O médico usou quatro imagens e afirmou que se tratavam de bebês internados em UTIs e “diagnosticados com Covid-19”; ele admitiu o erro| Foto: Reprodução/X
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Uma postagem sensacionalista divulgada pelo médico e influenciador Bruno Gino nas redes sociais esta semana potencializou o debate a respeito da vacinação de bebês contra Covid. “Estas são fotos reais de crianças menores de dois anos de idade, internadas em UTIs em estado grave e diagnosticados com Covid-19!” escreveu o clínico geral do Ceará ao mostrar quatro imagens de bebês entubados. “Não vacinar é deixar morrer... o plano é matar todas as crianças?”, questionou na publicação.

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Na mesma postagem, ele também criticou o deputado federal Nikolas Ferreira, contrário à inclusão da vacina no Programa Nacional de Imunização (PNI) para crianças de seis meses a cinco anos. O parlamentar rapidamente respondeu o influenciador apontando que uma das imagens citadas pelo médico é de 2018, dois anos antes da pandemia. “Além de tirânicos, são mentirosos e divulgadores de fake news”, afirmou Nikolas.

A Gazeta do Povo localizou a foto em diversos bancos de imagem com descrição referente à hiperbilirrubinemia, problema de saúde que interfere no sangue do bebê e que não tem nenhuma ligação com Covid.

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A descrição da imagem é referente à hiperbilirrubinemia, problema de saúde que interfere no sangue do bebê e que não tem nenhuma ligação com Covid. Foto: Reprodução

O médico admitiu seu erro em nova postagem ao afirmar que havia se enganado e que “o mesmo vírus de 2020” ainda estaria “matando crianças em 2023”. No entanto, as outras fotos apresentadas por ele na primeira publicação foram tiradas durante a pandemia — nenhuma recentemente — e uma delas, inclusive, ilustrou reportagem do jornal O Globo de agosto de 2020, quando o veículo afirmou que “casos graves de Covid-19 em crianças são raros”.

Para o médico infectologista Francisco Eduardo Cardoso, isso evidencia que “não há necessidade de vacinar crianças”, pois esse grupo é o menos afetado pela doença e nem a Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica a faixa etária como grupo de risco.

“No próprio Boletim Epidemiológico 152, que o Ministério da Saúde usou como referência para justificar essa arbitrariedade, está escrito que apenas 120 crianças e jovens de 0 a 19 anos foram diagnosticadas com Covid-19 entre junho e julho deste ano”, afirmando ainda que os casos não caracterizam urgência. “Eles mesmos deram as referências para combater seus argumentos”, disse o infectologista.

Casos de Covid-19, segundo o Ministério da Saúde

Além disso, de acordo com o informativo online do Governo Federal que disponibiliza dados da doença no Brasil, na semana do dia 4 de novembro de 2023 – a mais recente divulgada no painel —, foram notificados 44.412 novos casos de Covid-19 no país com registro de 178 mortes.

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“Ou seja, um óbito a cada 250 notificações, considerando que esse óbito seja mesmo em decorrência do Covid, [e não de outras doenças associadas]”, informou um matemático consultado pela Gazeta do Povo.

Segundo ele, a taxa de mortes desta semana foi de 0,4% e engloba todas as notificações de adultos, crianças, idosos e pessoas com comorbidade, sem detalhar quais foram vacinadas, ou não.

“Lembrando que, em 2020, tivemos 700 mil casos [da doença] e 1,5 milhão de casos em 2021, mesmo com a vacinação crescendo”, pontuou o infectologista Francisco Eduardo Cardoso, ao informar ainda que existem diversos riscos — já apontados em reportagem da Gazeta do Povo — sobre a administração da vacina da Covid-19.

Dados a respeito de crianças infectadas

Em nota enviada à Gazeta do Povo por e-mail, o Ministério da Saúde informou que "as crianças não estão isentas das formas graves da doença, como a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) e a Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (SIM-P)" e que, "entre janeiro e agosto de 2023, foram registrados 3.441 casos e 84 óbitos de SRAG por Covid-19 na população menor de um ano de idade". A pasta não informou quais estavam vacinados e nem se tinham outras doenças associadas.

O Ministério informou ainda que a partir de 2024 "as vacinas contra Covid-19 serão incluídas no Calendário Nacional de Vacinação de rotina dos estados e municípios com prioridade para a imunização", e que também serão incluídos grupos com maior risco de desenvolver formas graves da doença, como idosos, imunocomprometidos, gestantes e puérperas.

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O infectologista Francisco Cardoso critica a inclusão no Programa Nacional de Imunização (PNI) — que conta com vacinas tradicionais e de eficiência comprovada — e pontua que os pais devem decidir especificamente a respeito da vacina de Covid, considerando riscos e benefícios. “É importante conversar com o pediatra, levando em conta a individualidades de cada criança”, finaliza.

A Gazeta do Povo também tentou contato com o médico Bruno Gino no telefone disponibilizado em suas redes sociais, mas a reportagem não foi atendida.