O cirurgião João Ricardo Ribas Júnior, responsável pela captação de fígados para a equipe do hospital Clementino Fraga Filho e um dos denunciados na operação Fura-Fila, disse nesta quarta-feira (6) que nunca participou de quadrilha para desviar órgão. Ele afirmou ter confiança em que o médico Joaquim Ribeiro Filho, preso pela Polícia Federal na semana passada sob a acusação de desrespeitar a ordem da fila de transplantes (e libertado ontem, dia 5, por habeas-corpus), não cometeu nenhum crime.
"Acredito na inocência do doutor Joaquim. Vai haver uma explicação plausível para cada caso", disse ele. Nesta quarta-feira (6), Ribas Júnior e outros dois médicos da equipe, Samanta Teixeira Basto e Giuliano Ancelmo Bento, fizeram um acordo com o Ministério Público Federal, homologado pelo Juízo da 3ª Vara Federal Criminal, que suspendeu condicionalmente o processo. Ribas Júnior e Samanta terão de doar R$ 10 mil e Bento, R$ 6 mil, à ONG Pró-Criança Cardíaca. Eles não aceitaram fazer delação premiada. "Não tem o que delatar", disse Ribas Júnior.
Para ele, as denúncias surgiram porque existe entre os médicos e os membros da Secretaria Estadual de Saúde e a Central de Transplantes "muita competição e truculência". Mas não quis citar nomes. "Existe uma hostilidade", diz.
Ribas Júnior trabalhou durante sete anos na equipe de Ribeiro Filho, que foi o orientador de sua dissertação de mestrado. Foi o responsável pela captação de um fígado no hospital Copa DOr, que seria o terceiro caso de desvio investigado pelo Ministério Público. Pela denúncia, Ribas Júnior teria falsificado o laudo dizendo que o fígado era "marginal" porque o doador sofrera três paradas cardíacas - essa classificação gera critério de excepcionalidade na lista, já que nem todos aceitam receber esse tipo de órgão. A Central de Transplantes não aceitou o diagnóstico e realizou exame histopatológico do órgão, que revelou sua normalidade.
Ribas Júnior defende-se afirmando que o doador realmente sofreu as três paradas cardíacas e que seria muito arriscado colocá-lo no primeiro da fila: "Quem é topo de lista tem chance grande de amanhã ou depois receber um fígado ideal, o do jovem de 20 anos com traumatismo crânio-encefálico. Não é bom negócio para ele fazer o transplante com um órgão que já não era ideal e ainda sofreu com falta de vascularização."
NOTA - O Grupo Tortura Nunca Mais divulgou nesta quarta (6) nota de apoio a Ribeiro Filho, repudiando o que chamou de "flagrante arbítrio". "Sua prisão ocasionou o desmonte repentino do serviço de transplantes no hospital Clementino Fraga, onde centenas de pacientes esperam por uma chance de vida", diz o texto.
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