratamento vai ser feito.

O parecer do Conselho Federal de Medicina dá a garantia ética e legal para quem quer fazer o tratamento precoce, e dá garantia ética e legal para o médico que não quer fazer o tratamento precoce. Porque também existe o contrário. Existem pacientes que querem ser tratados com essas drogas reposicionadas, e o médico não acredita e fala: “Não vou te tratar com essa droga”. O nosso parecer dá respaldo para o médico tanto em uma ponta como na outra".

Discutir segurança de hidroxicloroquina e ivermectina é má-fé ou ignorância

"Qual o tratamento que não é precoce? O paciente pega uma pneumonia, vai ao médico, faz o raio-x da pneumonia… O médico não começa o tratamento do paciente? Para qualquer tipo de doença que o paciente tenha, o tratamento é precoce.

Fala-se sobre hidroxicloroquina e ivermectina criminalizando essas drogas. Se quiser discutir a eficácia da hidroxicloroquina e da ivermectina para o tratamento da Covid, essa discussão é legítima. Porque você tem de tudo na literatura. Tem estudos que mostram eficácia e estudos que não mostram.

Agora, querer discutir a segurança da hidroxicloroquina e da ivermectina, aí ou é má-fé ou é ignorância. Como os médicos brasileiros são bem formados, quem fala isso tem má-fé. A hidroxicloroquina é usada há aproximadamente 70 anos. A ivermectina é usada há 50 anos. São drogas consagradas, utilizadas para tudo. Não matam ninguém. Inventaram uma narrativa de que essas drogas matam.

Quando nós fazemos esse tipo de afirmação de uma forma enfática, nós somos taxados por parte da imprensa e por alguns jornalistas como negacionistas, bolsonaristas, terraplanistas e tudo quanto adjetivo que você puder pensar, no sentido de nos desqualificar".

Conselheiros do CFM são unânimes na defesa da autonomia médica

"Aqui no Conselho Federal de Medicina nós somos 56 conselheiros: 28 titulares e 28 suplentes. Em termos de viés político, formação, você tem de tudo aqui – gente de centro, de direita, de esquerda. Sabe quantos dos nossos 56 conselheiros são contra nós defendermos a autonomia do médico? Nenhum.

É unânime, coisa que rarissimamente acontece no CFM. Como que nós vamos fazer um parecer influenciado por uma política partidária? Isso não existe. Isso é uma insanidade. O Conselho de Medicina tem seus posicionamentos. São posicionamento técnicos".

Como o CFM pretende reagir às investigações abertas

"O Conselho Federal de Medicina está muito tranquilo. Temos o maior respeito pelos defensores públicos, que têm um papel importante na sociedade, e nós vamos nos defender, com a maior tranquilidade possível. Vamos apresentar nossas argumentações ao juízo, assim como vamos nos defender tranquilamente em relação a tudo o que está sendo apontado pela CPI, nos colocando como investigados.

Disseram que iam entrar com uma ação para me remover da presidência do CFM. Isso está tudo dentro da democracia, é legítimo, não tem nenhum problema. Vamos nos defender. Só lamentamos o fato de não termos sido chamados à CPI para colocarmos o posicionamento dos médicos brasileiros em relação a tudo o que está acontecendo na CPI".

CFM recomenda a vacina, mas é contra obrigatoriedade

"Nós somos totalmente favoráveis à vacina. Totalmente favoráveis. É do nosso entendimento que as pessoas devem se vacinar, desde que elas queiram se vacinar. Mas é um direito dela, no estado democrático de direito, falar: “Eu não tenho o vírus. Eu tenho uma boa possibilidade de não pegar o vírus. Eu não quero inocular o vírus no corpo”.

É um direito dela. E cabe a nós do Conselho Federal de Medicina, do Conselho Federal de Enfermagem, aos gestores públicos estaduais e municipais e ao Ministério da Saúde fazermos campanhas de convencimento para que este cidadão se vacine.

Se nós não somos favoráveis à vacinação obrigatória, por óbvio também não somos favoráveis ao tal do passaporte sanitário de vacina.

Para além dos direitos do cidadão no estado democrático de direito, tem uma outra argumentação: as vacinas não são esterilizantes. A pessoa que está vacinada, no caso da Covid, pode adquirir e transmitir a Covid. Qual é o sentido de você ter o passaporte sanitário, se estando vacinado e com o passaporte eu, ainda assim, posso ser contaminado pela doença e transmitir a doença? Qual o sentido que faz isso?

Quando nós colocamos esse tipo de posicionamento, nós somos violentamente atacados por todos, como se fôssemos negacionistas, bolsonaristas… Não somos nada disso. É um posicionamento técnico".

Priorizar vacinação de adolescentes não se justifica

"Quando os Estados Unidos tinha 660 mil mortes, em uma população de 350 milhões de pessoas, 412 eram adolescentes de 12 a 17 anos. A população de adolescentes de 12 a 17 anos nos Estados Unidos é de 74 milhões de pessoas. Então, o índice de letalidade é muito pequeno. Justifica colocar essa população de 12 a 17 anos como população preferencial na vacinação? Não, não justifica.

É melhor nós fazemos a segunda dose para todos os brasileiros que têm um risco maior do que nós vacinarmos os nossos adolescentes, porque o risco é muito baixo. Agora, se formos vacinar, que se vacinem os de 12 a 17 anos que tenham comorbidade.

Agora, vacinar crianças de 3 a 11 anos, quanto a isso nós somos contra. Hoje, não existe segurança suficiente para que crianças de 3 a 11 anos sejam vacinadas contra Covid. Mesmo porque o índice é muito pequeno de contaminação, de morte, enfim… Não tem justificativa nem segurança suficiente para que nós possamos vacinar essas crianças".

Médicos estão sendo pressionados por gestores públicos e formadores de opinião

"Nós, médicos, que estamos à frente no enfrentamento da doença, estamos sendo extremamente pressionados por gestores municipais, gestores estaduais, jornalistas, defensores da União e uma parte pequena do Ministério Público no sentido do médico ser obrigado ou não a realizar o tratamento precoce.

Isso é uma covardia contra o médico brasileiro. É colocar pressão em cima de um profissional que está à frente desse processo, simplesmente tentando fazer o melhor para o seu paciente.

A mensagem que nós temos para o médico brasileiro é a seguinte: exerçam sua profissão na sua plenitude. Faça o melhor pelo seu paciente. Exerçam a sua autonomia profissional dando todas as informações para seu paciente com Covid. Tome a decisão em conjunto com seu paciente sobre qual tratamento vai ser realizado. Não trabalhe com medo. Qual é o limite? É a lei e a ética. Dentro desses parâmetros, trabalhem tranquilos, trabalhem serenos, façam o melhor para o seu paciente. Não se sintam pressionados por ninguém. Deixem que o Conselho Federal de Medicina faça o enfrentamento com todos esses atores da sociedade, em nome dos médicos brasileiros.

Porque, de acordo com a lei, quem dá segurança para o médico prescrever o que ele julga melhor para o seu paciente é o Conselho Federal de Medicina. E nós não vamos nos afastar desse princípio, dessa ordem legal que existe no Brasil. Nós garantimos ao médico brasileiro a sua autonomia. E, de uma forma muito humilde, nós falamos aqui que nós vamos fazer esse enfrentamento com quem quer que seja, em defesa da autonomia do médico brasileiro. Seja (o enfrentamento) com parte da imprensa, seja com procurador, seja com promotor de saúde, seja com o Congresso Nacional, seja com qualquer instância de Justiça. De uma forma humilde, nós colocamos isso, sem nenhuma arrogância, sem nenhuma prepotência.

Quando nós defendemos a autonomia do médico, além de nós estarmos defendendo a medicina, nós estamos defendendo a população brasileira, a sociedade brasileira. É esse o ponto".

Jornalistas não podem dar aula de medicina a médicos

"Eu não tenho a arrogância, a prepotência de sair dando aula de jornalismo. Quem sou eu para dar aula de jornalismo? Mas, por outro lado, como um jornalista pode aparecer numa rede de televisão ou pegar o microfone e querer ensinar para o médico brasileiro o que o médico brasileiro tem que fazer para tratar um paciente com Covid, sendo que essas pessoas nunca se sentaram na frente de um doente?

Eles não sabem qual é o drama de pegar um paciente com Covid, com medo de morrer, desesperado, e você acolher esse paciente, dar segurança, tratar, acompanhar… Muitas vezes o paciente evolui mal, morre, e o médico sofre com isso, o enfermeiro sofre com isso, o fisioterapeuta, o técnico de enfermagem, todos os profissionais envolvidos…

Há pessoas que nunca viram um paciente com Covid na vida querendo dar aula, chamando médicos que tratam na ponta de negacionistas, de terraplanistas, sendo irônicos, se arvorando como os donos da verdade, como os donos do saber. Meu Deus do céu! Onde que está estabelecido na literatura, de forma limpa e cristalina, que a ivermectina não tem ação na Covid? Você tem de tudo. Há trabalhos seríssimos mostrando que não tem ação. E tem bons trabalhos também mostrando que tem ação. É uma droga que não mata, que não tem praticamente efeito colateral. Por que nós não respeitamos o médico que usa a droga e tem bons resultados com a droga?

Eu concordo que os estudos observacionais, dentro da hierarquia das evidências científicas, é dos mais baixos. Agora, nós estamos falando da Covid, uma doença que não tem dois anos. A ciência não deu resposta. Se nós não temos resposta, deixem o médico brasileiro em paz. Parem com narrativas falsas. “Está estabelecido que tal droga é comprovadamente ineficaz.” É mentira!"

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