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O médico Antonio Pedro Paulo Nuevo Miguel, 64 anos, foi preso ontem acusado de comandar em Curitiba e outras cidades um suposto esquema de venda de receitas de remédios manipulados de emagrecimento. A suspeita é de que Miguel não só vendia as receitas a R$ 25, como receitava doses maiores para viciar pacientes.

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Além do médico, que é pré-candidato a deputado federal pelo Partido Verde (PV), foram presos o proprietário da farmácia Floracell, D.M.D., 25 anos, que suspeita-se ser sobrinho de Miguel, e duas secretárias do médico. Três pessoas estão foragidas. A polícia suspeita que o esquema tenha rendido cerca de R$ 4 milhões por ano ao grupo. Os presos responderão por tráfico e associação para o tráfico de drogas.

Em depoimento no Núcleo de Repressão aos Crimes Contra a Saúde (Nucrisa), o médico, formado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) em 1972, confessou a venda de receitas, mas negou que a medicação prescrita cause dependência. No consultório, que ocupava todo o 16.º andar do Edifício Asa, no Centro de Curitiba, a polícia apreendeu milhares de fichas de atendimento médicos.

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Após a consulta, Miguel indicava a farmácia de manipulação Floracell, também no Centro da cidade. O médico encaminhava um fax diretamente à farmácia. Em depoimento, o proprietário confirmou que a farmácia manipulava e vendia por cerca de R$ 80 a medicação. Entretanto, nega que a manipulação fosse irregular. Quanto à entrega, D.M.D. afirmou desconhecer o processo.

Miguel recebia em média 80 pacientes por dia. Só em novembro, o médico prescreveu quatro mil receitas. Além da capital, Miguel exercia a prática em Guarapuava, Ponta Grossa, Palmeira e Pato Branco.

O secretário estadual de Organização do Partido Verde, Aloísio Justino do Nascimento, informa que o partido não vai tomar nenhuma decisão antes da apuração dos fatos. "Um eventual processo de desfiliação dará a ele amplo direito de defesa e a decisão será tomada pela executiva estadual do partido", informa. Na farmácia Floracell, ninguém quis comentar a prisão do proprietário.

Antecedentes

O presidente do Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR), Hélcio Soares, lastimou o esquema. "A prática vai de desencontro com o trabalho do bom profissional", critica. O presidente disse ainda que o CRM pode tomar uma conduta imediata já na segunda-feira, que seria o impedimento ético temporário do exercício da profissão do médico.

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Ainda segundo Soares, o CRM tem registro de cinco a dez processos éticos contra o Miguel, dos quais dois o médico já foi condenado. O mais recente aconteceu nesse ano, quando o médico foi condenado por distribuir calendários com teor pornográfico a pacientes - no consultório, a polícia encontrou canecas em forma de pênis e seios, que também seriam distribuídos.